31 March 2013

entre páscoas e beijos

Dependendo de onde se esteja, uma viagem para o norte do Brasil não é só feita de escalas ou conexões cansativas. É feita, sobretudo, de pausas desgastantes, que estimulam a produção [em série] das nossas expectativas. Geram ansiedade. E foi assim: essa última que agora começo o relato. Viaje comigo. Pode soltar os cintos, reclinar a poltrona, relaxar e usar qualquer aparelho eletrônico. Eu deixo!

Meu natal de 2012 foi doloroso. Fiquei muito tristinha e desolada, por estar tão distante dos meus, numa data tão simbólica, muito mais que um último dia de dezembro. E diante da frustração anterior, decidi desde janeiro, que passaria esse recesso, tipicamente familiar, com uma nova viagem para o Acre. 
Assim, não foi uma novidade estar na páscoa com minha mãe e manos. Eu não acredito em acasos ou coincidências. Muito menos em conspirações, energias ruins, complôs. Penso que nossas vidas já estão traçadas e não há nada nem ninguém que possa desviar o rumo dos nossos eventos. Basta estarmos atentos aos sinais.
Pensando mais, talvez, as viagens que nos proporcionamos, sejam necessárias apenas para cobrirmos os traçados, mesmo que tenhamos dificuldades em acompanhá-los, diante de tantas curvas e dos infortúnios declives e sustos.
Outro dia comentei com duas amigas em Maceió, que as fotos da minha família, e o que postamos uns para os outros lá no mundinho azul, parecem dizeres mentirosos e imagens falseadas; aposto que há pessoas que duvidam do nosso amor; tenho certeza de que muitos pensam "não há perfeição assim em nenhuma família, muito menos nessa". E pouco me importa os que sentem inveja. Esse grupo não me interessa nem me afeta,
Bem, mas preciso me manifestar. Aos primeiros, erraram feio. Somos apaixonados, sim. Nos declaramos ao nosso modo, ao nosso tempo e isso é espontâneo e dá um refresco às nossas saudades. É como se com o envio de recados, nos aproximássemos mais. E a distância fica insignificante, menos gritante, menos horrorosa. 
Agora, ao segundo grupo, confesso: acertaram bonito. Não somos nem queremos ser perfeitos. Temos muitos problemas, muitas inquietações, muita coisa pra ser ajustada. No modo de nos relacionarmos, na maneira como lidamos com os desejos e as lacunas de cada um. 
Tentando olhar com distanciamento, mesmo estando todos num mesmo teto, comendo a mesma comida, e respirando o mesmo ar acreano, penso que estamos sujeitos à mesma lógica de todas as famílias do mundo inteiro. Onde há convívio, óbvio que há conflito. Onde há "quereres" há frustrações. Não há como fugirmos disso. Não há como editarmos isso, como fazemos em aplicativos como instagram, por exemplo.
Chega um momento [tenso] que é preciso colocar o tapete em pé e olhar que sujeira está ali, retida e crescente. Dói. Pesa. Incomoda os mais frágeis e despreparados; afugenta quem [ainda] não está pronto para ser exposto e criticado. Resultado: sofremos juntos. 
E claro que é necessário. Talvez venha daí a explicação para o nosso amor tão forte e evidente. Quando percebemos que no caminho, as pedras fazem parte e podem ser retiradas se juntos estivermos. E não há outro modo de seguirmos adiante e confiantes num futuro de mais harmonia entre nós. 
Cá com meus botões eu me sinto uma privilegiada em fazer parte dessa trama tão rica e amorosa. Fico tentando entender como cada um manifesta o seu amor pelo outro. Por mim, vejo mais ou menos assim:
*O meu mano Deca me admira, me defende e me define lindamente.
*Meu mano Val se preocupa comigo: quer me ver casadíssima. Ele não concebe que alguém envelheça sem um parceiro do lado.
*Meu mano Mô me olha com saudade, e diz muito mais do que fala, apenas com o olhar.
*Minha mana Dinha, siamesa que só, me diz o que penso e o que sinto, como se fosse eu mesma.
*A irmana Lila sempre me diz que eu não existo e ri das minhas histórias.
*Ai, a minha mãe... essa é que não existe! Dorme mal, mas acorda cedo; antes de sair do quarto, me cobre direito, e me presenteia com um beijo; em seguida, faz café, limpa a casa e, faz do coração, as tripas de nós todos. Bem que ela queria nos proteger e nos manter sempre sorridentes e unidos, exatamente como ficamos em nossas fotos, lá do mundinho azul, e que não são falsas.

Qual é a nossa história:? É de amor que nos nutrimos. Na páscoa, no natal, de domingo a domingo.

8 comments:

  1. Sou do grupo que ama os imperfeitos que se amam. Beijo, amore. Tá lindo!

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  2. Aceitei o convite do primeiro parágrafo e viajei junto. Gostei de mais este singular itinerário - como todos os que têm você como guia. Um beijo, Ju.

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    1. Oi querido, obrigada! Vc é um "parceiro-viajante" dos melhores!!! Beijão!

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  3. Deixe que digam, que pensem, que falem...

    O amor de vcs é lindo e é visível. Isso causa inveja, amiga, pq mtas famílias vivem se engalfinhando. rsrsr

    E que venham mais feriadões pra vcs.

    bjs

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    1. Aff.... prefiro acreditar que em cada família, há chance de o amor ser reconstruído... é bom demais estar em família! Beijo!

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  4. E vc não deixa de ser uma privilegiada mesmo, Ju. rs Adorei esse seu ótimo relato. Sobre o Natal, o meu mais doloroso foi em 2004 e depois nunca mais foi o mesmo. Assim como as outras datas. Bjs e boa semana.

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    1. Oi querido! Obrigada! Beijão e ótima semana para você também.

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