1 February 2013

janeiros vencidos

Já passaram dias, inteiros. 
Janeiros, calendário que nunca chega ao fim. 
Início sim, é só recomeçar. 

A vida segue à revelia do que sinto. Lá fora imagino o trânsito como sempre, caótico, o mar, suas ondas e as pedras pelo caminho. Os coqueiros, com seus lindos balanços nas folhagens. As pessoas fazendo coisas e coisas, entre diálogos e brigas. Muita gente trabalhando no sol forte; outras confinadas em salas com ar gelado; alguns preparando fantasias carnavalescas e tensos com os prazos de entregas. A televisão brasileira, mesmo desligada aqui em casa, ainda esmiuçando mais do mesmo, sobre a tragédia lastimável em Santa Maria. E como será que está sendo viver, depois de tudo? Penso nos traumas dos que sobreviveram [e nem sei se são sortudos], e em todas as famílias envolvidas. Tento imaginar suas angústias, suas dores e suas saudades. Não consigo. É demasiadamente pesado. Sofro mais. Tento focar em outros pensamentos.
De novo, o desejo: aprender a meditar, em certos momentos como esse, em que somo ansiedades demais. Ouço o barulhinho inconfundível de máquinas da construção civil. Fico pensando quantas novas edificações essa cidade ainda comporta.  E o que mesmo importa pensar nisso? Ah, o ventilador não resolve a minha vida; circula ar aquecido pela temperatura externa, e aqui dentro de mim. Enquanto isso tocam minhas músicas prediletas na sequência. Ouvi Renato Russo, e agora é a vez de Roberta Sá. Ouço também o tic-tac do relógio, mesmo em silêncio. As horas passam. Desvio o olhar para meu bloquinho de anotações. Projeto do doutorado para atualizar, outros para corrigir, notas para lançar. Me dou conta do tanto que ler, escrever, pensar.
Fevereiro é o mês em que eu nasci, o mês do carnaval, dos aquarianos natos, e o mais aguardado para quem curte essa folia. É também o mais curto do ano, e bem que poderia ser o mais longo! Fica em vantagem o mês seguinte, o março dos piscianos e das águas que decretam o fim do verão. Fevereiro procede janeiro, o mês que inicia um novo ano e o mais aguardado para quem pode literalmente "gozar" férias merecidas. Não é o caso dos professores federais, que permaneceram em greve por meses a fio em 2012, na tentativa [frustrada] de convencer o Governo Federal a valorizar a educação pública e passar a investir verdadeiramente na carreira docente. Estamos todos sem férias e repondo aulas e adoecidos com a desestruturação proposta e já aprovada em lei. A matéria que li a pouco, começa de forma animadora: "A nova lei desestimula a pós-graduação, as pesquisas universitárias e o interesse de grandes talentos pela profissão...". Mais um desalento e triste projeção de futuro para o ensino superior brasileiro.
E justamente hoje, o mês de fevereiro começou bem mais cedo pra mim. Acordei e entendi que estou quase na virada de mais um janeiro que coleciono em minhas rugas e fios brancos cada vez mais acentuados. Surto muito nessa fase. Achei até que tinha me livrado do momento de turbulência astral, com tantas novidades boas que andavam me acontecendo. Observe, você, que me lê atentamente: propositalmente usei o passado para me referir ao mês, que terminou ontem! É que o dia de hoje começou me mostrando que vivi ilusões maravilhosas. 
Renato Russo, em Metal Contra as Nuvens, lançada em 1990, no álbum V, de certo a música dele que mais amo, entre todas as demais que mais amo, me consola: 


"...e nossa história não está 
pelo avesso, assim, sem final feliz.
Teremos coisas bonitas pra contar.
Hum... e até lá, vamos viver...
temos muito ainda por fazer,
não olhe pra trás... apenas começamos.
O mundo começa agora, apenas começamos..."

Não é lindo pensar assim, de forma poética e tão positiva? Ah, que falta ele faz para a humanidade... e ouvi-lo ainda é o meu melhor consolo [além da escrita, claro], sobretudo quando me sinto assim, tão infernalmente afetada. Feliz e triste, num mesmo segundo. Melancólica, saudosa, ansiosa, insegura e muito, muito atacada. Me livra disso, oh céus.

10 comments:

  1. Amiga, não estou no inferno astral...Mas estou igual a você!!! Pelo menos já desabafou um pouco com suas palavras....Vem para Salvador ficar com a gente!!! Maíza Leite .....
    Amei o crédito nessa foto linda!!!
    bjsss...

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    1. Oi Mai! Você é uma fofa de amiga! Vou ficar bem...daqui a pouco! Não há mal que sempre dure... risos... beijo!

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  2. jujuba verde, q texto lindo! o "ia" lhe inspira tanto q estou meio q torcendo para vc ser infernizada nos próximos dias: venha para mucuri então!!!....rs .... escuta aquela música "levanta, sacode a poeira e dê a volta por cima"... xô baixo astral!!!! bjsss, te amo minha irmã de coração

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    1. Eu tenho que ficar enfernizada?? Credo.... risos... entendi, entendi... sabe que daqui a pouco eu mudo o disco... risos... beijo!

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  3. Amiga escritora,

    Seus costumeiros textos enormes me instigam a saber como anda o coração dessa aquariana que escreve críticas poéticas sobre o próprio cotidiano.

    O coração continua inquieto, né? quem vai acalmar esse músculo? esse espírito? Só o Tempo. Não se preocupe, ele vem vindo. rsrs

    Um bjão.

    PS: é tbm um dos meus trecho de música preferidos, pelo teor otimista que carrega. #oremos

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    1. Ah... meu coração está aos pulos.... ora calminho, ora batendo forte... tá tudo inquieto, sim... vai saber??? Oremos... um beijo amiga!

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  4. Tenho certeza que esse momento já passou... Espero que seu carnaval no Rio te traga muitas surpresas boas e inspiração para novos textos..!!! Amamos você amiga!!!! Um beijo grande do coração lilás!

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    1. Que fofa você! Um beijo do coração verde para você! Tb te amo!

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  5. Que texto poético lindo, Ju. A sua inquietude não poderia ter sido melhor colocada. bjs

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    1. Obrigada, Sérgio! Comentários como esse ficam aqui, guardados em meu coração. Um abraço!

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