Tenho um jeito diferente de demonstrar afeto. Tem gente que abraça, agarra ou rejeita. Eu geralmente escrevo. Também olho nos olhos, ou procuro me fazer presente, o quanto posso. Mas é tarefa árdua. De um lado só, esse desejo todo de transbordar, vai caindo, sumindo aos poucos. Bem parecido com essa chuvinha boba do inverno: mal começa, logo se espalha pelo chão, e em seguida se despede, voltando a se esconder entre nuvens e nuvens.
Eu lamento. Eu exagero. Eu canto. Eu choro. Eu suplico. Ou então escrevo mais.
Tenho saudade do que já vivi, de certo. E do que não vivi, também. Das maiores, é preciso dizer que sinto muita falta do meu pai. Demasiadamente. Quanto mais o tempo nos afasta, mais me dou conta da sua presença tão marcante e de extrema importância na minha vida e na vida da minha gente, tão espalhada.
Lembro dele em coisas muito simples. Ele foi o homem mais simples que tive o prazer de conhecer e, que maravilha, pude chamá-lo orgulhosamente de PAI.
Lembro do meu velho quando escuto Dominguinhos, Luiz Gonzaga ou Nelson Gonçalves. Viajando mais fundo, me vejo até sentada, ouvindo ele tocar no violão e entonar "Cabocla, o seu olhar, está me dizendo, que você, está me querendo, que você gosta de mim.... "
Também lembro dele ao ouvir marchinhas de carnaval e cantigas juninas. É que eu era criança e ele era festeiro. Então, nos carregava para as festas e fazia desses momentos, grandes momentos de rituais familiares.
Lembro, ainda mais, quando estou em estrada de chão, quando vejo símbolos da terra: carroça, balde de leite, estrume de boi, cela, chapéu de couro, botas sujas de lama, curral. Me passa um filme quando penso nesses itens reunidos. E o vejo sorrindo, caminhando ou montado em seu cavalo, conversando com o gado no pasto.Eu fico muito emotiva no são joão. Moro numa cidade de praia e nunca estive tão perto da roça. É pelo pensamento que chego até ele, que deve conhecer meus segredos e medos e certamente me lê, também. Chego até minha mãe e meus manos, nas terras do norte, e das minhas manas, na terra do frio, na Bahia.
A escrita me acalma, me sacia, de algum modo. Estar longe não é um problema. Estar distante, sim. E vez ou outra, procuro me juntar, porque do contrário, me confundo com o que encontro pela frente.
Me pergunto do que são feitos os sonhos. De algodão? De nuvens espessas? De farinha de trigo e goiabada? De expectativas vãs? Não faço a menor ideia. Meus sonhos andam me distraindo muito e a realidade... ora... essa me é muito estranha, nesse momento em que escrevo.
A quem chegar até aqui, não se preocupe com essa melancolia toda. Isso passa também.
Na verdade foi assim: só mais um desabafo, cheio de saudade da minha terra, e da minha história de vida em família.
O título da postagem é trecho da música Lamento Sertanejo/ Composição: Dominguinhos (2002)
Lindo!
ReplyDeleteVocê escreve muito bem e isso não é novidade. :)
"Tenho um jeito diferente de demonstrar afeto. Tem gente que abraça, agarra ou rejeita. Eu geralmente escrevo."
.... gostei muito.
Que bom! Adoro ser lida pelos meus alunos da Ufal! :) Beijo!
DeleteAh, mas conta a do Hotel...kkkk... Adorei o texto lindamente melancólico...:) Nem dei tchau pra Chimango, ô gente...
ReplyDeleteAi, ai... você devia escrever "Meu nome é Caruaru, muito prazer"... e Chimango manda lambida! :)
DeleteOi Ju!
ReplyDeleteA saudade nos traz lembranças mesmo... e agora nos festejos juninos a presença das pessoas que amamos é tão intensa!
Saudades, amiga!
Dançou muito forró?
