24 September 2012

Tal pai, tal filho


Ficaram traços da família, perdidos nos jeitos dos corpos. 
    Bastante para sugerir que um corpo é cheio de surpresas*.  
Hoje é o dia dele. Mas a festa, sem dúvida alguma, é nossa. Há 44 anos exatos ele nasceu e com ele, um ser humano altruísta, que sempre consegue um jeito de manter todos por perto, de preferência em volta de uma mesa com muita comida e algazarra.
Entre os meninos, é o meu irmão do meio. E embora tenha ficado "espremido" dividindo a atenção dos pais, concluo que isso não é relevante pois soube conquistar seu espaço na família, e entre nós, de forma especial e intensa. Hoje esse post é para ele.
Deca, apelido desde a infância, é o meu pai outra vez. Ele aprendeu a ser o "provedor" desde que seu filho Lucas nasceu. Talvez antes disso. Mas vem assumindo esse lugar com muita sabedoria. 
Assim como nosso pai, é do tipo que vai ao mercado e traz "novidades" para o café, para o almoço e para o jantar. Passa nas casas dos parentes e vai distribuindo sorrisos e gargalhadas. Lógico que Lucas está sempre ao seu lado, imitando ele até no modo de se vestir. Certamente será o meu pai, número 3, por enquanto na versão-miniatura.
Também costuma viajar de carro, pra lá e pra cá, como um caixeiro viajante, exatamente como o nosso pai. Talvez nem ele tenha notado tantas semelhanças, mas eu com essa mania de escrever em datas importantes e comemorativas, me dei conta hoje, disso tudo. 
Meu mano é dentista formado e profissional dedicado, mas ama mesmo é sua roça. Todo mês ele pega seu carro, faz uma mala com poucos itens, coloca Lucas na sua cadeirinha, e juntos viajam horas e horas, somente para estar entre os outros dois, na roça, acordando com o cantar do galo e os sons dos ruminantes.
Outra grande semelhança: é bastante econômico. Ai, quem me dera ter herdado esse talento com os números, essa competência dele, absurda, em saber lidar com recursos. Minha mana siamesa diz que ele faz milagres com seu dinheiro! Eu concordo e admiro, embora critique por ser tão "controlado".
Por falar nisso, vou contar sobre uma sociedade furada que nos metemos juntos. Foi assim: lá atrás, na década de 90, decidimos montar um negócio, uma pequena empresa e optamos por uma loja de acessórios e roupas femininas, quando retornamos de Salvador para Vitória da Conquista. Eu tinha acabado de me formar em Pedagogia e não sabia o que fazer ainda. Ele tinha desistido de cursar Engenharia em Minas e estava estudando para o vestibular de Odontologia. Claro que ele não gostava da loja. Não tinha nada a ver com ele, a proposta de atender e convencer alguém a comprar coisa alguma. Um libriano não combina com vendas. Mas se divertia nas tentativas. 
Ele aprontou umas poucas e boas como sócio. Para driblar o tempo ocioso em que "tomava conta" da loja, Deca aproveitava para estudar matemática e física. E como é econômico, imagina se ele compraria um caderno para fazer de rascunho. Claro que não! Ao invés disso, para responder questões abertas, resolveu usar os talonários de notas fiscais da nossa empresa. Isso nos garantiu uma multa na receita federal e decidimos fechar o estabelecimento, porque dois aéreos juntos, não se combinavam na arte do comércio de rua. 
Até hoje rimos dos sócios bobinhos e inexperientes que fomos. E até hoje me espanto com as palavras difíceis que ele pronuncia para explicar eventos simples, que nos ocorrem. Culpa das suas leituras e leituras prediletas. No meio de uma conversa, lança mão de palavrões como "idiossincrasias" ou "inexorável". Uma comédia de dicionário-difícil-ambulante.
De tudo o que mais me impressiona nele é sua paixão pelos seus manos. Aliás, pela família inteira. Mas com aqueles dois, o mais novo e o mais velho, tem um elo inquebrável, bem parecido com o elo que me une com minhas duas manas, a do meio e a mais velha. 
Além disso, tem outras qualidades e virtudes. É chatinho, também. Ama tocar violão por horas. Essa é a prova viva de que herdou um talento lindo do nosso velho. Quando toca e canta, nos emociona e nos contagia com sua sensibilidade e amor que transborda em todas as baladinhas que escolhe.
Quando eu nasci, ele já estava com 1 ano e 5 meses. Certamente me tratava como a um bebê. Hoje somos dois adultos e ele continua me tratando como a menina de antes. Um fofo. Assim, dedico essas linhas em forma de homenagem dessa sua mana, que está com muita saudade, e que mesmo longe procurar estar sempre presente e por perto.Saiba que te considero muito lindo, de sorriso lindo, de olhar transparente. Você é um paizão maravilhoso, não somente para o fofo do nosso sobrinho, que é sua cara, cuspida e esculpida. 
Você é pai meu, dos manos, das manas, dos sobrinhos e da nossa mãe, que tem em você o protetor, em tempo integral. Tomara que que você continue com essa alminha romântica, tão sua e tão verdadeira. Eu te amo, por ser o irmão/pai que é, e por cuidar da nossa família, em solo acreano, exatamente como nosso velho o faria.

