6 December 2009

Vila da fantasia

Enfim, um sábado à noite atípico.Quase 21h e estávamos em plena linha verde, bem verde com enfeites natalinos iluminados, nos dando a impressão que, aquela lua imensa que alta estava no céu, como poetizou Fernando Pessoa, já era parte do mundo (quase) irreal que se resumia mais na frente, já que estávamos em direção à praia do forte.

Das muitas passagens por PF, como a chamo na intimidade, essa foi a que mais me fez recordar das idas anteriores. Me lembrei, especialmente, das três últimas vezes que me deliciei com aquela vila que de tão mágica, creio que é a que mais reflete o lugar predileto para se viver um grande amor, em meus sonhos mais românticos.

Minhas irmãs e eu, costumamos chamar uma realidade muito perfeita de ilha da fantasia. Explico. Sabe propaganda de condomínio novo: casal, filhos, casa de veraneio, piscina azul, carro grande na garagem, um jardim florido e ao fundo, um cachorro latindo? Esse é o nosso conceito de uma ilha da fantasia, como o são os fakes na internet.

No mundo virtual todos são infinitamente belos, realizados e felizes. Não há lugar para tristeza, dor, decepção, frustração com absolutamente nada. Bauman nos ensina que no mundo líquido, as relações são assim também. Se não deseja mais manter um vínculo, apaga-se o número da criatura do celular, ou qualquer outro vestígio digital, e, num passe de mágica, a pessoa desaparece(rá) e com ela vão-se dedos, anéis, sentimentos, histórias. Tudo some.

Quando uma imagem é muito fantasiosa, sequer imaginamos o oposto, até porque, não nos interessa (muito) o que há por trás das maquiagens dos casais e seus lares, aparentemente de famílias perfeitas. Isso a mídia procura, investiga, e demasiadamente nos apresenta. E essa abusiva invasão também é repudiante, como a falsidade do que é aparente, mas que não é real.

Mas o que o mundo contemporâneo, as relações genuinamente maquiadas tem a ver com PF? Ah, eu creio que tem muito disso por lá. Os casais passeiam enfileirados, charmosos, com suas roupas de grife, perfumes caros, e de mãos dadas, nos indica que ali, tudo é lua de mel. Aliás, o nome dessa vila, deveria ser Vila de Mel, tamanha é a docilidade espalhada pelo ar, pelas velas acesas à noite, músicas românticas nos restaurantes italianos, e nas taças trincadas.

Hoje me sinto meio Fernanda Young, com sua costumeira acidez. Não sou ácida, mas estou somente impressionada com esse mundo falso, vazio do qual faço parte, e tenho certeza, também estimulo a crescer. Queria viver em outro lugar. Talvez seja isso. 

Esse era pra ser um relato divertido, alegre e cheio de dicas legais do que se fazer lá. Minha amiga Nêssa me arrastou, fomos, nos divertimos, escutamos Carlinhos Brown, por somente duas músicas no Festival de Jazz que rolou, e rimos muito das nossas aventuras e desventuras (Patiinha presente).

Com ela me pus a relembrar de coisas que não há tecla delete que eu consiga apagar da memória, muito menos do coração. Porque acreditei a vida inteira que encontraria um príncipe, que eu teria uma alma igualzinha a minha e com isso, busquei os sinais 'dele', me apaixonei de verdade, vivi muita coisa verdadeira, mas que no final, se transformaram em bolhas de sabão. Sumiram, infelizmente. Fantasias, então?

7 comments:

  1. Hum, texto tão lindo, lembrou Zeca Baleiro: calma alma minha, calminha. Não adianta, Salvador e adjacênicas deixa a gente meio frustrada mesmo. Tem muito turista, muita gente de férias, curtindo, enquanto a gente está vivendo a vida pra valer - não em lua de mel. E Praia do Forte é o lugar dos casais in love. Maravilhoso quando acompanhadas, um caos quando sozinhas. Vai para Morro, é mais tentador para solteiras, independentes, inteligentes, criativas, intuitivas, sensacionais e positivas como vc é! Bjs, amiga

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  2. Nao posso dizer mt sobre essa ilha da fantasia, praia do forte, esse nome me parece familiar, porem sem muitas recordaçoes. Ao contrário da senhora, que vive por ai, em salvador e suas adjacências, ja deve ter vivido bons momentos em PF, momentos esses que eu creio que se pudesse, teria sido eternizado..mas que depois de alguns dias, meses ou até mesmo horas, td aquela "magia" na verdade tivesse prazo de validade, e no fim o que restou de fato, foram apenas boas lembranças. E ai chegamos a conclusao: de que tudo na realidade é uma grande "fantasia". pela relato desse texto, PF deve realmente ser um lugar de encantos mil, propício ao amor. Fiquei até com vontade de conhecer Leu, rs. Você me leva qnd eu for ai? Bom Tia, como uma futura psicologa, eu tenho que dizer que todas as coisas boas e ruins que acontece no decorrer da nossa vida, nenhuma delas pode ser Deletada da nossa memória, mas pode sim, ser reedidata. E é isso que todos deveriamos fazer, reeditar as janelas doentias da nossa memória, pois são essas que nos fazem sofrer com acontecimentos do passado, e consequentemente, nos fazem temer o novo. Enfim, como já dizia o poeta Vinicio de Moraes: "Que nao seja imortal, posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure". E em relaçao ao principe encantado, talvez ele realmente nao exista tia, pelo simples fato de que ele fugiria da realidade, pois ele alcançaria a perfeição. E não poderiamos esperar a perfeiçao do outro, já que também nao somos perfeitos, nao seria justo.
    Beijos Leu, TE AMO!

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  3. Quero conhecer esse lugar mágico qiando for aí..
    beijinhos,

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  4. Nossa, estou mais cheia, nesse início de manhã. Sobrinha linda, levo sim. Lá é um paraíso lindo, e como diz Nêssa, praticamente o quintal de Salvador. Bj, minha psicóloga de plantão, a mais linda.

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  5. Eh, PF eh isso mesmo, um mix de felicidade e saudosismo... Mas tbm o que seria da vida sem as tao reais fantasias?? Um dia a gente eh ator, no outro expectador, fazer o que?? E assim vamos vivendo... E o mais importante curtindo agradaveis momentos e distribuindo alegria!!! Adorei nosso fds amiga!!! OBRIGADA pela excelente cia!!!

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  6. É Ju... Fantasias, maquiagem... E a vida segue o seu teatro! rs

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  7. Amei! Comecei a ler esperando o relato da farra em PF, e me deparo com essa crônica fantástica sobre a forma como a mídia tenta nos impingir um "modus vivendi"(resquícios do convívio com S...). Ninguém merece ser escravo de um padrão de vida irreal.

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