Aquele lilás ali..

Pensei bastante e defini que é a cor do meu momento.

Cura. Preciso de cura. Preciso me curar da ansiedade que me consome com a seleção do doutorado. Da urgência em devorar os livros, mas sem a mínima vontade de lê-los. Da necessidade de definir coisas, mesmo sabendo que o senhor tempo é quem vai defini-las.

Escolher uma cor de esmalte parece uma decisão semanal bem simples. Mas é claro que junto com a tinta, vem um mundo de expectativas pinceladas em cada dedo, em cada milímetro da existência feminina. São de tantas naturezas... são tão bobas ou tão sérias...

Só quem vive fazendo escolhas, decidindo futuros, sabe do que digo. Difícil viver nesse mundo sozinha, tendo que tomar decisões a todo momento. Começa cedo a cobrança interna. Acordo com a sensação doida de tempo perdido por entre sonhos e noites.

Amanheço cedo. Abro e fecho as retinas novamente, como quem quisesse adormecer e só acordar no tempo certo. Mas quem determina o tempo certo? Qual é o tempo certo? Qual é mesmo esse dia que quero ver chegar logo? O da prova escrita? O dia do resultado pra saber a nota da prova? O dia da entrevista do projeto? A nota da segunda fase? O resultado final?

E se eu passar? Nem tenho bola de cristal, mas minha intuição já aponta por uma nova sangria desatada de anseios. Como vai ser o dia do início do doutorado? Ou da última aula? Do primeiro encontro com o orientador? Ou o dia do início do primeiro capítulo da tese? Ou o dia do depósito da tese? Ou o dia D, da defesa da tese? E o que faço depois? Mais o quê pra eu (ter que) decidir? Mais coisas a fazer? Um mundo de artigos pra publicar? E os congressos para inscrever e apresentar trabalhos? Onde me hospedo? Quanto pago? Aonde espero? Aqui, no bloguito? Na esquina dos meus pensamentos? E como dobro para a próxima quadra? Aonde vou parar com essas sandices?

Reviro os olhos, espreguiço e volta a cochilar, mas com a mente ainda mais inquieta. É tanto barulho que ouço a minha voz perguntando atônita, com outra grande ansiedade: o que farei com as águas de março? E onde vou morar daqui a três meses? O que vou precisar comprar para o canto novo? Quanto isso vai me custar? E o que vou ter que arrumar? Quantas caixas vou precisar? Como separar o inverno do verão? Como me despedir da primavera e dos encantos das flores? Como me despeço de quem fui até agora? Eu preciso mesmo me despedir da minha rotina? Sim, já é dia. O sol está forte. Preciso me levantar. Espero que me cure. E me aponte as direções. Imitando uma querida daqui, repito com ela: estou cansada de mim...

Enquanto a manicure finalizava, foi assim: que repassei o texto acima, nessa minha veia de viajante. Depois do silêncio contido, pelo devaneio longo, agradeci e lhe disse:

- Ficaram ótimas!

Saí do salão sorridente. Olhei para as unhas muito satisfeita com minha conquista do dia. Pensei comigo: a cura está em mim. Ao menos por uma semana. Ao menos nas mãos.