O sistema é bruto

Quase sempre busco organizar a rotina. Quase nunca acerto o passo. Durmo com a sensação de que o dia podia ter rendido mais.

Daí me pergunto: a pressão por produzir mais e mais é psicológica ou resulta do adestramento que todo professor sofre, ao longo da sua carreira acadêmica? Será que em todas as profissões o copo é sempre visto, assim, como sendo metade vazio?

Sabe-se lá... sei que hoje acordei com esse estranho sintoma. Como se a mim fosse decretado que não posso desperdiçar um sábado de sol à beira-mar.

Pior que sempre que privilegio diversão ou lazer, me sinto péssima, como se estivesse infringindo as leis do que pode um professor com dedicação exclusiva fazer ou sonhar. Ter ido e amado estar no Rock In Rio me custou preciosas horas de produção.

O verbo mais adequado, produzir. Assim mesmo, sempre no infinitivo, nunca no passado. O adjetivo mais adequado, poderia ser uma das variações: produtivo, producente ou produtor. Se um docente alcança a proeza de estar, entre os mais, mais, vinculado ao grupo de pesquisadores do cnpq, então... temos um exemplo de um pesquisador ultra diferenciado...

Para conseguir esse lugar ao sol, basta de sol, de praias, novelas, passeios sem compromisso ou redes virtuais. Ou pior, basta de tempo para pensar sobre nada. Basta de pensar. Ócio? O que é isso mesmo? Uma nova regra da abnt, que preciso incorporar na forma como escrevo? Salva no meu pen drive, rápido...

Brincadeiras à parte, de fato não há tempo para pensar a estética dos textos. Não há tempo para escrever sobre outros assuntos.

Este blog, coitado, está fadado ao esquecimento. Será mais um terreno mortinho da silva da blogosfera. É que tem sido difícil manter minha rebeldia, e dedicar minhas horas para cuidar dele.

A convocação posta, para mim e outros colegas sofredores, é que precisamos escrever mais, apresentar mais resultados, publicar muito, e óbvio, comprovar tudinho, para atualizar o currículo. Mostrar produtos, como se estivéssemos numa competição desenfreada! Do que falo mesmo? Claro que estamos!

Pesquisa, extensão e ensino. Nessa ordem. Mas a carga horária dedicada à sala de aula indica que há um equívoco aí. Como posso produzir tanto, ser tão produtiva, e ser uma mega produtora se preciso ler, pensar, planejar, executar, avaliar??

Não há porque refletir sobre a ordem dessas coisas. O cerne da questão nem é esse. Educação no Brasil é tão cópia da cópia da cópia, que não me cabe discutir por quem os sinos dobram...

Por isso, preciso correr contra 'ele', pois tenho muito o que (re)produzir.