12 November 2011

Como um bom samba

Me faz um favor: vasculhe sua memória e tente recordar-se de um momento de satisfação plena, vivenciado no auge da sua juventude. Eu fechei meus olhos, respirei fundo e me lembrei... minha regressão foi assim:

Já estávamos rodando de carro há bastante tempo. Eu me lembro que estar na companhia dele me fazia perder a noção das horas. Enquanto ele dirigia, eu me deliciava com sua presença perturbadora... menvolvia em suas histórias, suas conversas fiadas, imaginando a sequência a seguir dos seus beijos e abraços calorosos... creio que amava até suas mentiras e o seu par de óculos, com uma das perninhas tortas. Amava também o seu sotaque fortemente baiano. A sua paixão pelo time tricolor (Bahia).  As suas risadas altas e contagiantes. Tudo era lindo nele. Enquanto eu viajava bem ali ao seu lado, minha paixão mais contagiante dirigia confiante, cúmplice, ciente do alto poder de sedução sobre mim. Já na Cidade Baixa, paramos na Ribeira, um dos bairros mais antigos de Salvador. E continuamos o namoro-passeio, procurando o que fazer, além do programa- padrão para todos os que ali chegavam: saborear o sorvete de coco, o mais saboroso de toda a cidade. Sei que, de repente, avistamos uma multidão cercando o tradicional Clube de Regatas Itapagipe. Estacionamos e fomos conferir o motivo daquela algazarra, no acesso principal do evento.
- Sério? Jorge Aragão vai tocar?
- É, é ele... o show já vai começar! Vamos?
À nossa volta, não havia ninguém pra dizer PROIBIDO, NÃO PODE... olhei pro meu par, a pessoa que eu mais amava estar, e claro, me joguei, prontamente! Compramos os ingressos, escolhemos um lugar e ficamos ali, dançando, cantando, rodopiando, os dois, bem longe de casa, das programações mais badaladas, da cidade alta. Era como se estivéssemos no céu. Ou num outro tempo. Jorge Aragão estava mais romântico que nunca. A gente curtiu cada música, cada sambinha. Foram horas divertidas e simples, de uma farra a dois, a céu aberto, coadjuvantes desconhecidos, presenciando a nossa alegria, numa noite mágica. Tenho a impressão de que vivi aquele amor à exaustão, aos pulos, aos segundos, como se eu já tivesse a certeza do seu fim.

Esse cara, lá de trás, me fazia rir e agir no impulso. Tinha mesmo que vir parar aqui, para tornar-se uma prova viva de que já fui assim: mais livre, mais impulsiva, muito jovem.

2 comments:

  1. Como diria Renato: somos tão jovens...

    a idade chega pra todo mundo, amiga, e isso não é ruím!

    bj

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  2. Verdade, Patiinha... a velhice é imperativa... risos.. bj

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