18 March 2013

como as folhas que caem...

Um vendaval de novidades e vertigens. Ao que parece à primeira vista, tudo muito fácil de ser transformado. Quando penso em me acostumar com um certo dado, outros surgem, ignorando a minha pressa de entender os processos. Sabe tempestade que deixa tudo fora do lugar? Não foi assim. Tem sido assim no meu mundo.
De todas as mudanças que me afetaram nos últimos tempos, a mais dura, ou a mais forte, sem dúvida alguma, foi descobrir que nada é para sempre. Ou que tudo é provisório. Antes eu pensava que somente os textos eram provisórios. Que nada... tudo é provisório! Não conseguimos segurar nada. A areia escorre pelos dedos. A água pelo ralo. As ideias pelo vento. As folhas pelo chão.
Adoro pensar a partir de metáforas. E amo inventar analogias para as coisas que sinto. Pareço pretensiosa, eu sei. Mas costumo brincar com as palavras, para além dos seus sentidos restritos. A da vez é a comparação da mudança do tempo com a das vontades. Explico.

No verão: calor, picolé, roupa leve, férias, praia, noites com sol. Tudo isso combina com passeios ao ar livre, contemplar o nascer do sol, ou o entardecer. Passear sem pressa, observando ruas e movimentos, coqueiros e pássaros. Imagens muito parecidas com aquelas paixões de verão. Que só nos aquecemos e ao mesmo tempo nos refrescamos na presença do objeto do nosso desejo. Algo fantástico, doce e miraculoso, como um sorvete de creme com passas.
No inverno: frio, vinho tinto, cobertor, chocolate quente, dias com nuvens. Tudo isso combina com lugares fechados, aquecidos, com jantares, ótimas leituras. Imagens que lembram aqueles romances de filmes franceses ou italianos. Que nos despertam o desejo de viver a dois. Quando só nos esquentamos, ou só nos acalmamos, quando existem dois pares de pés bem juntinhos. Algo fantástico, doce e miraculoso, como um petit gateau.
E as meias-estações são, certamente, tempos árduos e tensos de toda travessia. Não me ocorre melhor classificação para esses momentos, com tantos saltos e tantas quedas. De folhas secas a flores que arrebentam qualquer paisagem. Das incertezas, das calmarias ou dos vulcões. Do alto da [minha] provisoriedade, nem consigo pensar nos efeitos primaveris.
Já no outono, ah, essa estação me lembra toda espera dolorosa. Tempo difícil de ser entendido, de ser vivido, logo após um veraneio daqueles, com as melhores memórias possíveis. Bem, de certo não preciso dizer mais nada. Mas quero insistir na minha porção romanticamente afetada, nessa fase. Preciso de ajuda. E tem uma música linda, cantada por Gal Costa também, que complementa esses meus devaneios vãos, e talvez resume bem como penso o [meu] outono, por estar entre o sofrer e o ter prazer, na mesma proporção. Me encanto e me desespero, na mesma medida. A canção começa assim:
Nas ruas de outono
Os meus passos vão ficar
E todo abandono que eu sentia vai passar
As folhas pelo chão
Que um dia o vento vai levar
Meus olhos só verão que tudo poderá mudar



4 comments:

  1. O outono é o entardecer do verão, né? Ele chega assim, meio quente, meio morno, abafado, pra gente sentir saudade do verão e rezar pro inverno chegar logo.
    Outono é preparação.

    Um beijo, amiga.

    ReplyDelete
    Replies
    1. Isso... preparação... só não sabemos como.... risos.. beijo, amiga!

      Delete
  2. Infelizmente quando nos deparamos que nada é para sempre sofremos muito. E gostei dessas suas descrições sobre as estações. As 'meias estações' são cheias de dúvidas e incertezas não deixa de ser uma analogia interessante.. Beijos!!

    ReplyDelete