28 May 2012

Projac, que nada...

Eu já sabia que era assim. Desde que aqui cheguei, lá em 2010, sabia que era assim. Mortos na orla. Crack adoecendo e viciando jovens. Famílias destruídas. Assaltos. Tiroteios. Estupros. Grávidas adolescentes. Mais mortes na esquina, no trânsito, a céu aberto.
O azul piscina do mar da Pajuçara, ou a belezura da praia de Ipioca. Tudo lindo no cartão postal. Tudo bem blue, como nas imagens editadas dos casais perfeitos do facebook.
Os ricos, os donos do comércio, do turismo, e também os turistas, todos parecem desconhecer ou fingem desconhecer esse cenário sangrento, sujo, doentio, que se transformou Maceió. Mesmo com o caos instaurado, não há investimentos sociais. Não há policiamento suficiente. Estamos sem proteção de nenhuma natureza. À mercê da sorte.
Enquanto escrevo, a televisão me convida para fazer parte dessa parcela 'iludida'. Ouço propagandas do governo deste Estado, com índices e notícias vazias de significado. O tema violência, junto com educação, são os alvos do discurso politicamente correto dos políticos locais, ávidos por votos no segundo semestre.
No bairro em que resido, onde construí minha rotina em Maceió, aonde tenho vontade de estar e até penso em comprar um imóvel, é neste lugar tranquilo, com uma orla adorável, que as cenas de violência urbana tem se apresentado mais fortemente. Duas mortes, em duas semanas. Claro que a visibilidade nos dois casos tem relação direta com a classe social das vítimas. Um empresário, um médico.
Sabemos que outros tantos morrem pelas ruas. Caminhando por aí, observo a miséria alheia, os moradores de rua consumindo drogas, dormindo em papelões, fétidos, barulhentos ou silenciosos, mas, infelizmente, invisíveis para a maioria de nós.
Esses que não enxergam quase nada, também não percebem a mudança da lua. Nem sabem como valorizar a natureza abençoada nas alagoas. Fato que os mares e coqueiros festejam a chegada dos ventos e a temporada da chuva. Coitados, não sabem que aqui somam palcos de dores, de horrores.
E a vida [ou a morte?] segue assim, por essas terras. E claro, estou ciente de que vivo num Estado-photoshop.
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O título é uma ironia, a partir de outra. Uma amiga querida apelidou a ala que moramos de projac, cidade de mentirinha e cenográfica da Globo, digo, da parte 'lindinha' de Maceió.

14 comments:

  1. Ju, não há photoshop que esconda esta triste realidade.

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    1. Mas engana MUITO os desavisados... uma tristeza.

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  2. Muito triste, amiga...mas Salvador não está diferente. Há 15 dias houve uma morte na porta do meu prédio, as 20h, com a rua super movimentada.
    fiquei triste e temerosa por todos nós: vítimas e "bandidos".

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    1. Mari... o problema não é local. E ainda acho que a miséria e a violência tem relação direta com o aumento do consumo do crack.

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  3. Menina, Ju, cada dia me surpreendendo. Nem sei porque uso essa palavra "surpreendendo", pois sei desde sempre da sua sensibilidade, da sua competencia linguistica, do seu amor as letras, as historias e a vida. Amei o "PROJAC", bem como estou tietando todos os outros textos. Beijococas daqui da Banco dos Ingleses que virou noticia dos noticiarios nada "Projactianos" ultimamente.
    Claudinha V. by FB

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    1. Fofa! Venha conhecer o projac alagoano... vamos nos divertir muito!! Bj

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  4. O país assolado pela miséria e a maioria insistindo em olhar pro mar...

    Outro dia ouvi um notícia dizendo que Salvador já é a capital onde a violência mais cresce.

    Insuportável viver assim. Até quando?

    bjo, amiga, excelente reflexão.

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    1. "quando a gente fica em frente ao mar, a gente se sente melhor...".Nando Reis é um poeta.

      Creio que o mar acaba sendo um bálsamo, mesmo.
      Bj, amiga!

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  5. Como sempre muito sensível a tudo Jusciney Carvalho! Pois é... não por acaso pensei no Projac...

    Ana,autora do apelido PROJAC, pra Maceió. by FB

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    1. Ana, você mandou muito bem com a denominação.... o nosso projac está vulnerável... muito tenso, isso. Bj, amiga!

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  6. Olá,
    Sempre que visito a Paty vejo seu rostinho por lá.
    Hoje resolvi dar uma paradinha para visitá-la.

    Pena que não exista um lugar no planeta onde possamos estar a salvo das drogas e da violência. Uma pena que a linda Maceió também esteja
    com sua bela paisagem contaminada.

    Beijo.

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    1. Olá Vera! Seja bem-vinda... bom que te atraí... risos... vamos manter contato! Também vou te visitar... e Maceió é o reflexo do caos e letargia dos políticos... uma pena, mesmo.

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  7. Não tinha essa ideia de Maceió...
    Seu texto combina ironia e denúncia, e o resultado final - como todos os demais de sua lavra - ficou ótimo. Um beijo e uma ótima semana, minha amiga viajante.

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    1. Oi Marcelo! É isso... a mídia e as agências de turismo trabalham bem.. risos... beijo e obrigada pelo elogio...!!

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