13 September 2012

Estradas, mares e corais

"Viajar é um ato de desaparecimento, escreveu certa vez Paul Theroux, um dos escritores mais bem-sucedidos na arte de narrar suas andanças pelo mundo. É uma frase ambígua, pois parece verdadeira apenas do ponto de vista de quem fica. O viajante realmente desaparece pra nós – aliás, desaparecia, pois nestes tempos cibernéticos ninguém mais consegue manter-se inalcançável. Já para aquele que parte, viajar não é um ato de desaparecimento. Ao contrário, é quando ele finalmente aparece para si mesmo."

Um autor dentro de outro. Agora, dois autores dentro de mim. Quando me ler, dois autores dentro de nós. Não é mesmo fantástico viajar pela leitura? Confesso que amei essa citação daí de cima. É exatamente assim que concebo uma boa viagem: quando me encontro, e melhor ainda, quando desapareço até para mim, tamanha a força de ser sugada pela experiência do novo lugar, da nova cultura, dos novos sabores, do povo que ali reside- com seus sotaques, rotinas, crenças, jeitos e trejeitos.
Concordo que o aparato tecnológico com direito à gps, whatsapp, facebook e câmeras, aplicativos ativados nos celulares, nos intimidam a nos mantermos "conectados". É como se para viajar, precisássemos também ser monitorados. Amigos e familiares cobram pelo "check in", pelo envio das imagens mais recentes. Talvez para acompanhar. Talvez por saudade. Talvez por segurança. E nós? Ah, talvez por vaidade. Ou tudo junto. Penso ainda que essa é uma realidade virtualizada que parece fazer parte do grande boom cibernético do século XXI.
Devaneios à parte, certa vez compararam a forma como escrevo com a de Martha Medeiros. Fiquei feliz em ser lembrada e comparada com essa autora, a quem admiro bastante. A minha pretensão com a escrita é, sem dúvida alguma, somente a de me acalmar. Não sei qual é a dela. Só sei que é uma escritora renomada. Eu sou apenas uma blogueira iniciante, uma mera aventureira nesta área.
Quando digo que [a escrita] me acalma, é noutro sentido. Blogar me acalma porque me sinto mais livre, mais vazia, e paradoxalmente, mais completa; é como se eu tivesse que escrever para me sentir melhor, ou ainda mais calma. 
Os escritos mais urgentes são, sem dúvida, quando parto para algum novo roteiro, ou retorno de uma viagem memorável. O feriado de sete de setembro, foi [mesmo] assim:
Tudo começou cedo, exatamente no raiar do dia 7, ainda em casa. Duas amigas cumpriram a promessa e desembarcaram em Maceió na madrugada. Ainda cansadas com a noite mal dormida, decidimos redescobrir as praias alagoanas, antes de chegarmos para as pernambucanas já agendadas. 
Pós engarrafamento na cidade, graças às comemorações locais pelo dia da independência [a meu ver, deveriam repensar o quê e como se comemora essa data], visitamos a Praia do Gunga, num dia chuvoso. De lá nos despedimos com raiva e com pressa. Não avistamos o azul do seu mar, nem fomos abençoados com sua beleza selvagem. Uma pena. 
O almoço, ou quase jantar, aconteceu às quatro da tarde, quando aportamos em Massagueira, uma colônia de pescadores, que fica a 15 km de Maceió. Na verdade, um paraíso a céu aberto, que une a lagoa Manguaba aos vários bares rústicos e restaurantes, todos com cardápio farto, contendo um festival de opções de moquecas, peixes e iguarias típicas dessa região. Um encontro do rio com o mar, lindo de se ver num fim de tarde. Eu fiquei impressionada comigo, em ter perdido tanto tempo sem apreciar de perto esse lugarejo simples e perfumado. 


