4 February 2013

"Mô blog" querido

Minha vida de blogueira não está com os dias contados. Cada dia vivencio coisas inusitadas, engraçadas ou super tristes, e a vontade de blogar surge quase que instantaneamente. Costumo até brincar que, muitas vezes, tenho a impressão de que certas ocorrências só se dão comigo por uma única razão: é lógico que depois vou escrever sobre.
Hoje, por exemplo, me despedi de um amigo querido e portanto, eu não poderia deixar de escrever sobre a nossa curta convivência. Justamente sobre ele, o visitante-viajante que recebi em minha casa, durante a última semana de janeiro, que vou narrar.


Como no filme, o nome dele também não é Johnny, mas o apelido é. 28 anos, quase nada de virginiano, é baiano, do bairro da Liberdade, ama o Ilê Ayiê, tem cabelo rasta, usa óculos, é pedagogo que nem eu e viaja com bastante peso nas costas: mochila, água, barraca para acampar e malabares. Impossível não pensar como somos diferentes, não só pelas décadas que nos separam do tempo cronológico, mas sobretudo pela maneira como percebemos as coisas, sobre como agimos, como nos comportamos, o que gostamos de comer, o que curtimos viver, como nos relacionamos nesse mundo sem porteira.
Eu sou exposta até a radiação nuclear! Ele, fechado quase como uma ostra. Não que não seja comunicativo e aberto a conhecer pessoas e lugares. Muito mais que eu até. Imagina viajar sem destino pronto? Não, não conseguiria. Ele consegue e experimenta muitas novidades, cada vez que abre os olhos e se vê diante de uma sala de aeroporto, na carona de um caminhão ou deitado a céu aberto, numa rede em frente ao mar.  Penso que para ele, viver só funciona com prazer se for assim: sem rotina, com muitas aventuras, com desafios diários para vencer, comer, partir, chegar, partir de novo. Consegue ficar sem internet e sem celular, por dias a fio.
Enquanto eu blogo e abro trocentas abas em meu computador, e ainda ouço algo, tudo ao mesmo tempo e pra ontem, ele analisa cuidadosamente mapas da cidade, diverte-se lendo Alice no País dos Espelhos, faz malabares, escreve no seu caderninho-de-bordo, ou simplesmente dorme gostoso. Tudo sem pressa, sem hora para acabar.
Bem, eu não preciso dizer [mais] porque somos tão diferentes, não é? Não, não preciso. Mas falar dele, e pensar na maneira como vive, me estimulou a rever algumas coisas tão fechadas em minha forma de viver. Claro que eu, do jeito que sou,  despejei nele [sem cerimônias] um monte de conselho; é que me sinto um pouco mãe, ou tia, não somente pelo fato de termos trabalhado juntos, mas porque sinto que ele ainda precisa de orientação, como menino levado que quebra a vidraça e leva a bronca sentado e quietinho, sabe? Assim ele ficou, tadinho, me escutando em silêncio, e com respeito.
Talvez nem precise de aconselhamentos e eu, tão convencida, nem me dou conta disso. O que eu queria mesmo e estou fazendo, é deixar [aqui] registrado que não dou conselhos porque me sinto superior ou modelo de coisa nenhuma. Só me sinto mais experiente, e por já ter vivido coisas outras, confortável em poder opinar com segurança sobre algumas questões, especialmente no campo profissional, já que ambos elegemos a área de educação para atuar.
Vou torcer para que ele tenha levado boas impressões de mim, porque eu certamente ficarei com as melhores dele, e torcendo para reencontrá-lo mais centrado, mais seguro, e mais livre ainda.
Quanto a mim, vou tentar ser mais aventureira, a ser menos cricri com limpeza, aprender a fazer pratos com frutos do mar, em casa, já que ele não come carne vermelha e adora peixe. Juro que vou aprender, e só preciso de mais um tempo, de uma panela de barro e de utensílios adequados. A receita eu já sei que buscarei rapidinho na internet, se a conexão permitir, enquanto limpo as escamas [argh] e elimino meus preconceitos bobos. Juro que vou me esforçar.
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Um recado de viajante para viajante: por God, muito cuidado na estrada e lembra de mim como alguém que quer te ver cada dia mais feliz e realizado em tudo o que inventar fazer. Sorte, Johnny!

