26 September 2009

A base de tudo

Quando iniciei essa minha trajetória para escrever e descrever sobre as minhas viagens, não imaginava que isso fosse se transformar em compulsão, muito menos que eu fosse torcer para acordar ou finalizar um dia, com inspiração suficiente para mais uma narrativa.
Nesse processo, me dei conta de que demorei para me inspirar para narrar a minha impressão sobre o Acre, o lugar mais diferente onde já estive, por duas vezes consecutivas, sempre no natal, que resultaram em momentos felizes, regados a amor e muita emoção.
A chegada, indescritível. A partida, ao contrário, sempre insuportável, em função de novas despedidas repletas de abraços apertados, lágrimas, soluços sem fim.

Na primeira viagem, após uma média de 6h de vôo, intercalando Salvador, Brasília e Rio Branco, finalmente cheguei em solo acreano, num aeroporto pequeno, que em breve nem terá como comportar a imensa comitiva da minha família.

Aliás, eles só faltam enfeitar o saguão com um belo tapete vermelho, flores e uma bandinha, tamanha a alegria em receber quem vem da Bahia para matar a saudade dos 36 que já somamos, nessa comunidade baiana no Acre.

RB, como é apelidada a capital, é uma típica cidade do interior.Explico. Não se parece com uma metrópole dessas com muitos prédios, dúzias de shopping centers e engarrafamentos insuportáveis. Uma sorte pra eles. O trânsito porém, é sempre um caos. São muitos os cruzamentos entre ruas e avenidas e todos parecem ter muita pressa ao dirigirem.

Claro que para eu me sentir em 'casa', tive logo que me apossar do carro do meu Mano Deca. E foi muito legal dirigir e curtir meus sobrinhos me guiando, me ensinando como encontrar a casa de cada um dos irmãos, depois a loja mais cobiçada, com descontos de 60% no estoque. Tudo muito rápido e engraçado. Uma diversão maravilhosa.

Exceto o sol que é escaldante a maior parte do tempo, o que faz banho de piscina ser luxo necessário para se viver bem, RB é tranqüila, agradável, arborizada e com um climinha constante e gostoso de família reunida. É que estou falando do meu núcleo familiar, já tão extenso: minha mãezinha, manos, sobrinhos, cunhadas, tios e tias, primos de primeiro, segundo e terceiro graus. Tenho até um suposto afilhado, que de tão cheiroso que é, sinto seu cheiro a 2.500km, distância entre meu canto do nordeste e a terrinha de Chico Mendes.

Além das comilanças de todos os dias, almoços, jantares e reuniões familiares, dormi sempre 2h mais tarde, me descontrolei com o fuso, mas sempre em paz, reconfortada, assistindo o Rei Roberto Carlos cantar suas canções eternas, jogar rosas para a plateia e mais uma vez me emocionar com a música "como é grande o meu amor por você". Onde quer que minha Vozinha esteja, sei que escuta essa música símbolo, e sente que estamos morrendo de saudades, de tudo que havia nela.

E assistir ao show mais esperado do final de ano (!), de mãos dadas com minha mãezinha, após um 'te amo' baixinho que ela faz questão de me dizer, toda vez que me dá boa noite, isso tudo junto, me faz crer que vale muito a pena enfrentar o cansaço da viagem, a chatice do avião que me põe louca com a dor no ouvido, e o esforço para estar lá. É um reencontro vital, perfeito, muito bom de se viver e repetir.

Novas lágrimas. Deve ser por isso que demorei para registrar essas idas para RB...é muito difícil estar a maior parte do tempo tão longe, fisicamente. Muito complicado viver nesse mundo cão sem ter ela e meus manos para me dizerem verdades, para sorrirmos juntos, e nos olharmos nos olhos, com o carinho que só encontro neles. Muito difícil concordar em percebê-la envelhecer, sem cuidar dos seus cabelos, sem fazer suas sobrancelhas e sem sentir seu amor, diariamente. Que inveja sinto de todos os que estão tão pertinho, dessa que é a mais adorada das mães que eu conheço.
Ai, ai. Mas em RB, apesar de a cidade ser pequena, o comércio é eufórico, como em todo lugar na época do natal. A onda de presentear é mesmo igual, de norte a sul. Há três horas e meia, na região acreana, conheci a Brasiléia, que tem um nome esquisitão, com árvores cortadas em formato de não sei o quê. Após a ponte, chegamos na Cobija- Bolívia! Nada de ritual de passagem de um país para o outro...que coisa mais banal, meu Deus.


