22 September 2009

Entre pedras e vales

Nossa, que saudade daqui!

Quase duas semanas de inatividade e me senti culpada, como se tivesse abandonado pra sempre esse meu espaço, de tanta cumplicidade. Sei que para escrever minhas histórias, não me basta apenas observar os cenários e pessoas. Essa última, enquanto aguardava pacientemente o meu horário de partida, inventei que era a chegada a hora de conversar com meus botões. Então, comecei a gravar minha fala, ali mesmo, com os pés na mala e o telefone no ouvido, como se estivesse conversando com alguém do outro lado. Foi assim, muito quieta no meu canto, que me distanciei ainda mais e pus a refletir sobre minha vida, de novo e sempre.

Não foi nem é tarefa fácil essa de elaborar na escrita, o que sinto internamente. Não, não estou melancólica ou que coisa que o valha...isso foi lá atrás, no inverno. Agora, estou apenas reflexiva, pensando sobre meus dias, meu futuro, que ao mesmo tempo se apresenta tão certo, previsível, dada à rotina instalada e, por outro lado, me soa tão nebuloso, como se muito do que está por vir, ainda não sabe nem quando será a verdadeira hora de aportar.

E, mesmo com essa confusão, entre o que desejo e me move, e o que vivencio de fato, são nessas horas de solidão forçadas, no caminho de ida ou de volta, nas repetidas viagens para Seabra, neste mês de setembro, é justamente nesse trânsito de horas nas estradas, que a minha intuição se aproxima e ganha proporções assombrosas, me revelando tudo sobre o que ainda não sei lidar. Sobre isso, falo depois. Ainda está confuso em mim.

Tratemos de Seabra: uma cidade do interior da Bahia, com ares de cidade movimentada em virtude do seu entorno (o ar, o solo, tudo é Chapada Diamantina). Conversando com minha mais nova amiga de lá, soube que Seabra começou como nasce qualquer história de um novo mundo: homens garimpeiros deixavam suas minas, à noite, e buscavam outras minas na cidadezinha. Uma história interessante e simples.

Sua população, formada a partir dessa união de homens e mulheres, que formaram famílias, povoaram os quatro cantos de filhos, foi quem ajudou a tornar esta cidade a mais comercial da região porque, afinal, abastece as demandas locais com vários supermercados, feira livre (famosa por peças lindas e de preços baixos, que ainda não explorei), bancos, lojas, materias de construção....

A economia, e tudo o mais só faz sentido para munir de produtos e serviços os moradores de Lençóis (o meu atual sonho de consumo), Palmeiras (que teimo em chamar de Palmares), o iluminado Vale do Capão (eu já conheço, ufa!), Mucugê e outras tantas cidades, todas interligadas e esperançosas, com o mesmo objetivo de receber mais e mais turistas e ecologistas, e provocar, enfim, o desenvolvimento sustentável.

E por mais que eu me esforce em falar do que vivencio por lá, além das aulas de pós-graduação e descobertas dos sabores e massas das pizzarias que frequento, na mesma rua dos garimpeiros do passado (a principal, lógico), concluo que, é na estrada, dentro do ônibus, que descubro muito mais sobre a chapada.

Aliás, os colegas passageiros me contam tudo, sem me dizer um '"olá, de onde você é? Ou está indo/vindo de onde?". Me traduzem quem são e como vivem suas vidas somente com suas roupas, mochilões, garrafas de água mineral, tatuagens de todos os tipos, de tribais, palavras em sânscrito ou latim, borboletas ou rostos de índias bravas, cabelos desalinhados e pares e pares de olhares curiosos, em busca do verde, da magia das montanhas, das pedras que brotam águas cristalinas, do espetáculo à céu aberto que existe, mesmo, por lá. Eles vivem e curtem a vida assim: com simplicidade, intensidade e receptividade a tudo o que é novo.

Por isso, creio que os viajantes europeus ou sulinos, em sua maioria, são muito diferentes e intrigantes. Não só porque estão descobrindo e valorizando esses lugares na Bahia, antes mesmo de mim e da maioria dos velhos e novos baianos. Uma verdade quase absoluta: se estão por lá, devem ser trabalhando em hotéis, pousadas, investindo em negócios próprios e buscando a tal qualidade de vida que nos grandes centros não encontram. Mas nunca encontramos aos montes, passeando muito menos perplexos, com câmaras fotográficas. Claro que existem e frequentam, mas em menores proporções.

E eu sou testemunha disso. Era uma vez...e faz muito tempo! Quando estive no Capão (já neste século, claro), fui convidada para participar de uma espécie de "retiro" com um grupo de praticantes de yôga, isso em plena folia carnavalesca. Mas ora, fui exatamente inspirada para descobrir o que há por trás e por dentro da chapada, que os meus tão desiguais turistas incansavelmente buscam.


Nessa simples montagem acima, de imagens bem antiguinhas, que vasculhei e resolvi divulgá-las para dar mais veracidade ao que narro, confesso que estive no topo do mundo, literalmente.

Além dos exercícios de respiração, fiquei sem comer carne vermelha ao longo dos sete dias (embora tenha pedido baixinho por ovo frito no café da manhã). Fiz trilhas maravilhosas, com um grupo animadíssimo e resistente, em todos os sentidos. Conheci lá de cima, na cachoeira da fumaça, como é a vista lá debaixo dos lindos campos de flores e pedras. Dormi cedo, acordei mais cedo ainda. Desafinei ao som dos mantras entonados pelos amigos cantores. Assisti rodas de capoeira no final da tarde. Cochilei na rede ouvindo o silêncio da noite e o cheiro do orvalho. E fui feliz, como estou agora, só de me lembrar dessa aventura maravilhosa.



E será que mistérios ainda guardam essa vastidão de beleza terrestre? Juro que vou tentar desvendar. Vou me apresentar e entrevistar os  silenciosos e exóticos passageiros, na próxima parada de 15 minutos para o lanche, na lanchonete mais badalada  em Itaberaba, com nome sugestivo: Portal do Sol. Em breve, relatarei novos pontos de vista, sobre essa mesma bela vista.

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