31 May 2010

Turista por opção

Terceira vez, em menos de três meses que me despedi de Salvador, e pra lá retornei. Parece que a saudade é imperativa, exigente. Consegue conspirar em favor do retorno, para essa cidade que todo mundo é de Oxum, como musicou Gerônimo.
Foi assim:
Minha irmã tinha um concurso, não queria ir sozinha, me convidou para acompanhá-la. Entre dizer sim e viajar, vivi o conflito que sempre antecede meus itinerários. Mas fui, feliz e satisfeita, mesmo tendo que enfrentar tantas horas na estrada. Um fim de semana praieiro me faria bem, foi o que pensei.
Chegamos cedinho e seguimos para um hotel, melhor, um apart hotel, em ondina. Com sala, cozinha, banheiro e wi-fi à nossa disposição. Claro que me senti mais que uma simples ex-moradora. Hospedada num lugar aconchegante, embora ostensivo, com um café da manhã estupendo, uma vista perfeita. De cima, contemplei as ondas batendo nas pedras, um mar azul, meio revolto, por conta da estação, mas forte, com aquele cheiro de maresia que reconhecemos onde quer que estejamos.
Vitalizante observar o mar e sentir seu perfume. Inspirar, expirar, sei lá o que aconteceu... tudo me deixou nostálgica, como se eu tivesse ingerido uma droga (ainda que lícita). Droga essa que preciso consumir toda vez que estou tristonha, "bolinha", como outra amiga sempre diz ficar, quando algo de triste lhe acontece.
Mas aqui, na terra das rosas, de florestas seculares, tem uma vista linda à noite. E já reconheço seus muitos cheiros, de eucalipto àqueles típicos de fazenda. Mas quando olho pro horizonte, dá um pontinha de frustração, porque nunca consigo vislumbrar o oceano. Fico também "bolinha" nessas horas.
Ter tudo, ao mesmo tempo, é fantasia. E das brabas. Claro que sempre haverá um vazio, que sempre sentirei falta de algo, ou de outro ar para respirar; essa é minha natureza aérea, aquariana, já sei de tudo isso.
Mas voltando à turista que me tornei, curti muito esse fim de semana de luxo. Amei pedir uma bacia de caranguejo, com direito à pirão e vinagrete, acompanhada com uma deliciosa roska de morango. Conversa animada na mesa, muitas risadas. E entre arrebentar com força as patas e perninhas do crustáceo avermelhado e bebericar um líquido avermelhado, senti que minha face também ficou rubra. Creio que para combinar com o contexto. Concluí que era a vida florescendo em mim, nesse momento tão outono dos meus dias.
O sábado passou rápido. Mal deu tempo de eu rever todos os que gostaria de me encontrar. Alguns eu sequer liguei, para não gerar uma expectativa. Fiquei na culpa. O problema é que o meu ritmo é outro. Aprender a priorizar momentos e pessoas com quem desejo estar, também tem sido outro bom exercício.
No domingo de sol nublado, fui ao parquinho, sentei e pisei na grama, conversei bastante, me senti em casa de novo, como se dali, eu fosse pro meu canto, tomar um banho, ligar a tv, ou o computador, pensar o que fazer mais tarde.
Minha dúvida está sempre estampada em meu rosto. Me perguntam se eu voltarei. Acredito que sim, outras vezes, penso que não.
Cada vez mais me entendo menos. Estou aqui, mas sempre com o sentido lá: nos amigos, na rotina de antes, no que deixei de história. Paciência. Estou em estágio probatório, ainda.
A "minha" Salvador tornou-se um lugar maravilhoso, para visitações periódicas. Me sinto sua cúmplice. Adoro seus outdoors, seus fins de tarde dourados. Gosto de observar e provocar os engraçados e fanáticos tricolores, suas buzinas, cantigas, carreatas e bandeiras coloridas pelas ruas, de todos os torcedores, em dias de jogos.
Esse cenário de carnaval constante, me excita, e óbvio, adoro fazer parte.
Só que ainda tem um outro lado, cobrando a minha atenção. Brasília? Recife? Rio de Janeiro? Ainda é cedo pra saber. Ainda não sei aonde vou parar.

2 comments:

  1. Parece que agora a gente se vê mais do que qdo vc morava aqui, Ju... tô adorando seu turismo.

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  2. adorei a parte relaxada das patinhas de carangueijo e roska (?)de morango - faz muito bem uma pausa-porque a angustia, pelas escolhas seguintes, quase sempre é inevitavel...C'est la vie!

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