25 September 2012

Ela fala sobre nós

Os dias que eu me vejo só
são dias que eu me encontro mais
e mesmo assim eu sei tão bem
existe alguém pra me libertar.
Condicional, Los Hermanos

Escrever sobre meus devaneios parecem fazer mais sentido quando estou em minha companhia apenas. Gosto de ser só, de estar só, na maior parte do tempo. Para ir ao cinema, caminhar na orla, ler, perambular em lojas e supermercados, blogar, estudar, cuidar do meu canto, da limpeza, dos armários. É tudo bem terapêutico. Enquanto me ocupo, aparo arestas. Gostar de estar sozinha para ouvir minhas músicas, experimentar novas receitas na cozinha, pesquisar na internet, assistir novelas, seriados, ou ver um filminho gostoso, em dia de chuva forte. Gosto, na mesma medida, de comer junto, ver televisão junto, dormir junto, acordar junto, e ter mesa cheia, com gente falante, inquieta, que grita, que ri, ou que pede silêncio para [não] fazer oração nenhuma, apenas para comungarem de um mesmo tempo, num mesmo espaço físico. O silêncio, muitas vezes, é carregado de sentidos, significados e cumplicidades. E as viagens? Ah, não existiriam meus diários de bordos se eu não estivesse literalmente sozinha observando cenas, cenários, pessoas, lugares, o sol se pondo, o trânsito acontecendo, as mudanças no formato das luas e as danças dos coqueiros.
Martha Medeiros, em sua coluna no Jornal Zero Hora, escreveu uma crônica trazendo essa reflexão: de como é bom [e vital] aprender a ser só, e a viajar sozinho. E, obviamente, me encontrei em tudo.
E foi assim: que viajei nas ideias dessa escritora-viajante, que me parece fazer uma análise sensata sobre as relações humanas, nesse mundo contemporâneo. Segue abaixo, um trecho muito bacana:
"Poucas pessoas gostam de viajar sozinhas. O que é compreensível: a melhor modalidade é a dois, também acho. Mas, na ausência momentânea de parceria, por que desconsiderar uma lua de mel consigo mesmo? Uma amiga psicanalista me disse que não é por medo que as pessoas não viajam sozinhas, e sim por vergonha. Faz sentido: numa sociedade que condena a solidão como se fosse uma doença, é natural que as pessoas se sintam desconfortáveis ao circularem desacompanhadas, dando a impressão de serem portadoras de algum vírus contagioso. Pena. Tão preocupadas com sua autoimagem, perdem de se conhecer mais profundamente e de se divertir com elas próprias. (...) Solitários, somos todos, faz parte da nossa essência. Não é um defeito de fabricação ou prova de nossa inadequação ao mundo, ao contrário: muitas vezes, a solidão confirma nossa dignidade quando não se está a fim de negociar nossos desejos em troca de companhia temporária. E a propósito: quem disse que, sozinho, não se está igualmente comprometido? Numa praça em Roma, um casal de brasileiros se aproximou. Começamos a conversar. Lá pelas tantas, perguntei de onde eles eram. “De São Paulo, e você?” Respondi: “Nós, de Porto Alegre”. Nós!!! Quanta risada rendeu esse ato falho. Eu e eu. Dupla imbatível, amor eterno, afinidade total." Martha Medeiros ZERO HORA, 19/09/2012.
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E que fique bem claro: não se trata de uma apologia à solteirice eterna. Se voltar no trecho da música do início, ou tiver a felicidade de escutá-la na íntegra, vai perceber imediatamente que não, eu não estou vestindo bandeira de causa alguma. Provavelmente nem ela, ao escrever sobre.

8 comments:

  1. Concordo com vc tem momentos que estar só, é quase uma terapia, também curto fazer minhas coisas no silencio, principalmente da noite. Por ser filho único aprendi tirar proveito e vantagens de ser só, acho que a solidão é um ponto de vista, e ser só, não significa que vc é solitário, conheço muita gente que rodeado de pessoas e se sente sozinho. É tudo muito relativo, gosto de curti meus momentos só, mas também gosto de curtir meus momentos acompanhado.

    Abraços, estou seguindo aqui

    http://rebobinandomemoria.blogspot.com

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    1. Olá Marcos, fique à vontade... a "estrada" aqui é sua!! Um abraço!

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  2. Oi Ju, adorei a reflexão. Leio sempre a Martha aos domingos na revista que vem dentro do O Globo. A solidão às vezes é uma boa companhia e às vezes é cruel. Engraçado que tem gente que não vai ao cinema sozinho por medo do que os outros vão pensar. Eu já fui várias vezes e não me incomodo. Enfim, é muito complexo isso tudo! Beijos!

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    1. Ah... eu amo ir ao cinema sozinha.... gosto de ir a dois, a três, e até de completar uma fileira inteira, como já fui com manos e sobrinhos. Esse é o meu programa predileto, então, basta estar num shopping, com tempo livre e sessão sendo iniciada que não penso duas vezes. Me jogo! E não acho que é complexo ser livre para se fazer [só] o que se quer. O problema é que vivemos num mundo cheio de regras, cheio de imposições sociais...isso sim é chato, pra dedéu....risos... outros beijos!

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  3. Simplesmente A.D.O.R.E.I , traduz exatamente o que sinto, como é pra mim. Eu sou uma solitária profissional, adoro estar na minha companhia, mas amo tudo q foi descrito: amo amigos, família, gente, ser humano, pessoas. Sim, aquele barulho todo só me faz pensar, ahhhh como gosto de ficar sozinha!! Eu tenho um hábito que até então se julga masculino, pegar o carro e dirigir por horas e horas, parar em um lugar qualquer e observar as pessoas, suas rotinas. Engraçado quando viajei de férias tive um pouco de vergonha de esta sozinha, era a minha lua de mel comigo mesma kkkkk mas lá encontrei várias pessoas também curtindo sozinha, e nós fomos sozinhos curtir juntos. Boa boa mesmo!!

    Via FB

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    1. Que legal, Gi! Bom quando a gente que escreve com liberdade num blog, tem esse retorno assim, tão expressivo... vou levar pra lá, pra não se perder.... e pra valorizar...kkkkkkk beijo!

      Via FB

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  4. Martha é uma amiga dos solitários, entende suas almas como ninguém!
    Tem horas que tbm quero ver minhas séries e novelas a sós comigo mesma. Sem vozes. No máximo comentários via computador.
    Aprendi a ser só tbm e ando com uma saudade "retada" da minha solidão-amiga-do-peito.

    bj

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    1. Ai... é bão demais.. eu não largo de mim... risos... beijo, amiga!

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