21 March 2012

Aonde está o hoje em meus dias?

Tem dia que não consigo levantar antes das oito. Fico morosa, preguiçosa, mexendo de um lado e de outro, querendo recuperar o sono perdido. O corpo pede mais cama. E fico ali, molinha, dengosa, pensando em nada. São instantâneos aconchegantes, de pura cumplicidade com minha alma. O desejo de prolongar as horas entre os lençóis me lembram um filme bom, um livro instigante ou até mesmo uma música maravilhosa, que não queremos que acabe logo. É uma fuga.

E tem aqueles dias que já levanto de pé direito, procurando o maiô da natação no escuro, sem nem abrir os olhos. Nesses dias, a minha diversão contamina tudo. A piscina parece entender e a água me conduz com leveza, como se eu tivesse nascido pra nadar, pra abraçar o mundo com braçadas vigorosas e mergulhos profundos. É uma delícia.

Tem certos dias que quero voltar no tempo e rever pessoas ou situações. Fico melancólica, tentando resgatar falas e atitudes, na intenção de mudar os rumos do presente. Fico tateando a memória e como toda boa memória, não me presenteia com detalhes, nem cheiros nem sensações de antes. Quando nostálgica, o hoje me incomoda a ponto de querer rejeitá-lo e me enfiar de cabeça no que já passou. Beirando a tristeza fico quietinha, e com o olhar distante, perdido. Permaneço em silêncio, vagando pelo passado, visitando paisagens que agora são névoas. Isso me causa muito desânimo e fico doida pra me encontrar com os meus botões e os meus lençóis, e dormir o suficiente pra me esquecer dos dissabores. É um escudo.

E naqueles outros dias que desejo adentrar uma cápsula e chegar no amanhã, ah, nesses dias me sinto eufórica, estimulada, desejando planejar o que ainda não vivi, de forma minuciosa, completa. Nesses momentos, minha concentração é intensa. Um rato pode passar embaixo dos meus pés e provavelmente vou ignorá-lo. Ou achar que é fruto da minha imaginação. Nada me afeta quando invento ou viajo sobre meus novos dias. Fico definitivamente extasiada quando projeto qualquer coisa nova. Isso me dá mais ânimo para acordar cedo, de pé direito, e conseguir chegar rápido na academia, especificamente na raia de número 2. É um encontro.

Uma rotina muito estranha. De intervalos descabidos. De estímulos e retrocessos. De momentos incríveis mas com lembranças doentias. De sensações de prazer ou de dor. De encantos. De enormes saudades. De esperanças. De prisões. De medos. De desejos. De conquistas. De novas projeções. Será [sempre] assim?

7 comments:

  1. Um belo exemplar de uma mulher cíclica. Ou de fases, como cantaram os Raimundos.
    Aproveite seus hojes, amiga Viajante.
    Um beijo!

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    1. Ai, Patiinha... já fui chamada de algo assim, lembra? Seu amiguinho amava me rotular!! Risos... beijo, amiga!

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  2. O hoje por vezes projeta o amanhã, por outras relembra o ontem. Mas quando se vive o hoje de fato, sem as projeções ou lembranças?! Faço minhas as palavras da bela comentarista do "IMD": "Aproveite seus hojes, amiga Viajante." Beijo!

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    1. Tá seguindo meu rastro? rs

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    2. Ok, Luiz... vou tentar... especialmente hoje, foi um dia maravilhoso! Bj

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  3. Um dia assim, outro assado... melhor que seja desse jeito, amiga viajante. Já pensou se fossem todos iguais? Bela reflexão, bastante filosófica. Agradeço muito seu emocionado comment sobre meu texto mais recente. Um beijo e boa semana.

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    1. Sabia que fico ansiosa pela sua leitura? Percebi que só parto para uma nova aventura depois que me visita... como diz o povo aqui: etcha... estou viciada em consoantes reticentes! Bj

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