6 July 2010

Já no paraíso, fazendo graça...


Isso não teve graça alguma. Queria conseguir reunir toda a dor, e essa sensação de impotência na escrita. Cada vez mais tenho que recorrer à ela, para conseguir atenuar os grandes dissabores dessa vida terrena.
Ele se foi. Acabei de saber do infortúnio. Era um cara sábio, inteligente, alto, magro, impecável no vestir e também na maneira de tratar a todos. Desses homens cavalheiros, que já não encontramos por aí. São tão poucos que dedicam seus dias e noites para um amor só, uma mulher só. E isso demorou de acontecer para eles. Mas quando aconteceu, foi pra valer, foi de verdade.
A viagem dele, datada de 06 de julho de 2010, nunca deveria ter sido iniciada. Mesmo sabendo que ele partiu para os céus... agora vai parar de sofrer e sentir cheiro de éter, esquecer a palidez das paredes do hospital.
Ele era o tipo de pessoa do bem. Não poderia ter partido, sem dizer adeus, sem fazer um discurso, sem dizer até logo. Tinha que permanecer vivo. Gostava de contar piadas e de explicá-las, até convencer todos a acharem graça delas. Elogiava todo e qualquer alimento à mesa. Elogiava a sua mulher, sua dedicação ao lar, ao cuidar dele. A partir de agora não estará mais por perto, comentando sobre o que lhe interessa, lhe causa alegria ou indignação.
Aquele homem de cabelos grisalhos, parecendo ator famoso de Hollywood, infelizmente não está mais entre nós. E eu, que já o considerava um primo muito especial, me sinto só também. Sem ele para me ouvir e rir das minhas bobagens. Sinto-me impotente pois nem posso abraçar Prito, minha prima que me chama de Juba. Ela, sempre referenciada como sendo uma fortaleza, está inconsolável, sem saber o que fará dos seus dias sem ter pra quem fazer seu café da tarde especial, com direito à pergunta "quer mais meu bem?"
E sobre a morte, cada vez menos eu sei. Essas viagens pro além são todas grandes incógnitas. Já somam por lá pessoas bondosas, cheias de amor pelos parentes e amigos. Uma amiga me disse: "são os desígnios de Deus". Bonito de se repetir.
O meu primo querido reunia beleza, simplicidade e educação. Ele entendia de futebol, de elevadores e de como agradar Joshua, como mais ninguém. Aposto que ele (já) está dirigindo um carro bem bacana, com bancos de couro, vestindo roupas bem passadas e cheirosas. Está feliz, sorridente, atento, tentando encontrar a minha Vozinha, o meu Pai e mais alguns chegados dele, para diverti-los com suas piadas e atualizar a todos sobre nós, pobre de nós, saudosos.

2 comments:

  1. sinto muito sobre a perda na família, juba, e sinto tmb por nossa falta de inteligência emocional para compreender a simplicidade da morte. ab,

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