                                        *in Antologia Poética de Carlos Drummond de AndradePublicações Dom Quixote, Lisboa, 2001.

20 comments:

  1. Tia você conseguiu traduzir Tio Deca!! Linda homenagem!! Beijoss

    ReplyDelete
    Replies
    1. Traduzir, sobrinha? kkkkkkkk essa menina da saúde é um negócio sério... risos... beijo!

      Delete
  2. Mana...nós dois(eu e Deca) somos os manos do meio...acho que temos um ponto de equlíbrio entre o deslumbre dos primeiros e a ingenuidade dos últimos!!ele eh tudo isso ai mesmo,esse carinho esse dom de querer saber se todos estao ,literalmente em ordem com a sua vida!!um beijo..fica bem pois eh amada por todos nós, pelo seu jeito meninona,às vezes...mas que eh só emoçao,calor e sabedoria!!bjss

    ReplyDelete
    Replies
    1. Eu? Mas é bom saber que tenho imagem tão lindona assim... Penso que somos 6, e somos todos emocionados e calorosos e sábios.. seu Waldemar de Carvalho Santana e Dona Marinalva Costa Gonçalves mandaram bem no trabalho de criar 6 seres tão humanos... risos... beijo!

      Delete
  3. Ju, essa família sua é tudo mesmo!

    Um grande abraço pro libriano ruím de vendas, mas com certeza um ótimo filho e irmão.

    bjo!

    ReplyDelete
  4. Berê (mãe do Lucas, esposa do aniversariante e cunhada da Viajante)24 September 2012 at 21:24

    Ju querida vc é foda! Que texto danado de lindo!

    ReplyDelete
    Replies
    1. Ebaaaaaaa... que bom que gostou, minha cunhada! Seu maridão é meu mano maravilhoso, que eu amo demais! Beijo

      Delete
  5. Um texto pra moldura e lugar de destaque na sala do seu mano. Muito bom, amiga viajante. Um beijo pra você.

    ReplyDelete
    Replies
    1. É né? Também gostei... risos... beijo, querido!!!

      Delete
  6. olhe mana,sou muito apaixonado por todos vcs.tenho orgulho de nascer no seio de uma familia tao linda como a nossa,viu?realmente me envolvo muito com o desenrolar das vidas de todos nos,sempre buscando dar uma alta performance à nossa interação,sabe?me sinto especialmente honrado de te-la como irmã e confesso q sua postagem me fez os olhos ficarem umidecidos,ta?axo q arrasto lucas pra roça no afã de leva-lo à infancia q todos nos tivemos:liberdade,humildade,beleza e muita felicidade(quando me lembro de todos assando milho verde na fogueira de são joão ....)!amo todos vcs!!!!!!!!milhoes de bjs!!!!!!

    ReplyDelete
    Replies
    1. ohhhhhhhh quem está chorando agora sou eu.... risos... te amo, mano... eu tenho certeza de que Lucas sabe o pai que tem... nós já entendemos... beijo!!

      Delete
    2. eu tento(sei como é dificil)ser um exêmplo de bondade,carinho,humildade e tudo de mais agregador que possa nos guiar para uma existência feliz.nem preciso dizer q ele é a minha vida,ne?te amo mana!!!!bjssssss!!!!!!!!!!

      Delete
    3. Lindo tio... todos nós te amamos!!

      Delete
    4. Mano, você é um exemplo sim.... e Lucas vai aprender a ser simples e dar valor à família... eu acho até que já aprendeu... beijo!

      Delete
    5. Não é à toa que Ludmila te chama de paizinho... risos... ela, aliás, tem 4 pais, né? Você, Poeira, Mô e Tiano...kkkkkkkkkkkk

      Delete
  7. Ju, que texto maravilhoso, pura emoção! Parabéns para seu irmão que tem a felicidade de ter uma irmã como você.

    ReplyDelete
    Replies
    1. Fofa! Nós somos uma família buscapé, cheia de problemas, como todas as famílias normais... talvez o nosso amor, ou nossa união, seja sim, exageradamente grande... risos... beijo!

      Delete
  8. Que linda homenagem, Ju! Adorei a foto postada por você e mostra uma felicidade muito tocante. Beijos!

    ReplyDelete
    Replies
    1. Oi Sérgio! Somos grudados demais, como uma corda de caranguejo, nada frouxa...risos... adoro essa foto, também. Foi no final de 2010, exatamente em 31/dez, num reencontro de todos em Ilhéus-BA. Farra boa!!! Beijo!

      Delete