15 October 2010

As lembranças da bagagem

O ano: 1997
Estágio remunerado de um salário mínimo, com direito a vale- transporte.Eram em média, trinta crianças entre nove e dez anos. O sino tocou. Subimos juntos. Era verão, já. A sala de aula estava muito quente. Os meninos chegaram suados, da partida de futebol mais esperada, de todos os dias, no recreio. As meninas, como todas nessa idade, festejavam seus segredinhos, sobre seus amores platônicos, nos muitos bilhetes trocados. De pernas cruzadas, encostada no quadro branco, eu os contemplava, feliz da vida em poder fazer parte daquele universo tão deles, tão meu, tão nosso. Me sentia em casa.

O ano: 1998
Assumi o grupo mais velho da escola. Ciclo 4, ou quarta série do ensino fundamental. Uma turminha linda, carinhosa, realmente especial. Era o dia da votação. Escolha de um conto, para montagem de uma peça teatral. Sonhos de uma noite de verão ou Romeu e Julieta? Algazarra total nos pré-adolescentes de olhos ávidos por diversão, além da produção textual, razão de ser do projeto. E a maioria optou por sonhar, em plena luz do dia. E a diretora entrou, no meio da decisão. De repente o silêncio. Medo ou respeito? Até hoje, penso que ela não gosta(va) de identificar a alegria e o prazer, entre professores e alunos. Uma cumplicidade, sem igual. Me sentia parte deles.

O ano: 2005
13 horas de viagem. Um encontro rápido. 30 horas passam voando. Aulas de pós-graduação exigem muito. Dinamismo, inovação, criatividade, relevância, e, acima de tudo, estimular a motivação, o suficiente para optarem estar naquele espaço, e não no sol maravilhoso e convidativo, lá fora. Nada de pensar em descansar ou curtir o final de semana, longe dos livros e temas da Psicopedagogia. E o grupo me pediu pra retornar. A avaliação final, apontava que era ali, o início da minha carreira docente, no ensino superior. Me senti em férias permanentes.

O ano: 2010
Turma do segundo semestre de Direito. Alguns me acompanham escada acima. Enxergo, de longe, pelo corredor, outros tantos. Os mais assíduos, me esperam juntos, em frente à nossa sala. Sorriem ao me reencontrar. Toda quinta, em nosso encontro semanal, há espaço para trocas, controvérsias, leituras, trabalhos, análises. Nos divertimos, rimos, discutimos, combinamos coisas, prazos, tarefas, estudos, pesquisas. Foco em linguagens e produção de textos na área jurídica. Pedagoga que sou, estou ali, inteira, para eles. Me sinto um deles.

15 comments:

  1. Adorei a evolução da bagagem.
    Você enfrentou todos aqueles meninos suados, gritando.
    Fantástico , impressionante.
    Agora me diga tem vontade de voltar a 1997?
    rsrsrs

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  2. Muito bom o texto.
    Essa vida de professora é sem dúvida vencer um desafio a cada dia.
    bjão e parabéns pelo nosso dia!

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  3. A sua bagagem deve ser muito rica, amiga viajante. Sem dúvida você tem muita história de estrada pra contar. Vá nos contando aos poucos, em textos ótimos como este. Um beijo e bom sábado.

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  4. E vamos para frente que a evolução não pode parar... Um beijo Jú!

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  5. Ohh tiia proooof *-*
    parabéens pelo seu diiia =))
    bjs, te amo

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  6. Olha Gerson, não sei não...sou melancólica...me bate uma saudade danada...vou tentar encontrar e postar um desenho que uma aluna fez de mim, desta turminha...bj

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  7. Pró Paty, parabéns pra vc, tb, educadora em tempo integral, em casa, na escola e no blog! Bj

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  8. Marcelo e Luiz, vou tentar evoluir e postar novos microcontos...estou adorando ser sintética! Bj

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  9. Marcelo e Luiz, vou tentar evoluir e postar novos microcontos...estou adorando ser sintética! Bj

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  10. Com uma sobrinha linda assim, como não ser feliz, meu Deus? Te amoooooo

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  11. jujuba verde, vc nasceu pra isso, sem dúvida. bjão de cá,

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  12. Conheço boa parte dessas lembranças aí. Adorei! Bjs.

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  13. Maga, recebido o beijo...eu creio que nasci pra ser sua amiga(:

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    Gica, com certeza. As nossas lembranças revelam muito de nós...risos...bj, e até breve(:

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  14. Adoro o jeito como voce descreve...TUDO! haha Muito gostoso de ler, voce parece ser daquele tipo de pessoa que tem a habilidade de tornar tudo interessante. bjo!

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  15. Ai, Mariana, quem dera se eu conseguisse tornar tudo, tudo interessante...mas é fato, essa é a minha eterna tentativa! Volta mais!! Bj

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