4 December 2009

Passeio em escritos

Gostaria sempre de, após o almoço, circular por uma boa livraria, para fuçar novidades no mundo dos livros, revistas, audiobooks...tudo, enfim, por lá. Isso aprendi com minha amiga-irmã, Maga. Que saudade de fazer isso, com ela. Sempre ficamos em prateleiras diferentes, até distantes, mas vez ou outra nos encontramos e trocamos nossas impressões sobre o que lemos. Bom demais.

Drummond escreveu que " há livros escritos para evitar espaços vazios na estante". Verdade. Muita publicação insossa, de mal gosto, que ao invés de encher os olhos, ou a alma dos leitores, incitam a burrice, a falta de amor próprio, a criatividade...uma lástima.

Analogamente ao pensamento dele penso que, quando escrevo, tento preencher os meus espaços vazios. Me sinto mais cheia, de fato. E, ontem, quando estive numa livraria charmosa, num shopping também charmoso, fiquei absurdamente preenchida com tantas leituras,  e pensativa ao ler (rapidamente), ao sabor dos meus movimentos entre as estantes, sobre tantas coisas: novos livros de Psicopedagogia, cozinha asiática, uma reportagem sobre psicanálise (área que teimo em resistir conhecer mais), e uma crônica maravilhosa de Miguel Falabella, que me encheu os olhos d´água.

Passei entre as diversas opções de livros de autoajuda e fiquei pensando o que leva alguém a consumir esse tipo de "literatura". Deve ser muito vazio se acumulando, por dentro. Me deu uma pena deles, desse mundo de gente carente. E de mim, também, obviamente!

Na saída da livraria, me detive quando li em letras grandes: 100 coisas para fazer, antes de morrer. Não contive a curiosidade, abri aleatoriamente uma página e o título me ordenava: participar de uma passeata. Rapidinho me lembrei que participei de uma (ufa!) e a cena se fez viva novamente. O ano era 1997. Eu e mais uns poucos colegas paralisamos o trânsito, e nos deitamos no chão, na rua da graça, em frente ao colégio onde cursei o 2º grau. O objetivo era o de sensibilizar a direção da escola particular, que naquela época enchia os cofres de dinheiro (ainda estão cheios, certamente) e impediam os alunos inadimplentes de receberem o material didático. "Queremos nosso módulo!" Gritávamos, animados com a repercussão e apoio da mídia. 

Tudo era farra, algazarra. Verdade que nunca fui envolvida com movimentos estudantis ou coisas do gênero, e isso, meu manininho Jonatan o faz muito bem, nos dias atuais... mas fui "militante" por um dia, e me lembro que saímos na capa do jornal de maior circulação...onde andará essa prova viva de indignação juvenil, além dessa minha curta lembrança?

Sabe lá...mas fiquei feliz, por um símples título, me permitir essa viagem ao túnel do (meu) tempo, lá atrás, em plena adolescência. Animada, busquei outra página e veio a nova ordem: se casar! Por sorte, e caixias como sou, o meu horário venceu e eu decidi que precisava comparecer ao trabalho!

Foi assim que não li o teor daquela determinação do que eu deveria fazer, antes de morrer, mas me pus a questionar, ainda mais incucada com essas regras sociais, que determinam o futuro de todas nós, mulheres pertencentes a uma cultura engessada. E se eu não me casar? O que pode me acontecer? Isso certamente já está sendo escrito por mulheres corajosas, mas esse vazio se encontra em mim, ainda sem respostas.

11 comments:

  1. Deseja casar para preencher o espaço vazio que está em você.
    Acredito que apenas precisamos mesmo é algo que
    nos complete na noite fria, na poltrona macia,
    no chocolate quente e a luz de abaju.
    Um livro ja preenche

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  2. Esquece esse negócio de casar, pq a gente n combina com isso... No máximo uma costelinha para os dias frios e um sorriso estampado para as noites de verão... Tá bom demais!!!!