Mas o importante foi concluir como todos que ali chegam, que eu também não podia deixar de me esbaldar com os preços baixos dos produtos bolivianos. De lençóis 200 fios a perfume de enlouquecer qualquer marmanjo, creio que se possa encontrar de tudo naquele espaço cercado de patrícios e patrícias, que andam de moto sem capacetes. Minha teoria é a seguinte: como as suas cabeças são avantajadas, grandes demais, não cabem nos capacetes tamanho padrão. Há que se pensar neles, e ampliar um pouco mais a largura, não sei... 

Mas o que isso importa? Bem, podem sofrer acidentes, mas pelo visto não se incomodam com esse risco.  Percebi que eles estão sobrevivendo e vivendo a correria do dia a dia, tentando sempre angariar mais din din dos muitos brasileiros consumidores de coisas que nem sequer precisam ou vão usar, de verdade.

Resumindo: ressalto que vale muito a pena conhecer outro país (assim, meio que do nada), simplesmente ao atravessar uma ponte (recentemente inaugurada pelo atual presidente), trafegar na única rua do comércio, com as lojas apinhadas de turistas, e por fim, revelar na parada obrigatória, uma espécie de alfândega, com muita tranquilidade, que não ultrapassamos a cota permitida do dólar, mesmo tendo sacolas aos montes, empilhadas de todo jeito, no porta malas do carro.

Sei que lá mesmo, onde tudo é verde, na terra dos amazonenses, mora o meu coração de filha e de irmã coruja, e também está o meu coração de tia: do meu Bileque, do meu Neném (dindo do coração), das minhas sobrinhas lindonas e do meu Guga, de sorriso largo. Lá também sou sobrinha, da minha Véa amada, do meu TJ, do meu Momó e do meu Tio Di. E no mais, sou a primona saudosa.

Do lado de cá, estamos nós, filhas e netos carentes. Uma lástima essa separação. Como diria minha Mana Dinha: um divisor de águas.


Aviso a todos que desejam conhecer o estado: é longe mesmo...só que para mim, o Acre já ganhou um novo significado. Pode ser definido como sendo o local onde está a minha base, na ponta do país, o meu norte. Eita saudade, sem fim...

3 comments:

  1. Jusci, como lhe disse, vc nos leva a viajar junto com sua narrativa. Tenho a sensação de estar em Rio Branco(que não conheço)empasseio com vc e sua familia. Parabéns.
    Abraços,
    João Tiago

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  2. Amiga querida,quanta emoção ler sua narrativa falando com tanto carinho de sua família.Imagino a falta que vc sente de todos eles,afinal, família é tudo na nossa vida.Achei lindo vc contando que dona Nalva(pessoa que amo)fala baixinho no seu ouvido te amo, isso é a cara dela,sempre tão carinhosa e paciente,pessoa adorável.Me recordo dos momentos maravilhosos que passamos em Itarantim na nossa adolecência(que não faz tanto tempo assim rsrsrsrs)que tempo bom hein amiga?? Saudades de todos vcs,família q adoro.Parabéns pelo blog,ta lindo...bjos!!!

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  3. Larissa Santana * sobrinha17 October 2009 at 12:38

    Tia..acabei de fazer uma descoberta incrível, agora eu sei de onde vem o meu hábito de sempre transformar momentos vividos em palavras, ele é genético!! Amei o seu texto sobre o Acre, preciso concordar em tudo que foi dito, RB realmente não é uma capital como as outras, e o climinha daqui também nao é normal, que falta me faz um mar, não preciso ir tão longe ne? uma piscina própria já ajudaria muito rsrs Creio que vamos chegar lá Leu! Saiba que a saudade é dificil pra ambos os lados, mas mesmo a muitos quilometros de distancia, jamais deixaremos de ser uma familia, essa familia meio louca..rsrs A cada chegada sempre será aquela festa regada de muita alegria e a cada despedida sempre haverá lagrimas, coração apertado por mais uma distancia que se aproxima..mas como a senhora bem disse: a familia é a base de tudo; resumindo: sempre irá valer a pena cada chegada e cada despedida, são momentos vividos que nunca serão esquecidos vale a pena viver cada um deles. Ai ai, Como é grande o meu amor por vocês!!!!! Espero ver essa parte da familia em breve aqui nessa terra de chico mendes...ou nós ai nessa terra boa. Beijão Leu...Te amo, saudades!!!!!

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