12 April 2010

Ao sabor do taxímetro

Há dez minutos da rodoviária, numa tarde de domingo....

- Oi, está livre?
- Sim, não...só um momento.
- Ok.
...
- Olá, estou livre sim!
- Ótimo. Poderia me levar até a rodoviária? Estou atrasada.
- Claro. Mas hoje é domingo. O trânsito está livre.
- Mas está chovendo...
- Senhora, não temos engarrafamento daqui até a rodoviária. Que horas, a sua passagem?
- 12h30.
- Ah, temos meia hora.
- Ok, é que fico tensa. Preciso sacar dinheiro também para lhe pagar.
- Engraçado. Todos os passageiros precisam sacar dinheiro. Ninguém tem grana para o taxista.
- Hoje em dia usamos o débito...
- É. Todos dizem isso também.
- Vai ver é verdade. Uma questão de segurança.
- Eu não duvido. Corridas só prestam se for pelo Hotel. O que seria de mim se eu não tivesse essa parceria com o hotel?
- Mas não há passageiros na rua, precisando de táxi?
- Há sim, mas são sempre corridas bobas, de dez ou quinze reais. A gente se estressa, enfrenta engarrafamento, para deixar o passageiro na porta de uma clínica ou na rodoviária. Não vale a pena.
- Mas você tem meta por dia? Por semana?
- Não..contanto que dê para eu pagar o aluguel do carro (R$350), toda segunda, e do mês (R$400), tudo bem.
- Nossa, você paga caro...é mais caro que pagar um financiamento de um carro...
- Pra senhora ver. Por isso que gosto das corridas para o aeroporto. Rapidinho faturo cem reais, mas tenho que deixar os 10% no Hotel...fazer o que?
- É. Fazer o que?
Viajei na conversa...fiquei imaginando as despesas do taxista...mas me policiei: já não me basta saber o que eu tenho que pagar?! Ele, por sua vez, parecia em um divâ, um verdadeiro desabafo em seu quase monólogo.
- Pior mesmo é aturar os carros pequenos. Esse pessoal namora, passeia, anda devagar, fala ao telefone, fica indeciso, não sabe se vai, se volta, se segue ou se vira à direita. Impressionante. Os carros pequenos atrapalham meu roteiro, minha vida, meu trabalho...um transtorno!!! Pronto, chegamos. A senhora tem quinze minutos para sacar seu dinheiro e depois seguir viagem!
- Oh, que bom! Aguarda um pouco, que já volto.
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Paguei, agradeci e me distanciei do taxista que me fez repensar a vida no trânsito. Percebi que, provavelmente, sou uma motorista de carro pequeno que incomoda (muito) todos eles, os taxistas e também os motoristas de ônibus, que me incomodam mais que os taxistas..uma bola de neve de incômodos!
Em termos de retorno financeiro, a corrida comigo foi boba pra ele. Para mim, excepcional.

5 comments:

  1. Acho que esse taxista quis te colocar uma culpa danada. Ele que sustente a escolha de ter um taxi, ou de alugar, sei lá.
    Adorei sua crônica.
    Bj.

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  2. Nossa tiia, que crônica legal, adorei! *-*
    esse taxista desabafou muito hein ? ele provavelmente viu o seu perfil que realmente era do "carro pequeno" haha , maas cada qual com seu cada qual , AMEEI muio a crôonica ! ; D

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  3. escrevendo estilo l.f. veríssimo, hum, vc tá demais, juba...rs.. adorei! vi o cara em minha frente, aquele tipo q coloca 100 metros de fita do bonfim no retrovisor.

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  4. Cheio de indiretas, esse taxista marrento!!!

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  5. queria conhecer esse taxista leu, ele ta precisando de uma sessão psicológica. mto estressado..coitado! Ainda bem q a senhora deixou ele se expressar, ele realemente tava precisando...concerteza foi um alivio pra ele rs.

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