19 December 2012

para ler antes de depois de amanhã

Despedidas nunca são tranquilas. Não conheço ninguém que tenha dito o contrário. Mesmo quando não temos outro jeito, se não o de encarar o fim, fato é que despedir-se é doloroso. Seja de um amor que não deu certo, de um emprego, de uma moradia, de um amigo querido que partirá para longe, de um parente que morre. São despedidas distintas, mas que carregam significados, tristezas, aprendizados, desejos ditos ou não ditos. E do fim do mundo? Como seria despedir-se dele? Sugestionada que sou, eu decidi fazer uma carta de [quase] despedida, recheada de [muitas] intenções, para esse meu querido mundo, que já habito a exatos 42 anos.

Sabe mundo, eu tenho medo de não acordar no dia seguinte ao seu fim. Tenho medo de não poder mais olhar e tocar nas pessoas que amo. Tenho medo de não dizer tudo o que quero dizer, escrever tudo o que quero escrever, viver tudo o que ainda quero viver. Tenho medo de não viver uma história de amor [sem fim]. Não gosto de fins. Gosto de meios. Por isso o meu medo de enfrentar o fim, sem desfrutar demasiadamente do que encontro pelo caminho.
Pensando nessas coisas, penso que "quase" tive a sensação de ter vivido uma espécie de despedida do mundo que ainda não acabou, ao lado de um ser humano muito querido. Explico melhor. Nesse recesso natalino decidi viajar de carro para Bahia e assim o fiz, acompanhada de uma grande amiga, a quem carinhosamente a apelidei de 'ser humano'. Ela e eu estávamos "separadas" geograficamente já fazia um tempo. Tivemos uma oportunidade de conversarmos e rir das nossas loucuras e bobagens, por horas seguidas. Sem atropelos, sem limitações da internet, do trabalho, do compromissos de cada uma.
E agora, escrevendo sobre o fim [possível ou improvável, isso sequer importa] me dou conta de que tivemos uma 'mini-despedida' bem decente. Se nos separarmos de novo, não porque moramos em estados diferentes, mas por conta desse fim de mundo anunciado aos quatro ventos, estaremos atualizadas e munidas de novas memórias da nossa amizade.
E mais. Me dei conta também de que precisava viajar de carro com os demais amigos, exatamente assim, de forma individualizada, para dar atenção especial à fala, aos sonhos, às angústias, às maluquices que acumulamos nas nossas cabeças, juntamente com os fios de cabelos brancos, que teimam em aparecer aqui e ali.
Claro, se você, mundinho pequeno, se acabar de vez em 21 de dezembro de 2012, me desesperarei. É que eu precisaria de mais tempo, para conseguir esse feito: estar com cada um, de acordo com o ritmo e o desejo deles, além do meu ritmo e do meu desejo.
E ao realizar esse diálogo final com cada um dos meus amigos, também teria que dispor de mais tempo e a profecia teria que me garantir esse acréscimo de horas e até anos a mais, afinal, certamente eu dedicaria os últimos momentos do meu tempo com a minha família: mãe, irmãos, sobrinhos, cunhados, tios e primos. Seria a última conversa olhos nos olhos com todos os que já me afetaram. Não seria o máximo se conseguíssemos aparar as arestas e celebrarmos o amor, ao nos despedirmos de todos com os quais nos relacionamos? Ai, sim. Seria.
E já pensou que delícia seria dizer exatamente o que se pensa, o que se sente, de forma sincera, pensada, tranquila, sabendo ser esta, a última oportunidade de estar junto, num mesmo momento, com a cumplicidade necessária para um verdadeiro encontro a dois?. Ai, sim. Seria.
Então, esse seria o meu desejo [possível ou improvável, isso sequer importa] para se viver um fim de mundo com satisfação. Não mundão sem porteira, não amaria encerrar a minha existência a bordo de uma aeronave ou num navio. Eu preferiria realizar várias viagens terrestres, com direito a paradinhas para o xixi, para o café, para o almoço, para reabastecer o combustível, para esticar as pernas, para reencontrar, surpreendentemente até com os que já se foram antes de mim.
Seria um milagre miraculoso se no raiar do fim de mundo eu pudesse me despedir [de verdade] do meu pai e da minha avó. Eu não pude fazer isso. Não conversamos no final. Suas vidas foram roubadas de nós, parentes saudosos e [por certo] egoístas. Confesso que tenho monólogos frequentes. De certo, converso com eles, como converso com quem me lê. Isso aqui é meu diário, ora bolas!
Não é porque você, mundo, que pode acabar muito em breve, que agora vou querer fazer coisas loucas ou irresponsáveis. Não quero experimentar nenhuma droga, não quero perder minha lucidez, nem escalar montanhas, muito menos praticar esportes radicais ou atos de vandalismo contra nada nem ninguém. Definitivamente não gastaria minhas últimas energias com surtos ou causas perdidas.
Só queria gastar e perder mais tempo com os que amo. Só queria dizer isso para eles, olhando nos olhos, me desculpando por idiotices feitas ou ditas, dando abraços calorosos, sussurrando  um sincero "eu te amo e assim será para sempre, mesmo que o fim nos separe".
O fim do mundo pode chegar até hoje, se assim for decidido por quem tem poderes sobrenaturais. Estou de malas prontas e coração aberto, cheia de amor para dar e doar, com um desejo imenso de dedicar as minhas últimas horas abraçando e conversando com quem realmente me importa.
Que boba que sou, minha gente. O tempo é de sol, de altas temperaturas, de protetor solar, de noites quentes, de festas, de reencontros e confrarias. Estamos no meio do fim.

