18 July 2013

"Tô bem não, Dona Nalva!"

Essa afirmação, carregada de dor e sofrimento, não é de minha autoria. Uso-a emprestada. Eu e minhas manas. Até minha mãe, a Dona Nalva, de vez em quando a usa. Escutamos de uma linda senhora, já no fim dos seus dias. Aos poucos ela se despedia, desse mundo cruel e perverso. Desse mundo surreal, sem muita esperança e cuidado com quem envelhece. Ou seja, do mundo que não está nem aí para qualquer um de nós. Ela, a senhora ciente e consciente da sua condição, nos deixou um recado. Um ensinamento. Um olhar a mais, para seguirmos adiante. Ou retrocedermos em nossas ações.
Não é dela que quero falar. Não se trata de uma biografia. A senhora de quem tomei emprestada a sua constatação emblemática, que nos doeu e nos comoveu, intensamente, já se foi e merece ser lembrada bem. Quando ainda estava bem.
Eu, daqui, do alto das minhas angústias do cotidiano é que não estou bem. Não quero que isso chegue aos ouvidos de Dona Nalva. Pelo contrário. Se tem alguém que eu não desejo que me leia ou me escute, nesse momento, é a minha mãe. A ela e para ela só desejo que chegem boas novas. De conquistas, de alegrias, de superações de dor e de sofrimento. O fardo diário dela já lhe basta. A minha mãe já carrega o aprisionamento consentido.  Por isso, não serei eu a somar dissabores ou causar novas preocupações.
E para dizer francamente, me sinto grávida. No fim de mais um ciclo menstrual, me sinto grávida. Não de um filho. Nem da minha tese, filha em estágio ainda embrionário. Não é maior que um caroço de azeitona.
Por falar nisso, me lembrei das pedras em meu caminho. Aquelas que estão alojadas, e se movendo, à revelia, na minha vesícula.
Minha gravidez, claro, só pode ser de outra ordem. De um novo tempo que vem por aí. Quando terei que ser cuidada. Quando terei que depender e achar isso agradável. Ou confortável. Logo eu, tão cheia de mim, tão indepedente. Não me imagino obedecendo ordens. Restrições de todos os tipos e formas me incomodam, demasiadamente.
Não sei o que é sentir enjôos e náuseas. Tenho um conhecido que me contradiz. Ele me dizia sempre: "Ju. Você de grávida, só tem o enjôo". Eu ria muito, por ser percebida como "a enjoadinha". Bom lembrar de gente querida.
Bem, voltando ao dia do exame. Fiquei aguardando para ser atendida, numa tensão sem fim. Quase 20 minutos sozinha, naquele ambiente frio, exatamente como é qualquer ambiente de uma clínica hospitalar. Quando, enfim, a consulta aconteceu, eu visualizei a imagem de todos os meus órgãos no abdômen. Na ultrassom, juro que quis identificar um feto, crescendo e me absorvendo.
As setinhas, marcadas pela médica, na vesícula, nada me disseram. Aliás, só me angustiaram. Não é da cirurgia ou da anestesia que tenho medo. Temo mesmo é ter que ser cuidada. Temo dar trabalho. Temo não conseguir ser livre para tomar as minhas decisões. Temores que nasceram junto com essa tal gravidez imaginária. Agora, por pura fragilidade do meu corpo.
É que sou muito mais que um corpo. E odeio ser tratada como coisa. Como objeto. Sem sentimento. E essa gravidez, dessa coisa nova que vem por aí, que ainda não tem contornos definidos, nasce num tempo em que estou sem muitas esperanças. Sem energia vital. E disso tudo o que digo, uma certeza. Não quero engravidar sozinha. O novo já chega prepotente. Me ensina que, como aquela senhora sofrida, todos precisamos de atenção e carinho. Tô nada bem, Dona Nalva. Mas não me dê ouvidos.