14 comments:

  1. Verdade Jú, você adora dar conselhos... Estou tentando seguir alguns e acertar também! Beijo!

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    1. que fofa, você, Let!!! Aprendeu a publicar!!! Ebaaaaaaa... beijo do coração dessa Jujuba verde, cheia de boas intenções nos muitos conselhos.. risos...

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  2. ficou massa, juba! ele te escutou, com certeza. todos nós escutamos...rs... bjs

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    1. Ai, tomara... risos... me sinto quase uma tia-avó muito chata e cheia de regras... risos... beijo!

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  3. Ai, Ju, que legal!
    Lembro de Jhonn em minha sala de aula e provavelmente daria conselhos tbm. Coisa de quem quer proteger.
    Mas esse mocinho se tornou bastante descolado e certamente sabe lidar com a liberdade.

    Que bons ventos o levem aonde ele quiser chegar.

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    1. Lembramos dos tempos da ong, com certeza... e de você, muito! Beijo, amiga!

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  4. Que bacana, Ju! E eu tb blogo com várias janelas abetas, música etc... E os conselhos são utilíssimos. Pra qlq um. bjss e bom Carnaval.

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    1. Oi querido! Se o carnaval for bom, vou narrar aqui... aliás, vou narrá-lo de qualquer jeito... risos... um beijo e ótimo recesso carnavalesco para você, também!

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  5. Belo texto, captou bem a alma do nosso querido Jone, e o fez a partir das diferenças, o que é incomum, normalmente se parte das semelhanças. Vida longa à vc e aos escritos!!!

    Abraços, Day.

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    1. Olá Day! Muito legal que tenha lido e gostado... volta mais vezes!! Um abraço!

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  6. Jú!
    Maninha!!
    Adorei o "quase nada de virginiano". Não que não goste de ser virginiano. Não que eu acredite nessas coisas de zodíaco. Ou acredito? Não sei. Verdade é que, desde quando me falava sobre o assunto, certa inquietação tomava conta de mim: sou mesmo assim? Pode ser! Talvez! Que seja! A questão é que esse ponto me fez pensar também (e penso melhor andando) sobre o que não queria ser e principalmente, sobre o que quero. Viajo, viajante, experimento muita coisa, vivo muita coisa e sou muita coisa. E você, com aquele papo de bruxa, também colaborou para esta minha movimentação no mundo. Como então, um recém iniciado na arte das travessias, não pararia, respeitosamente, para escutar uma mestra. Sinto-me privilegiado. Grato pelas palavras carinhosas de cuidado. Grato pela preocupação de irmã mais velha que só quer ver o bem do pequeno. E como maninho, sinto-me orgulhoso pelo empenho e dedicação com o qual você se debruça à educação, área que tanto gosto. É inspirador vê-la trabalhar. É inspirador vê-la escrever. Te amo Ju, e fico muito feliz em saber que minha passagem por aí a inquietou de alguma forma. Grato!
    Ah!! Alagoas é um lugar lindo. Tenho várias resenhas, dentre as quais escolho uma pra registrar aqui. Uma página do diário, uma dica, uma coisa que talvez ache loucura, mas que insisto em relatar porque, talvez, sei lá, quem sabe um dia, mais aventureira, resolva experimentar. Então, foi assim: acampei na Foz do Velho Chico. Não sei se foi o pôr ou o nascer do sol, ou o céu estrelado (muito estrelado) entre o dia que ia e o que se fazia, não sei se foi a satisfação de ter chegado naquele canto ermo, mas aquilo foi uma das experiências mais maravilhosas que já tive. Desejo tantas experiências maravilhosas para você Ju, quanto o número de estrelas que vi naquela noite.
    Lembranças boas sempre!!

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    1. Ohhhhhhhh que coisa fofa! Me senti lisonjeada!!! E que linda declaração de amor à vida!!! Curta tudo do seu jeito... te amo! Ufa... aliviada... risos... por que não responde aos torpedos, menino?? Beijo!!!

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    2. meu celular ta desligado. rsrs

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