6 October 2010

Diga aonde tu trabalhas...

...e eu te direi quem és!

Vou começar por mim. Eu trabalho num lugar cheio de vida, iluminado, com árvores, grama verde, ar aromatizado com cheiro de eucaliptos, cantinas, reprografia, laboratórios, biblioteca, academia (que eu não frequento), e muita gente transitando: quem estuda, quem ensina (ops), quem coordena, quem assessora(ops, ops), quem dirige, quem administra, quem toma conta da limpeza, quem toma conta da segurança, quem avalia...isso, acertou, eu trabalho em uma faculdade.

Me sinto em casa, por lá. Ao circular, ou adentrar uma sala de aula, por exemplo, me sinto tão natural, tão à vontade, que o tempo passa, e eu nem sinto que o que faço é trabalho. De verdade, o prazer só não é proporcional ao salário recebido, entretanto, isso já é outro assunto, outra seara, que implicaria em ter que escrever ou justificar "por quem os sinos dobram"...

E me diga, então, pela descrição, qual é o local aonde não trabalho, descrito nessas características: inóspito, frio, geralmente tem paredes brancas, cheio de regras, cheiro de éter no ar, carregado de fardamentos esquisitos, verdes ou brancos, que vestem pessoas e funções distintas, que transitam e adentram nos quartos sem pedir licença, e trocam roupas de cama, administram medicações, fazem visitas periódicas e claro, monitoram vinte quatro horas (será?) a saúde dos pacientes...isso, acertou, eu não trabalho num hospital.

Essa viagenzinha aos dois universos, foi necessária. Um me dá prazer. Esse outro, medo. Fiquei anestesiada de temor pela vida da minha mãe, pessoa de boa fé, que inocentemente foi levada pra longe de nós, para uma ala cirúrgica, que não nos deixaram segui-la. E isso durou quase cinco horas angustiantes.

Ela agora está ao meu lado, coberta da cabeça aos pés com uma manta azul escuro, com meias nos pés, sentindo frio, caladinha, provavelmente revivendo mentalmente a ansiedade por este momento planejado e tão discutido entre nós, durante o último mês.

Questionei a necessidade da cirurgia de retirada da vesícula, pois não apresentava nenhuma dor. Como sabem, como médica, sou uma excelente pedagoga. E como tal, após visualizar um saco transparente com pedras pequenas, médias e grandes, fiquei surpresa e tensa. Tudo isso, nela, e não sofreu? Maravilhas da natureza humana. Maravilha de organismo da minha mãe.Juro que se eu tivesse visto essa pedraria toda em alguma radiografia, teria ficado muito mais apreensiva.

Ufa, a viagem acabou e ela não foi cortada...poderá usar biquini, se quiser:). Brincadeiras à parte, estou tranquila, pois os meus pensamentos não gritam. Ou seja, apesar da alegria, nada de fogos de artifício ou vuvuzela. Na sala de aula, o diálogo e a alegria devem se fazer presente, mas no hospital, o silêncio é ouro, e o maior amor da minha vida merece dormir bem. "Eis que tudo se fez novo..." Amém!

16 comments:

  1. Saúde e paz para sua mãe Jú. Beijo

    ReplyDelete
  2. Oi Luiz, obrigada!

    Apesar de não gostar de ambiente hospitalar, vivi a ansiedade por minha mãe, e também de uma família inteira, à espera da chegada de mais um ser humano nesse mundo...e na saída, me deparei com um papai, feliz da vida, com o nascimento de sua "Bárbara". Ou seja, nascimento é algo bárbaro, pois é sinônimo de renovação, vida e alegria num hospital. Viva a vida!

    ReplyDelete
  3. romântica até para descrever pedra em vesícula, hein juba? kkk figurinha (ops, isso me lembrou alguém...rs). boa recuperação para sua mainha. bjs,

    ReplyDelete
  4. que bom que tudo esta bem, saúde e felicidades para sua mãe... abraços

    ReplyDelete
  5. Boa noite Leu! Cheguei em casa e a lu ja foi me dando seu recado pra entrar no FOI ASSIM..mas hoje eu estou acompanhanda por um pequeno principe: o luquinhas, o caçula da familia. Ele nao entende e nao sabe o que ta se passando com a nossa vozinha, mas de uma coisa ele sabe: SAUDADE DA VOVÓ ALVA kkkkkk ele sempre pergunta dela..diga isso a ela. Manda um bjao e diz q tudo vai ficar bem, estou aqui orando. Amamos vcs!

    ReplyDelete
  6. Nossa, quanta vibração positiva e carinho real...ainda dizem (ops) que o mundo virtual é só fake...
    Beijos queridos, Cleuder e Maga, Lalá e Luquinhas, os dois, lindões da Tia Ju!

    ReplyDelete
  7. Amiga viajante, achei muito bacana o texto e o paralelo entre os dois locais. Estimo melhoras à sua mãe! Um beijo pra você.

    ReplyDelete
  8. Oi, JU!
    melhoras para a sua mãe!
    já passei pela mesma angústia, pois minha mãe também tirou a vesícula, com a diferença que a cirurgia só durou 40min e ela quase não ficou no hospital. Agora, ela está novinha em folha.
    beijinhos para sua mãe e toda sua família.

    ReplyDelete
  9. Oi Marcelo. Como sempre, obrigada pela visita, passageiro querido! Outro beijo, pra vc!

    ReplyDelete
  10. Olá "anônimo(a)"...que bom que sua mãe está bem, também...a minha, está um dengo só, mas reclamona! Olha aí, de onde vem esse meu jeito...beijo e volta mais!

    ReplyDelete
  11. Sim Kika, desejo muitas felicidades pra ela, mas não esqueço de mandar felicitações pra você também, porque suas preocupações são imensas. Adorei a forma leve do texto, com os dois ângulos...
    Você, sempre, surpreendendo.
    Bjo kika.

    ReplyDelete
  12. Kiko, querido, obrigada pelo carinho e palavras tão generosas..vc, tb, me surpreende, cada dia mais! Bj

    ReplyDelete
  13. Ai amiga, nem me fale nesse lugar frio e inóspito... passamos 27 dias entre dois deles qdo meu brother esteve internado. E ainda hj as visitas às paredes frias e brancas são constantes. Aprendi que precisamos nos cuidar, para que nossos entes queridos não passem pela angústia de ter que se hospedar nesses locais com cheiro de éter.

    Boa recuperação pra sua mamy.

    ReplyDelete
  14. Adorei o texto! O fato é que, estar em um hospital sem ser o médico ou o administrador não deve ser confortável pra ninguém!

    Que você e sua mãe tenham muitos anos de momentos felizes juntos!

    Beijo!

    ReplyDelete
  15. Oi Patiiinha...as paredes são frias, combinando com a frieza dos profissionais...mas vc está certa, mais promoção de saúde...vamos malhar muito, e beber cinquenta litros de água! Bj

    ReplyDelete
  16. Oi Edu, que bom ver você de volta, nesse cantinho...obrigada pelo carinho! Abraços.

    ReplyDelete