29 August 2009

As pedras também mudam

Na viagem, 12 horas depois, estava eu, sonolenta e enroscada na poltrona, desejando dormir mais um pouco. O problema é que eu já estava em Bom Jesus da Lapa, e foi assim,  que tive que descer, meio a contragosto! Logo na saída, fui informada que eu poderia ir a pé, da rodoviária ao hotel. E, parecendo uma romeira, com todo o respeito, segui arrastando minha mala, notebook, bolsa e meu travesseiro, o companheiro fiel.

Ainda obediente, cheguei até a porta de vidro, da qual saiu gentilmente um senhor para me socorrer... O dito ajudante estava descalço, literalmente com os pés no chão de piso frio, as seis da matina. Eu não consegui olhar para nenhum outro lugar, porque os pés dele, grandes, largos e feios me causaram uma imensa vontade de rir. Esquisitices, literalmente na porta de chegada... O que será que ainda me aguarda, nesse lugar?

Que venham as surpresas! Quando decidi escrever sobre minhas viagens, não me imaginei comentando sobre pontos turísticos, diferenças regionais ou interestaduais... Essas coisas que guias adoram revelar, como se fossem grandes novidades! Pelo contrário, observo e me envolvo com outras coisas, e o que me chama atenção vejo que pouca gente pára para observar ou nunca pensaria em escrever sobre.

Aqui nesta cidade que tem muita pedra bicuda, parecendo aquelas esculturas feitas com vela derretida em árvores de natal brasileiras, sabe? Tudo é muito singular. Os romeiros são visitantes vindos de vários locais: curiosos, devotos, ricos e pobres.

No almoço, num restaurante com espaço novo, que eu já tinha me deliciado no antigo, uma conhecida me confirmou que pode ser considerada uma atração turística, a maioria de turistas muito ligados à religião, com promessas a pagar. Perguntei se ela costuma prestigiar uma procissão, então para me responder, pensou um pouco e se lembrou que gosta de olhar bem de longe, pois na última que participou, quase morre de falta de ar, tamanha a quantidade de gente pelas ruas, na romaria.

Do meu ponto de vista, é preciso ser muito fiel à fé que os move até aqui. Porque o calor é de enlouquecer, e nunca vi tanta salsa reunida num prato só. Curiosidade para meus amigos do sul: o coentro nem existe na culinária desse pedaço de sertão, acreditam nisso?

Mas nem tudo são cactus por aqui. A hospitalidade é genuína. O carinho que recebo da minha turma de Psicopedagogia, na reta final do estágio que supervisiono, é reconfortante e a preocupação com a qualidade das escolas públicas me faz acreditar que fé misturada com empenho, promove muita mudança boa, e para eles, já que não trocam a Lapa por nenhum outro lugar.

Amanhã quero passear pelas grutas à tarde, me despedir de todos, já satisfeita com os resultados positivos que de alguma forma influenciei.

E, por aqui, pelo jeito, o sertão não vai virar mar. Quem sabe um rio, com novas águas? Aposto que sim.

4 comments:

  1. Bom saber como está a Lapa de Bom Jesus hoje,fui como "romeira" quando menina(faz um tempinho....)era muito suja e , os seus frequentadores,muito pobres, mas a fé que os movia era visível e irradiava alegria e esperança...nunca esqueci aquela viagem.Gostei de ler seu relato e me recordar da velha Lapa.

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  2. Ah...vale a pena visitar novamente. A cidade cresceu e ganhou ares de cidade turística mesmo. E muito mais limpa, toda asfaltada...sinto falta do cinema por lá. Conto mais pessoalmente, viu Tia?

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  3. Mana...virando romeira?!
    Do jeito q és mistica,quem sabe?rsrs
    Acho que na nossa infância,painho tb se arriscou em nos conduzir atá lá..
    Me lembro que senti muito "medo" das grutas...eu e os meus medos!!
    Bjss ...esse travesseiro...(não é o da nasa??rsrs)

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  4. AMIGA... VC ESCREVE PRA CARAMBA...RS!!! AMEI SEU BLOG!!! NOSSA... SÓ ASSIM MUITAS PESSOAS TERÃO A OPORTUNIDADE DE CONHECER MELHOR ESSA SUA MENTE LINDA E DIVERTIDA !!! TE AMO !!! VAL

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