14 comments:

  1. Com certeza amiga, "estamos no meio do fim" e eu peço a Papai do Céu que me favoreça com a sua companhia por muitos e muitos anos...

    ReplyDelete
    Replies
    1. Ohhhhhhhh... estamos tendo mini-despedidas nesses dias por aqui... tomara que tenhamos outras tantas, sem finais... risos... beijo, amiga!

      Delete
  2. Juba, vc definitivamente é muito mais romântica q eu...rs... Lindo texto, como sempre mandando bem nas palavras. A gente lê e viaja com vc... Tenho um comentário q só farei no nosso próximo encontro, alguns dias depois de depois de amanhã. Te amo, bjsssss

    ReplyDelete
    Replies
    1. Ai, curiosa... em pleno dia 21/12, estou ainda tensa... quero viver muito. Beijo, te amo!

      Delete
  3. Excelente texto, Ju! E muito apropriado, afinal, dizem que o fim do mundo é sexta. Bem, o problema não é nem acabar e sim continuar do jeito que está. Mas se acabasse, eu tb aproveitaria os últimos momentos para ficar com quem amo. Bjsssss

    ReplyDelete
    Replies
    1. Isso, Sérgio! Vamos amar porque assistir Salve Jorge [porque o mundo vai acabar] está bem difícil... risos.... beijo!

      Delete
  4. Amiga! Que massa esse texto! Lembrei de cada momento de nossa viagem...adorei!
    Detesto viagens longas(você sabe disso), mas com você faria outra como essa(isso é uma declaração de amor, viu?), pois sei que ainda temos muitas loucuras, gargalhadas e maçãs da "Branca de Neve" para compartilhar...somos QUASE que TOTALMENTE fora da casinha...hehehe
    Vamos montar no porco e vazar, ser humano!
    Te amo!

    ReplyDelete
    Replies
    1. Vamos... o porco está pronto!!!!!!!!!!!! Vamos... risos... beijo!

      Delete
  5. Cheguei depois do fim do mundo, mas marco minha presença sempre.
    Ah, eu nunca caí nesse papo de fim de mundo. Pra mim agora começa uma nova vida. E morrer pra mim não é acabar tudo, não é adeus! É até breve.
    Um dia vc vai ver e poder abraçar seu paizinho e sua vó (que fazia niver no mesmo dia que eu!). Morrer pra mim, agora é isso: reencontro.

    Ah, que bom que te vi hj. Conspiramos, né?

    bjão.

    ReplyDelete
    Replies
    1. Foi uma delícia!! Estava enlouquecida com a correria... achei que o mundo fosse mesmo acabar... risos... sorte a nossa! Temos mais tempo pela frente... Você e minha vó são inesquecíveis...podem estar longe, mas eu estarei em pensamento, bem perto...beijo, amiga!

      Delete
  6. Feliz natal e próspero mundo novo, amiga viajante! Um beijão!

    ReplyDelete
    Replies
    1. Feliz natal!!! 2013 de muita energia boa!!! Ah, o ano novo... mas podemos renovar nossos votos e torcer para que os estragos do coração deixem de acontecer. É o meu caso,.... beijo, querido!!

      Delete
  7. Texto lindo e doce, feito vc! bjo

    ReplyDelete