30 comments:

  1. Prima, seus textos são sempre muito bacanas! Venha para o Rio que a gente se diverte. Fique bem!!! Beijos

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    1. Ai, que fofa! Ana Paula, minha querida prima, não chama de novo... risos.. amo o Rio e amo vocês. Beijinhos no trocinho! Juba

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  2. Oh minha amiga, tão raro você assim... Mas a preocupação é infundada. Carinho, companhia e cuidado não lhe irão faltar. E não seja dramática!..rs... (é que o blog é leonino..hahaha) Uma laparoscopia é fichinha para o seu astral massa! Beijo. FIque bem. Te amo.

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    1. Ok, leonina, você venceu. Sei que "estamos" quase no inferno astral... dramalhão puro. Isso passa, né? Beijo, tb te amo!

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  3. Roberta Sad via FB18 July 2013 at 14:40


    ADORO TUDO!!!sempre...


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  4. Mas vai ficar. Deixa de lado a auto-suficiência q isso não é hora.

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    1. afff... já entendi.... risos... beijão!

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  5. Mana Dilma via FB18 July 2013 at 14:41

    Verdade Nana.Ela ñ quer dar trabalho a ninguém.
    Vou me reunir c a mana Lila Santana...e ver como podemos cuidar a apreensiva aquariana independente!!
    Sei que vai ficar tudo bem,Leu!! Te amooooo!

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    1. Venham pra cá!!!!! Cuidem de mim!!!! Beijo! Te amoooooo

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  6. Sirlene Zago via FB18 July 2013 at 14:42

    Há momentos na vida que nos sentimos assim, nada fica bem e o corpo responde, mas uma certeza há sempre, que com Deus tudo ficará bem!

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  7. Amiga, vai dar tudo certo e você vai ficar bem!!! Estamos numa corrente de boas vibrações!!!! Espero poder te ajudar e te acompanhar nesse momento!!! Um beijo grande!

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    1. Ter uma amiga e uma enfermeira de plantão, simultaneamente...tudo o que eu preciso!!! :)

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  8. Irmana Lila via FB18 July 2013 at 18:20

    Maninha, Lud falou que quer se recuperar em Acre? vai dar tudo certo viu! estamos aqui. Bjs

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    1. Tomara que não... tô sem coragem pra enfrentar aeroportos, conexões e perdas de bagagens. Beijo!

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    2. Mana Dilma via FB18 July 2013 at 20:01

      Lila Santana vc não existe: ,vai dar tudo certo,estamos aqui".
      Por que não vem fazer esta cirurgia aqui em Conquista, maninha?

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  9. Anamelea via FB18 July 2013 at 20:02

    Fique tranquila Jusciney Carvalho sua "famille choisie" (família escolhida) estará aqui para o que for preciso, não é Giselly Lima , Deise Francisco e Cleriston Izidro Dos Anjos e demais amigos que estarão aqui na época da cirurgia?

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    1. Anamelea Campos Pinto sei que posso contar com todos vocês, amigos do coração!!

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  10. Amiga, fique tranquila, vai dar tudo certo! Se precisar, peço Julio pra me levar aí pra cuidar de vc rsrsrs...bjos!

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    1. Opa aí eu fico mais animada Débora Souto!!!!

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  11. Juba, suas apreensões, dramáticas ou não, têm fundamento. Pessoas extremamente independentes como vc, sofrem do mal de não querer incomodar.
    Eu iria pra Conquista, pq ainda que as irmãs trabalhem, à noite tem carinho.
    ;)
    PS: adoro as frases próprias da sua família.

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    1. É isso, Patiinha! As frases da minha família são um legado à parte. Acho que vai rolar Conquista, mesmo... beijão.

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  12. Prima , não sei se diria melhoras e força ou parabéns pelo seu texto, você é SHOW ! Bom , fique com as duas , e qualquer coisa estamos aqui , família é pra essas coisas , fque bem leu ! Te amo

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  13. Você vai tirar de letra essa pedra do caminho. Mas, depois, eu vou contar tudo pra Dona Nalva! Um beijo, amiga viajante.

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  14. Grande texto, Ju. E tudo dará certo. Aliás, tudo passa. bjs

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