é natureza viva... existe de verdade!!
Já com o pôr do sol despontando no horizonte, chegamos até a Praia do Francês. Nosso objetivo era conhecer uma das praias mais famosas do sul alagoano e, de quebra, chegarmos até a barraca de praia da tia de um dos nossos amigos. Logo que a localizamos, procedemos ao envio de fotos. Ele, de lá do Rio Grande do Sul, ficou emocionado e saudoso. Ai, Martha [Medeiros] viva a tecnologia!
Logo mais à noite, outro momento maravilhoso. Tempo para um bom vinho tinto, carpaccio, camarões, patos e polvos. Em volta da mesa, reencontramos um casal de amigos. Ela, pertencente aos anos 20. É que nos conhecemos quando ainda não estávamos na casa dos 20. Nossos anos dourados, recheados de passeios, festas, lavagens, farrinhas tranquilas dos nossos tempos juvenis. 
Descrevo como uma senhora da terceira ou quarta idade, mas é que temos tantas histórias que me sinto narrando-as, resumidamente, para os netos que nem existem. É que a noite foi muito mais que gastronômica, foi divertida mesmo!
parte das oncinhas
barraca Arinkindá-Praia dos Carneiros 
No dia seguinte, tomamos o rumo norte. Quase 180 km, estrada a dentro. Percorremos por três horas entre curvas sinuosas, uma parte de mata preservada e coqueiros festejando a vida, ao longo de toda costa do litoral. Visão paradisíaca, de um canto a outro. Desconheço cenário mais rico e verde-azul que esse daqui. Entre Pernambuco e Alagoas, dirigir é realmente uma delícia. Também não foi difícil chegar, com minha seleção de musiquinhas embalando. Conversas hilárias entre as onças e os melhores [apelidos dos grupos] e um outro paraíso à nossa espera: enfim, a praia dos carneiros, a 5km de Tamandaré, aonde nos hospedamos juntamente com meus dois primos, o casal Elis e Walter, nossos anfitriões e companheiros dos dois dias lindos, de sol e comilanças sem fim. 
E eu que nem gosto, fui turista por algumas horas. Navegamos com outros tantos. Visitamos recifes, corais, e até banho de lama [eca] eu decidi tomar. Não, não vou publicar essa imagens com cheiro de argila... não, mesmo.
primos, delícia de reencontro
na barraca Arinkindá-Praia dos Carneiros 
É bem certo que nessa viagemzinha eu  não me perdi ou desapareci. Me reencontrei com o carinho das amigas. Com o cuidado dos primos. Com o cheiro de maresia. Com a leveza e a doçura dos coqueiros que me cercam. Com as ondas tranquilas do mar mais lindo que já conheci. Essa obra divina foi, intencionalmente, criada para fazer desaparecer em nós qualquer dor ou aflição. É um lugar pra se amar. A dois, tanto melhor. Espero retornar lá para [quem sabe] desaparecer a dois. Ou reaparecer para muitos, com todos os meus bem perto: família, amigos, onças e os melhores. Por falar em melhores, o melhor mesmo é estar em boa companhia, seja aonde for.

um cara de pau bem sério, não riu pra mim...
na barraca Arinkindá-Praia dos Carneiros 

10 comments:

  1. Pela fotos e pelo relato, deve ter sido mesmo uma delícia de viagem, Juba.
    Ainda mais acompanhada das suas amigas queridas... eita farra!

    bjo!

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    1. Foi uma delícia, sim!! Você e Luiz irão comigo, com certeza!! Beijo, amiga!

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  2. Mais um post legal!
    Adorei!
    Final de ano, teremos uma galera grande ai!!!

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    1. Ai, vai sim... estou muito feliz com a promessa de ano novo chegando...risos... um abraço!! Beijo, querido! Você é um dos melhores e mais fofo... risos....

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  3. Amei amiga.....como sempre mandando super bem nas palavras....bjjjsssss

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    1. Textos longoooooooo... risos... desculpas... tinha muito mais o que narrar, mas tenho me policiado o quanto posso e consigo... risos.. beijo!!!

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  4. Como você se divertiu, hein, Ju? Pelas fotos e pelo texto já dá pra imaginar o quanto que foi bacana. Ainda citar a maravilhosa Martha Medeiros só deixou o post ainda melhor. Bjsss

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    1. Foi bão demais! Obrigada, Sérgio, pela visita constante!! Beijo!

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  5. Realmente, a citação é profunda e verdadeira. E pelo seu diário de bordo, a mais recente empreitada turística há de ficar na lembrança. Muito bom, amiga viajante. Um beijo pra você.

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    1. Já... ao menos na memória do blog, já... risos... descarrego na escrita, pra me lembrar depois, na riqueza dos detalhes... um beijo!

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