26 January 2012

Dee Jay, por um dia

Vou arriscar. Falarei de uma profissão que quase nunca parei pra pensar.

Na verdade, quando me vinha a palavra "DJ" no pensamento, a associava a pessoas muito leves, sem muitas responsabilidades, que curtiam sua liberdade de criar ao máximo.

Então, a vida de um disc jockey era tida como aquelas viagens de férias de verão, com direito à praia, sombra, picolé e água fresca. Quando só temos a preocupação de agendar e curtir programinhas divertidos, sem aquele peso dos compromissos do cotidiano consumindo nossos neurônios.

Isso tudo foi assim: antes.


Hoje, quando penso nesses profissionais, e no que ouço falar das suas agendas super lotadas e concorridas, já tenho novas impressões sobre o tipo de vida que levam, e de como são suas duras viagens, do início ao fim de cada evento.

Justamente no casamento da minha sobrinha, que tive a chance de entender melhor, de como deve ser esse negócio, tão divertido quanto trabalhoso.

Comecei, obviamente, com a seleção de músicas, mas a partir das ideias dos noivos. Jamais poderia seguir apenas a minha intuição... romântica que sou, mataria todos os convidados de tanto que chorariam com as minhas musiquinhas açucaradas.

Eles me apresentaram os artistas preferidos. Iniciei a sequência, mentalmente. Vanessa da Matta, Frejat, Cold Play. Salvaram as pastas de músicas que escutam. Ouvi também a mãe da noiva, minha irmã. Ela não abria mão de Vander Lee. E meus sobrinhos? Os sertanejos precisavam fazer parte. A minha mãe pediu por Jota Quest. Quanto a mim, pensava em clássicos internacionais, que sempre tocam nos casórios da vida, como Elvis Presley, Elton John, Barry White, Simply Red, dentre outros. Imaginem, aí, como foi encaixar tudo isso?

Ah, foi muito legal. Fiquei com a cabeça na festa, endoidecendo, por quase uma semana antes do grande dia. Dormia e acordava com esse compromisso.

E na véspera, quando as subpastas ficaram prontas e consegui dividir em quatro momentos com as 'mais-mais', entrei em pânico: o DJ contratado e pago para realizar o serviço chegou, e me revelou que só tocaria música gospel.

A sorte é que só estávamos nós dois, no salão já arrumado, com as mesas, cadeiras, altar, flores e tapetes pelo caminho. Só restava a instalação do som. E lá estava eu, com meu pen drive, já me sentindo a DJ mais promissora a nascer, num dia ensolarado do mês de janeiro.

Respirei fundo e começamos a conversar. Comentei sobre o estilo da nossa família. Que os noivos eram evangélicos, mas a maioria dos convidados, não. Que não haveria espaço para lixo eletrônico nem para arrochas, pagodes e afins, sobretudo no horário do seu contrato.

Falei também da vinda dos meus irmãos, que viajaram mais de 4 dias seguidos, e que além das suas malas, carregavam muitas expectativas. De ouvir músicas baianas, de dançar muito e, obviamente, regados pelas muitas doses de cerveja e uísque, encomendados para eles.

Foi a vez dele entrar em pânico. Narrou sua triste trajetória mesclando música e muito álcool. Da sua vida de antes, quando era contratado para festas como lavagens de medicina, por exemplo. Ouvi tudo, e fui ficando mais tensa com a situação. Não poderia ser eu a culpada, por trazer de volta àquela história trágica dos seus antigos dias.

Então, conversamos por mais de uma hora. Eu precisava convencê-lo a não desistir do contrato. Seria uma loucura não contarmos com o seu som. Apresentei o meu primeiro álbum de músicas românticas. E chegamos a um acordo. Ele, enfim, topou mesclar as músicas da cerimônia com as minhas.

Quando tudo tinha sido resolvido, informei o que tinha acontecido para a noiva, que chorou nervosa. O pai dela ficou também tenso. Fomos até o salão para confirmar com o verdadeiro DJ, 'nossos' acertos finais.

A partir daí, tudo acabou em [boa] música. O primeiro momento doce, com músicas nacionais. Até Sandy e Júnior cantaram. Na cerimônia, a música gospel tocou e encantou. Em seguida, no almoço, mais baladas românticas, desta vez, a sequência internacional, que enquanto escrevo, relembro todo o contexto de antes.

Do meio pro fim, uma miscelânea bem a cara da minha família buscapé. Meus manos subiram ao palco, com voz e violão. Vários convidados cantaram. Cantei "quem sabe eu ainda sou uma garotinha?" Modéstia à parte, foi assim: um sucesso!!

O DJ se foi, satisfeito com o evento e nos deixou de presente seu aparato. E pude, enfim, fazer a minha estreia como DJ Juba. Os adolescentes se retiraram do salão. Restaram os mais velhos e aproveitamos para curtir a composição de estilos musicais diferentes, da minha última sequência.

Rolou sambinhas, axé de antigamente, forró e até lambada. Estiveram presentes Jau, Seu Jorge, Adele, Ivete, Daniela Mercury e a música final foi a mesma pensada pela mãe da noiva: Over the raimbow.

Concluo dizendo que dessa experiência, descobri que os DJs são muito especiais. Fazem chegar a música aos corações presentes. Fazem pessoas dançarem, liberarem suas adrenalinas, sorrirem mais. Fazem casais novos ou velhos se [re]aproximarem. Alguns trocam beijos e segredos no pé do ouvido. Isso é mágico.

Fazem da vida um lugar lúdico, divertido, alegre, leve. Como toda viagem de férias. E pra isso, são artistas impecáveis, que reúnem talento e sensibilidade. São seres solitários, também. Do alto, curtem sozinhos, o que eles produzem, com tanta seriedade.

Descobri ainda que essa seria essa a minha terceira vocação, intercalada com a docência e com a escrita, claro.


Aos Dee Jays, meu respeito e admiração. 

10 comments:

  1. Tia Ju, só vc pra transformar um momento quase desastroso numa crônica cheia de vida e alegria... Parabéns Leu!!

    Ludmila (a noiva) by FB

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    1. Foi maravilhoso escrever sobre algo que me afetou, do início ao fim! Quero mais... bj, tia!

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  2. Ju, adorei ler sobre sua experiência!
    Será que sua próxima vinda ao Rio, vc já virá fechar alguns eventos???
    Quem sabe!!! Acho que vc tem trejeitos pra profissão.
    Boa Sorte... bjs Raphaela (amiga da sua prima Ana Paula),

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    1. Quem sabe, né? Imagina... ser DJ Juba in Rio! Uau! Beijo, Rapha!

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  3. DJ Juba em ação, sempre apostos para animar a festa.
    Eu não me arriscaria tanto...

    bj

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    1. É muito divertido, Patiinha!! Foi uma delícia! Bj

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  4. Adorei sua experiência rs rs rs me acabei de dançar!Foi tão bom...beijos!

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    1. Os sambinhas foram todos direcionados para essa baiana tão carioca da gema! Te amo, linda! Bj

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  5. Minha amiga viaDJante...
    Horrível esse trocadilho, né? Mas o texto tá ótimo. Um beiDJo.

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    1. Marcelo, vc não perde uma oportunidade de inovar hein? Amei o trocadilho! Beijo da DJ Juba!

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