17 February 2013

mais do mesmo [parte 2]

Já não estou, obviamente, mas hoje acordei com um mau humor tão grande que achei que a aula ia ser horrível, o trajeto para chegar idem. O sono era intenso. O corpo pedia mais aconchego gostoso. O alarme disparou e não teve outro jeito. O dever quando chama, na verdade ordena. Não posso com isso. Meu trabalho é sagrado. E não fosse ontem o aniversário de uma grande amiga, presente em meus dias como o café que tomo religiosamente, não teria ido dormir tão tarde e talvez o dia tivesse começado melhor.
O negócio foi tão sério que pensei comigo: das cinco às onze e meia serão as piores horas de mais um domingo ensolarado que não poderei dormir até mais tarde ou curtir uma praia.
E me surpreendi como as coisas [felizmente] funcionam às avessas da minha intuição equivocada.
Vai ver no inferno astral até o sexto sentido deixa de existir, ou de fazer sentido, literalmente. Temo ter pesadelos, ao invés de sonhos. Tomo sustos à toa, no trânsito, e já vi até batida entre carros, do lado que dirijo, resultando em destroços e acidente com ferimentos. Nesse estado caótico em que me encontro, eu fico ansiosa com ligações da família. Fico imaginando que vou receber telefonemas ou mensagens com mais notícias tristes. Pior mesmo quando ouço os avisos de novos e-mails no celular. Estou tão apreensiva que já abro de olhos fechados, morrendo de medo de ler coisas desagradáveis.
Porém, nenhuma das minhas projeções negativas e mirabolantes estão ocorrendo. Tenho recebido carinho de pessoas de longe e de perto. Abraços calorosos. Retornos bons e favoráveis das coisas que me envolvo na universidade. Mesmo que eu não acredite, tudo parece estar bem e em calma.
O desconforto que sinto persiste, o estado de alerta persiste. Como se eu estivesse de plantão, esperando que o pior ainda vai me acontecer. E não é porque vou ficar mais velha. Já estou mais velha, independente de o dia 19 de fevereiro ser daqui a dois dias. Minha tristeza e a irritação exacerbada tem nome e sobrenome: vou passar meu aniversário estando longe da minha família, pelo terceiro ano consecutivo. Isso me desagrada e me entristece muito.
Em 2011 meu aniversário aconteceu justamente no mês em que eu me mudei para Maceió. Mesmo triste, os novos colegas, que hoje são amigos e fiéis escudeiros, me presentearam com a presença deles, numa noite linda de verão. Não me esquecerei jamais do carinho deles, do acolhimento de todos. Foi lindo viver o dia 19 com [até então] estranhos tão afetuosos e solidários. Ao soprar a vela em formato de interrogação, só agradeci por tudo ter dado certo com a minha vida nova, com a mudança de cidade, de estado, de trabalho, de casa. Numa rapidez absurda, tudo passou, eu sobrevivi. Mais novidades me aconteceram.
Em 2012 estava em pleno carnaval de Salvador. Tive uma festança linda com direito a caruru, sarapatel e um bolo delicioso. Tudo de presente de Val e mais amigas, que me encheram de mimos, fotos, abraços e mensagens positivas. Me lembro que não era só o inferno astral e a saudade de ouvir os famosos discursos da minha mãe e da minha mana, que faziam falta e a tensão prevalecer. Estava na tormenta do processo seletivo do doutorado. Não sei como minhas amigas me suportaram. Nem eu me suportava mais. Num piscar de olhos, tudo passou, eu sobrevivi. Novos desafios se apresentaram.
2013 está mais diferente ainda. Não tive férias, muito trabalho, um coração destroçado por um amor mal correspondido, a pressão do doutorado aumentando a cada dia que passa, e agora muitas mudanças na família. Separações, doenças, a minha irmana mais velha indo morar no Acre, e uma amiga distante. Basta pensar nessas coisas que desabo.
A aula de hoje, em Maragogi [um lugar paradisíaco] foi maravilhosa. Turma de estágio super tranquila. Tivemos momentos de aprendizados que levarei para minha memória de bons encontros. Curti o caminho de volta. Fotografei coqueiros pela janela da van. Conversei com colegas professores que ainda não tinha proximidade. Experimentei um churrasco de carne de búfalo. Fui marcada numa foto dos sobrinhos reunidos num shopping, no exato momento em que estavam almoçando. Me emocionei ao receber um torpedo e receber a boa nova: um casal de primos vai ter um bebê em outubro desse ano!
A família cresce, se espalha, se renova, se une. E eu, estou aqui, desabafando e tentando desfazer esses nós tensos da minha nuca. Esperando o dia depois de amanhã chegar logo e em paz. Mais um ano que passou e eu sinto muito por estar tão longe. É que "a vida não é um filme", como diz Mari.
Por todas as andanças e acúmulos de coisas boas misturadas com as não tão boas, eu decidi soprar velinhas e receber os amigos conquistados, aqueles estranhos solidários de antes, aqui em meu canto. E torcer para ouvir boas novas, e [quem sabe] colar os cacos do meu miocárdio. ):

