4 September 2012

"...como ver o mar..."

Já li a mesma frase umas trocentas vezes. Já ouvi muitas pessoas também repetirem essa máxima. Não deve ser mentira. Como algo falso poderia ser propagado com tanta exatidão? Aposto que se dissessem isso, naquela famosa brincadeira "telefone sem fio", ainda assim, a mensagem seria idêntica: o amor chega quando menos se espera!
Ocorre que a maior parte das pessoas não está preparada para comemorar sua chegada, sem suportar a espera, sem criar expectativas, sem curvar-se à ansiedade. Mas concordo, ora bolas. Também acredito que paixões arrebatadoras, ou histórias lindas de amor, acontecem naturalmente, sem hora marcada, cabelos alinhados e unhas perfeitas. E geralmente nascem de repente, do nada, quando menos estamos adequados fisicamente. 
Pensando nessas coisas, resolvi narrar um encontro inusitado, que resultou em amor, só não sei se pra vida toda, ou "até que a morte os separem". 



Foi assim:

Dia de sexta-feira. O sol estava forte lá fora. Dentro, o aeroporto estava bastante movimentado, com muita gente circulando e muitos avisos irritantes e repetitivos das cias aéreas. Homens, mulheres, crianças, adolescentes, malas, carrinhos, e balcões lotados, com passageiros quase desequilibrados, à espera de uma solução para o atraso aéreo. 
Na sala de embarque, lá estava ela, sentada muito à vontade, olhando os cenários à sua volta, distraída. Não aparentava estar entediada. Ele a observava de longe, já encantado com aquela pequena de olhar distante e pernas cruzadas. Parecia estar num parque, não num aeroporto. Ele pensou melhor e achou que ela ficaria bem, em qualquer lugar, até em sua sala, sentada do mesmo jeito, em seu sofá, com ele ao seu lado, sentindo o seu cheiro e desfrutando das suas horas.
Por sua vez, ela percebeu que estava sendo observada. Uma mulher geralmente sente quando alguém a olha de forma diferente. O sujeito pode estar atrás, de lado, longe ou perto. A verdade é que toda mulher sabe quando é alvo de um olhar interessado. Este era o caso. 
Então aproveitou o tempo ocioso e considerou oportuno brincar de encará-lo. Pensou com malícia: vamos ver quem desgruda o olho de quem primeiro. E o tempo passou. Minutos se passaram. Talvez meia hora. Ficaram se olhando, se conhecendo, se admirando, se estranhando, por longos segundos. 
Enquanto o fitava, se lembrou de uma música adorável, que diz mais ou menos assim: "quando dei por mim, nem tentei fugir, do visgo que me prendeu, dentro do seu olhar..."E se emocionou pois entendia o que estava por vir.
Em paralelo, o caos naquele lugar persistia, alheio à situação que se desenhava. Parecia nem existir para os dois.  Ou parecia ter sido obra divina encomendada para os dois. Ai, um encontro amoroso [não] marcado! Um de frente pro outro. E, como que estivessem encantados, sorriram ao mesmo tempo. 
Foi assim que ele tomou coragem, veio até ela, e lhe perguntou:
- Oi, você aceita tomar um café comigo?
Ela, aturdida e feliz, com a atitude daquele estranho de olhar encantador, respondeu prontamente:
- Claro! Eu topo!!!
Nem se reconheceu, naquele momento, ao afirmar com tanta ênfase simplesmente um "eu topo", como quem topasse participar do próximo bolão da megasena. Mas bastante atenta à sua intuição, levantou-se animada, e lhe ofereceu as duas mãos. Ele abriu o sorriso mais largo do universo, e de mãos entrelaçadas, continuaram se fitando, menos intimidados e mais cúmplices; a partir daí, choveu um festival de perguntas e respostas, algumas previsíveis, outras insensatas.
Foi assim que seguiram juntos, caminho [lotado] a fora, de mãos dadas, olhares cruzados, arrastando com eles, desejos e  bagagens. Sem dúvida alguma, o melhor lugar do mundo era ali, no silêncio inundado das experiências dos dois, amantes de primeira viagem. Ou melhor, amantes de primeira escala forçada, num aeroporto qualquer. O amor chegou numa espera.

                             
                                   *título e trecho do post, música  "Todo azul do mar", de  Flávio Venturini
**imagem bonitinha e livre na internet.

14 comments:

  1. Parabéns Ju!
    O encontro no aeroporto foi uma delícia!
    Que devo fazer para receber sempre o novo post?
    Beijo

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    1. Oi querida! Vou cadastrar seu e-mail, assim receberá sempre!!! Um beijo!! Seu blog está maravilhoso... dicas ótimas de leitura... parabéns!!!

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  2. Ai, que belo! O amor é assim mesmo, como diria Djavan: "invade e fim".

    Que essa caminhada seja longa e suave.

    bj!

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    1. Patiinha... amo essa música de Djavan. Isso foi/é um quase-conto... tomara que aconteça, seja longo e suave... risos... beijo!

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  3. Tentei pensar em uma música românticamente adequada e só veio: eu quero tchuuuuu, eu quero tchaaaaa, eu quero tchu tcha tchu tcha....

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    1. Qualquer música combina com esse casalzinho fofo, inventado por mim... risos... beijo, amiga!

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  4. O texto ficou lindo, Juba! E esses amores, ah amores deliciosos, os melhores... Inesperados, mas sempre velozes... Bj,

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    1. eu tô numa fase que "qualquer paixão me diverte"... até mesmo num quase-conto.. risos... que bom que ainda assim, alguém acha lindo!!! Outros beijos.

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  5. Que linda história de amor á primeira vista, Ju. O amor costuma ser assim mesmo, pena que nem sempre seja correspondido. Beijos e bom feriado.

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    1. É verdade... histórias de amor contadas na escrita, no cinema, na fotografia, na televisão, enfim, nas artes, são todas bem bonitinhas... risos... um abraço, Sérgio!!

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  6. Ótima história, quando leio algo assim sempre passa um filme na minha memória. Histórias de amor são sempre interessantes.

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    1. Olá Bruno! Que bom que gostou... e seria ainda melhor que esse quase-conto fosse mesmo verdadeiro... risos... um dia será! Um abraço e volta sempre!

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  7. Minha amiga viajante anda romântica demais ultimamente. Tem algo de autobiográfico aí. Ah, tem...
    Um beijo e parabéns pelo texto.

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    1. Marcelo, eu sou muito romântica!! Mas isso pode até ser uma projeção do meu-romântico, mas não se aplica à minha realidade, por ora... risos... beijo, querido!

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