Abraços !!!!
Passei em Campina Grande... primeira vez longe da Bahia, amiga... não curti muito não... mas os shows de Gil e Elba foram muito bons... saudade, tb... em Agosto apareço... beijo!!!
DeleteEu vivo de saudades... Parece que ela me alimenta... E por isso sigo caminhos que só me fazem encontrá-lá novamente...
ReplyDeleteEu também Ró... risos... saudade de tu e do seu chamego nessa filha adotiva...
DeleteSaudades tia Ju!
ReplyDeleteTambém, prima! Muitas saudades!!! Um beijo imenso em você e no meu Joshua!
DeleteTocante Jusciney!
ReplyDeleteA escrita pode ser não só um modo de misturarmos lembranças e cotidiano, história e passado, mas também parte de um processo de análise, de busca do que sentimos e não sabemos explicar "completamente". E aí vamos, na tentativa de querer explicar tudo completamente, fuçando este outro mundo que nos compõe.
Abração,
Verdade, Osvaldo! Obrigada pela leitura e comentário. Um abraço.
DeletePuxa, pensei que a crônica seria sobre o são joão em campina grande.... "saudade até que é bom, é melhor do que caminhar sozinho, a esperança é um dom, que eu tenho em mim, ah eu tenho sim"... bjks com cartola, de banana, queijo e poesia!
ReplyDeleteQue bonitinho... eu surpreendi então... risos... estava nostálgica ontem... viajar para Campina Grande foi ótimo, pois me conectei com meu povo, e com saudade.... beijo!
DeleteOh, amiga! Que texto lindo!
ReplyDeleteMe conta, recebeu algum comunicado da pós-graduação de Belém?
Quando vem aqui para SSA?
Beijo,
Mari
Tudo certo. Viajo dia 2/7 e retorno na sexta. Salvador, no recesso, na segunda quinzena de agosto. Beijo!
DeleteJu
ReplyDeleteSaudade renovada em mim agora, depois de seu texto.
Beijo. Lilia
Espero que esteja bem, Lilia. Volta mais! Beijão.
DeleteVc escreve muito bem, que inteligente essa menina, sou seu fã.....
ReplyDeleteBjs
Fê, o apelido do filho que nem tive... :)
DeleteBonito texto.
Brindo-o como também os festejos juninos com uma frase de Adélia Prado:
"Tudo que a memória amou já ficou eterno"
Beijos!
Marise Leão Ciríaco
Linda e oportuna citação de Adélia Prado!!! Amei, amiga! Bj
DeleteAmei Ma, já tinha escrito algo no seu blog. Acho que não acerto publicar. Bjs, linda.
ReplyDeleteEsse espaço precisa ser repensado... risos... beijo, irmana! Muita saudadeeeeeeeeeeee
DeleteEssa danada da saudade vive batendo na minha porta! rsrs
ReplyDeleteEla bate e ela volta, né? Beijo!
DeleteUm desabafo que serviu para aliviar quem escreve e hipnotizar quem lê, Ju. Muito bom! Bjsssss
ReplyDeleteQue legal receber esse retorno, que sei ser verdadeiro... um abraço, querido! Bj
DeleteJuuuci,
ReplyDeleteQue coisa linda de se ler!!! Nos emociona, nos envolve....
Como está por aí? Já casou? rsrsrs
Por aqui, profissionalmente, as coisas estão bem difíceis, pessoalmente está tudo bem.
Quando estiver por aqui, anuncie. rsrsrs
Um abração, Liane
Oi querida!
DeleteBom saber notícias suas... qdo eu estiver em salvador, vamos marcar um almoço bem bacana, para colocarmos a prosa em dia... não casei... risos... mas engravidei.. risos.. da tese.... parto longo e difícil ao longo dos próximos três anos...
Está tudo bem, excetuando-se a saudade da Bahia, dos amigos queridos e da família.
E sua neta? Deve estar um troço de sapeca... beijo!!