18 comments:

  1. Oh, amiga! Que bom que seu inferno astral não está tão infernal como imaginava.
    Seu texto, como sempre, está lindo!
    Antecipadamente, te desejo felicidade todos os dias e repito: "a vida não é um filme"! É melhor! Pois somos autores e atores dessa história e isso torna a vida mais emocionante, surpreendente e, as vezes, mais bela! Te amo, ser humano! Vamos montar no porco e vazar! Mari

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    1. Vamos montar... risos... eu queria que a vida fosse um romance... bem feliz e sem final....

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  2. Mana..estamos comprando os bilhetes agora...vai ser o jeito!oh coração...sinto muito por não estarmos ai para o abraço,o discurso,os desejos renovados por mais um ano de vida com saúde,vitórias e objetivos conquistados!vc brilha até no inf. astral.Ótima leitura.A passagem de ano será feliz,tenha a certeza!estamos lonnngeee mas realizados com a suas realizações!bjs das Manas Cajazeiras!

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    1. Ohhhhh... sei que viriam, se pudessem estar comigo nessa "passagem" tão significativa de um ano velho para um novo em minha vida.
      Amo muito saber que estão na torcida e muito mais perto que longe!! Saudades, manas!! Beijo!

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  3. Nada mais natural do que acordar de mal com a vida e odiando o mundo, Ju. Mas que bom que no decorrer do dia nada estava tão horrível quanto imaginava... Bjsssss

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    1. Oi Sérgio! Que bom, mesmo!!! Obrigada pela força! Beijão!

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  4. Rosinha via gmail18 February 2013 at 10:06

    Ju,
    Lindo o seu texto. Acho que todos vivemos momentos de dificuldades... Tenho algumas sensações parecidas com as suas. Mesmo próximo de todos nos sentimos tristes às vezes. Você atingiu muitos objetivos e conquistou vitórias... É isso que vale a pena. Faça a diferença sempre.

    Beijos

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    1. Que fofa!!! Saudade, amiga! Te admiro muito!!! Obrigada pelas palavras, sinceras!!!

      Um beijão!

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  5. Texto lindo e tão familiar para cada um de nós em tantos momentos.

    Saudade de você...

    bjs

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    1. Oi amiga! Sua filhota está cada dia mais linda? Manda fotos.... em abril passarei alguns dias aí, e nos veremos.

      Beijo!

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  6. Irmana Lila via FB18 February 2013 at 10:11

    Irmã, Deus está no controle de tudo..."o bordado da nossa vida está completo nas suas mãos". Apenas, agradeça a Ele por uma infinidade de bençãos que ele tem nos dado. Fica em paz. Te amo!!

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    1. É isso aí... diria nossa Vozinha.... também te amo muito!!

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  7. Gostei:"O dever quando chama, na verdade ordena."
    Beijo

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    1. Paula você não existe!!! Outro beijo, querida!

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  8. Ju, parece que tem um turbilhão passando aí, né? Sinto por estar longe e não poder emprestar o meu ouvido, mas deixo meu conselho: Uma pessoa de astral tão bom qto o seu não deve se deixar contaminar por pensamentos negativos.
    Tenha fé e atraia o bem.

    Um bjo, te ligo amanhã.

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    1. Tá passando... o paraíso já está batendo na porta.... eba!!!!!!!

      Beijo, amiga.

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  9. Grande amiga viajante, que o seu inferno astral te deixe logo em paz. Já o meu, vai começar daqui a pouco... Fazer o quê!! Um beijo grande e feliz aniversário adiantado.

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    1. Obrigada Marcelo! E sinto muito pelo seu inferninho... risos... faz um texto sobre isso!!! Beijo, querido!

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