3 January 2011

Dias fraternais

A estrada fica mais colorida quando viajamos em comitiva. Pouco importa a duração da viagem, o  engarrafamento, o calor ou o frio.
Ontem, o nosso comboio foi assim: formado por quatro carros.
Demoramos duas horas para desmontarmos o acampamento e mais outro tempo para organizarmos tudo nos bagageiros dos veículos.
Na bagagem da família buscapé, trocentas malas, dois violões, colchonetes, mais malas, brinquedos novos ou quebrados, cadeira de bebê, água mineral, ligações e ligações, esperas nos postos de gasolina e muita, muita alegria pela reunião familiar.
Meus manos e manas são muito parecidos. Muito mais em personalidade que em aparência física. Nada disso. Somos parecidos demais, em tudo.Minha mãe, porém, não nos confunde. Ela tem definições ótimas sobre cada um de nós. Citarei a minha: segundo ela, eu sou dificílima! Pareço ter um certo tipo especial de TOC.
Explico. O meu transtorno obsessivo compulsivo é a vontade de querer ver tudo limpo, arrumado e em silêncio. Me dá náuseas a bagunça; música muito alta e de má qualidade me incomodam os ouvidos e os pensamentos.
Aquela máxima de "casa de ferreiro, espeto de pau" é algo que, sinceramente, gostaria de contrariá-la.  Ser 'a' pedagoga da família é um peso imenso. Não somente pela responsabilidade natural em ter que contribuir na formação dos sobrinhos mas, sobretudo, no desafio de convencê-los das (minhas) boas intenções, ainda que sejam tão óbvias e bobas para os adolescentes! É uma batalha desigual. Eu sou a única professorinha de plantão.
Essa é, talvez, a (única) parte dificílima da hermana dificílima administrar.
Mas já entendemos e nos alegramos com uma realidade: as distâncias em quilômetros nos aproximaram e passamos a nos gostar ainda mais. Na infância, brincávamos juntos, viajávamos amontoados no carro do nosso pai, e seguíamos confiantes. Hoje continuamos, assim, nos divertindo juntos, enquanto desbravamos lugares de veraneio.
Na viagem de volta à Conquista City, me deu um nó na garganta pelos dias em Ilhéus. Foi muito bom. Meus olhos enchem de lágrimas ao lembrar das muitas emoções vivenciadas.
O tempo, cruel que ele só, não nos permite a certeza dos reencontros dos seis irmãos no futuro. Estamos espalhados em estados diferentes: as manas na Bahia, os manos entre Rondônia e Acre, fora as visitações deles, bem frequentes, em território boliviano. Quanto a mim, deixei de ser ponto final faz tempo. A interrogação é a minha marca atual.  Não sei quando me mudarei para Alagoas, nem sei quando deixarei de ter o vínculo com Salvador, nem sei quando permitirei que o novo entre em definitivo em meus dias. E se entrará...por isso, sou também uma reticência...
Mas quando estou entre os meus irmãos, ah... só penso que sou uma exclamação!
"...vamos fugir, pr'onde haja um tobogã, onde a gente escorregue..."

6 comments:

  1. Reunir família grande é mesmo uma tarefa difícil. Por aqui faz tempo que não conseguimos essa façanha.
    Fico feliz, pois sei o quanto significa pra vc.
    bj

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  2. Minha amiga viajante, família é tudooooooooooo mesmo.
    Lindo texto!
    FELIZ ANO NOVO, REPLETO DE VIAGENS,RESPOSTAS PARA AS INTERROGAÇÕES E MUITAS EXCLAMAÇÕES. Bjokassssssss

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  3. Viajar em família é sempre uma maravilha. Beijos Jú

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  4. Patiinha, Kátia e Luiz...

    Obrigada pelos comentários! Bom contar com o carinho e a sensibilidade dos amigos! Bj

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  5. Amei o texto amiga!!! Palavras sabias advindas do amor familiar, precisa falar mais alguma coisa???

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  6. Oi Nessa, verdade...amor incondicional...nem precisa ser explicado, só sentido! Bj

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