4 July 2011

Meu estranho ninho

A cidade está muito distante de mim. Eu queria me apaixonar por ela. Mas não consegui, ainda. Talvez aconteça a paixão. Talvez não. Andei falando por aí que já me adaptei. Ou que é apenas o meu local de trabalho. Falei bobagens. Eu tenho estado distante da cidade. Parece-me que faço de propósito, uma espécie de autosabotagem.

De fato, me sinto uma mera visitante entre os moradores. Turista, não. Seria insuportável me considerar uma. Não curto turismo. Nem o ecológico. Penso que são invasores deslumbrados, que nunca viram belezas naturais e saem fotografando aleatoriamente, e de tanto repetirem as imagens, elas tornam-se referências erradas de lugares maravilhosos, mas banalizados por eles, os turistas invasivos.

Quando penso em Maceió não vislumbro praias lindas, não enxergo seus altos coqueiros, não sinto o cheiro da sua maresia. Não consigo ver os lindos cartões postais. Nada disso está preso em minha memória. Talvez eu seja 'a' estranha, e não ela. Tento me apegar aos seus apelos visuais, aos seus quitutes divinos. Tento.

Pelo contrário, quando lembro de Maceió, me vem logo a noção das muitas responsabilidades que assumi, por escolha, diga-se de passagem. Não me culpo. Nem estou culpando nada. A sensação que tenho é que é uma passagem tão importante quanto necessária em meus dias. Não sei quantos dias alagoanos terei que viver. Tudo é incógnita, ainda.

Justamente. Quando sinto Maceió percebo essa minha necessidade de vencer os desafios diários, as pequenas mudanças em mim, para me tornar cúmplice desse lugar. E quando viajo, o retorno ainda é mais esquisito. Não entendo quantas pessoas podem coexistir em mim. Mas para conviver aqui, tenho que ser muitas.

Não alimento úlceras nem gastrites. Meu corpo reage nos intestinos ou nas cordas vocais. Falemos da voz. Quanto mais emoções eu vivo, ela some e fico rouca. Não consigo é emudecer. Isso certamente me causaria úlceras e gastrites.

Ainda bem que o teclado me obedece e me dá essa liberdade de expressão. Por isso, expulso essas ideias, faço terapia comigo na escrita. Depois, melhor caminhar na orla marítima dessa cidade, que ora paquero, ora rejeito, ora tento me aproximar, mas logo encontro um desvio. Quem dera eu me deparasse com um porto. Eu amaria Maceió, imediatamente.

7 comments:

  1. Sim, vc está certa, e no finzinho do texto eu percebi que o segredo da sua estabilidade é o mesmo que foi meu quando aportei em Salvador: Gente!

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  2. Ju, a chegada é assim lenta, mesmo. Aos poucos os lugares vão nos ocupando. Bons dias em Maceió. Bj.

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  3. Amigas, falei das impressões estranhas...tenho uma porção de coisas agradáveis acontecendo: o cinema acessível e maravilhoso, a sala de aula, os novos colegas de trabalho, as saidinhas, os conhecimentos e leituras novas que tenho tido a facilidade e o privilégio de conquistar...peço que não me levem (tão) a sério...ao pé da letra...risos..os bons dias também existem! Hoje foi só uma chegada estranha... mas até a uva passa!

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  4. Ju, ouça o que a cidade tem a dizer pra vc. Parece filosófico demais, mas cada cidade tem sua rotina, a gente do lugar tem seu jeito de fazer as coisas. Tem o pastel do seu zé, tem o lanche da dona maria, tem o bar badalado... e por aí vai.

    Lembre-se: às vezes encontramos no último lugar onde procuramos... bora achar!


    Bejo!

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  5. Amiga viajante, espero que se ambiente logo em Maceió. E faça dela mais que uma cidade dormitório. Força aí! Um beijo pra você.

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  6. Está certo, Edu...vou fazer uma limpeza nos tímpanos...bora achar! Bj, querido!

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  7. Cidade dormitório...risos... hj ela está mais que isso! Bj, Marcelo! Obrigada pelo carinho, de sempre!

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