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  3. Adorei o texto e concordo com o que você diz no final: por que nos impõem tanto esse tal de CASAMENTO?.
    Parece que ficamos incompletas sem alguém, que somos a metade de alguma coisa.... que horror!!!
    Já me questionei muito sobre isso e hoje já relaxei, mesmo gostando de ter meu companheiro dormindo todos os dias ao meu lado (dormir junto é muito forte, lembra? (rsrsrs)).
    Mas já fiquei só e sobrevivi! Alias, melhor do que em alguns momentos que estive com alguém...rsrs
    Acredito que todos precisam de um companheiro para compartilhar a vida, mas não necessariamente casar ou morar junto.
    Existem outras maneiras e formas de amar e compartilhar a vida com alguém, eu acredito muito nisso!!!
    Bom, enquanto não chega o companheiro desejado, devemos nos sentir acolhidas pelos amigos e amigas, tão amáveis e queridos.
    Beijinhos,
    Mari

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  4. Lalá * sobrinha4 December 2009 at 17:41

    Leu..eu já vi esse livro também por incrível que pareça, na semana passada, quando fui na livraria procurar um livro para faculdade, mas eu infelizmente não parei pra folhear. Enfim, em relação as ordens que a senhora recebeu...eu achei a primeira muito revolucionaria rs, mas já a segunda EU AMEI!! Eu sonho em me casar, em ter uma familia, filhos, esse é um sonho que não abro mão. Eu posso não ter muita "bagagem" de vida tia, mas não acredito que uma costelinha nos dias de frio e um sorriso nas noites de verão seja capaz de tampar esse vazio. Não vejo o ato de se casar como imposição da sociedade, só casa quem quer, a sociedade não tem tanto poder assim, isso cabe ao indivíduo decidir. Bom, só sei de uma coisa, só vale a pena se casar se for por AMOR, caso contrário, o casamento vira uma frustração. Beijos LEU

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  5. Ah Ju,você e suas andanças e idéias....
    Só um porem,tem livro de autoajuda que faz muito bem,não tenho vergonha de dizer que leio e indico,por exemplo "Voce é do tamanho de seus sonhos"do Cezar Souza -graças a leitura realizei o projeto de voltar a dirigir e cursei um semestre de música,acho ate que vou reler para um novo projeto no próximo ano!Quanto a casar - estou revendo esse conceito rs rsr rs
    beijinhos,adoro seus escritos!

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  6. tia.. só vc mesmo viu?!
    que engraçado esse texto, não sabia dessa sua passagem em um "movimento estudantil".
    beijinhoss

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  7. Nossa...a polêmica se instalou! Deixem disso...Lulu Santos dá a dica: "vamos viver tudo o que há pra viver, vamos nos permitir..."

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  8. Auto-ajuda: ir à livraria em um dia de solidão. Adoro!

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  9. Ei, Juba, amo livraria, sou uma traça assumida, e ir pra livraria contigo é bom demais! Aquelas prateleiras enchem meu coração de alegria real. É como se estivesse encontrando várias possibilidades de me apaixonar em um só folear de páginas. Tenho meio que aversão aos livros das 100 coisas a fazer antes de. Pq não posso deixar de fazer? Essas são as expectativas desse autor. Prefiro escrever as minhas 100 coisas ou 1000 ou 10 ou 1: viver da melhor maneira possível, com a espinha ereta e o coração tranquilo. Vamos? Bj,

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  10. Por alguns instantes saboreei no texto os anseios de Liesel Memminger. Será que conheço uma menina que rouba livros? Para ser sincero imaginava em Ariana essa “roubadora”, mas quando li seu passeio, minha cara militante das palavras, fiquei ansioso pela hora em que você diria: olhei para os lados, me concentrei no desejo, parei de respirar, coloquei o livro na bolsa, sai e não olhei para trás. hehehe. Sei que estamos falando de Jú, mas quem sabe um dia uma história dessa... rsrsrs

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  11. Concordo com Vanessa, desencana dessa história de casamento. Isso é pura ilusão. Tem gente que simplesmente não combina com casamento. E pode acreditar que vida de solteira é muuuuuuiiiito melhor!

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