18 May 2010

Me confirme os seus dados?

A burocracia é insuportável. Me causa náuseas. Tenho cada vez menos tolerância em respeitar os trâmites legais dos processos, sobretudo pela incapacidade de concordar com os meios, que não justificam os fins; o pior é que ser politicamente correto, não virou moda, virou exceção.

Muitos não suportam a parafernália de documentos e informações solicitadas. Dão lugar, portanto, aos subornos, o caminho mais curto e injusto, como compra de senhas, uso de grávidas e velhinhas indefesas e contratação dos ambiciosos despachantes, os únicos a lucrarem com as filas imensas nas instituições públicas.

Ninguém se entende com empresas de telemarketing. Parece que falamos grego, eles hebráico; vejo atendentes adoecerem. Já ouvi relatos de alguns que ficaram com úlceras, depressões, por causa da rotina estressante em suas cabines. Do outro lado, as pessoas surtam, xingam, gritam, e se estressam em igual medida. Quanto a mim, choro de desespero.

Fico me perguntando onde errei, porque mereço passar por essas provações. Será que uma regressão me traria essas respostas? Talvez uma bola de cristal, para me apresentar o que mais vem pela frente. Talvez sofreria menos. Tudo isso seria insignificante, então.

Findei as aulas em Seabra e viajei segura, certa de que meus problemas com a seguradora logo se acabariam. Quem dera.

Na passagem pela soterópolis, segunda vez após a mudança, me senti completamente impotente, zangada, muito zangada. Pior que isso, me vi dependente de tudo: de ser atendida, de não poder adentrar um cartório e exigir que a greve não atrapalhe o meu processo de indenização do carro, de ter que ouvir, pela enésima vez, que eu preciso abrir uma chamada de ocorrência para a, b, c, d, e, ...

- Senhora, por gentileza pode anotar o número do protocolo? Aguarde em até sete dias úteis, que entraremos em contato para orientarmos o que deverá ser providenciado.
- Ok, pode repetir os cinquenta e novecentos números? Deixa eu pegar uma caneta.
Nesse momento mágico, quando você finalmente encerra o festival de confirmações, o bipe apita informando que a ligação foi finalizada.

Aconteceu ontem, comigo. Precisei respirar fundo, para não agredir verbalmente ninguém, apesar de eu ter me sentido agredida, subjugada e humilhada diante da tamanha burocracia e das ligações interrompidas, e de novo ter que ouvir as mesmas gravações, e voltar para a estaca zero novamente.

Por falar nisso, quase assisti a um ensaio da banda Estaka Zero... isso mesmo, estaca com K. Mas são bons de forró. Uma mistura do Fala Mansa com Cacau com Leite. Forró pé de serra, envolvente, bem oportuno nessa quase época junina. Deve ter sido animado! 

Mas vivi alguns poucos momentos de diversão. Curti amigas queridas, solidárias. Passaram por cima de mim. De brincadeira, fui pisada na barriga, pelo filho de 2 aninhos de uma delas. Amei isso. Me senti muito íntima dele. O cantinho do sorriso, me deu esperança de que um dia ele ainda vai me chamar de Tia Ju, e me dizer que está com saudades.

A outra amiga, mais que uma irmã, me recebeu como se recebesse a sogra: muitos comes e bebes, quarto arrumadinho, carro na garagem pra mim. Me senti num hotel aconchegante, desses que se pudermos voltar, recomendaremos como o melhor em toda a região. Disso tudo sinto muita falta. Do carinho dos amigos. Outros reencontros me fariam bem. Voltaria a sorrir, em segundos. Essa sorte, não tive.

E a viagem foi assim, digamos, frustrante em meus propósitos iniciais. Não consegui avançar no processo do carro, não comi meu acarajé, nem meu caranguejo, as duas marcas da cidade que amo, amo, amo... para amenizar, degustei um caldo de sururu, cremoso e quente. Delícias são os prazeres simples. Concluí isso. Finalizo com um diálogo simples e hilário, na ida para a rodoviária, com outra amiga:

- Amiga, odeio música eletrônica, mas tudo bem, quero copiar todas as suas músicas!
- Ai amiga, são muito lindas! Estão no pen drive!
- Oh, o meu carrinho roubado foi junto com as minhas prediletas... sertanejo, não...só ouço isso em Conquista (Vitória da).
- Eu adorooooooo. Mas vou mudar.
- Nossa, Hebert Viana é maravilhoso...imagina, o amor da sua vida cantar: "eu sempre vou te esperar, lá, lá, lá, lá...". Ai, quero muito receber essa música de alguém, ainda. Uma declaração.
- Ai amiga, eu quero receber qualquer música como declaração. No desespero que estou, qualquer uma serve!
risos..
- Mentira!? Sério?
- Sério!
- Até aquela que fala de cachorra, de patinhas..."me dá, me dá patinha...?!"
- Até essa, amiga!
Desta vez, gargalhadas...
- Amiga, obrigada por ter me trazido.
- Vou passar são joão lá.
- Ok, te espero. Convença os demais!
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No final das contas, a viagem foi um misto de prazer e dor, como tudo nessa vida.

4 comments:

  1. E meu feijão não tava bom??????????????//

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  2. Enquanto isso, de um computador lá no Acre, recebo um carinho virtual:

    ---------- Mensagem encaminhada ----------
    Assunto: Re: Essa ligação está sendo gravada...
    Para: Jusciney Carvalho

    Juba,
    Vc nao tem jeito mesmo.... acho que vc deveria ter uma coluna em algum jornal ou revista, vc tem mesmo talento.

    saudades,
    Norma & Joshua

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  3. Oi Juuuu!!!

    Você tinha que ter um corretor de seguros pra resolver esse processo pra você. Que nada, é um stress!!!! Se você quiser indico o corretor que faço o seguro faz muitos anos.

    Adorei as novidades do blog!

    Ler é como se eu estivesse te ouvindo contar, muito legal!

    PARABÉNS!!!!!!!!!!!!!

    Beijos!

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  4. "No final das contas, a viagem foi um misto de prazer e dor, como tudo nessa vida." Esta frase foi certeira. O post não poderia ter um final melhor. Parabéns e beijos.

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