7 August 2013

minha resposta

Um desabafo? Não. Somente um respeitoso esclarecimento.


Môblog querido. Eu decidi que vou parar de te chamar de "filho". Tem amigo meu me dizendo que estou ou sou doidinha. Que surtei.
Tenho algumas suspeitas, sobre este meu comportamento suspeito. Pode ser minha tpm de todo mês. Pode ser a ansiedade pelas férias. Pode ser muita saudade acumulada. Pode ser nada. Pode ser o efeito do seu fictício inferno astral. Ou o efeito colateral dos 8 comprimidos diários que estou tomando para me livrar de uma bactéria sinistra e grudada na parede do meu estômago. Pode ser ainda, o meu desejo incontido de valorizar sua entrada em meus dias, desde que por mim foi concebido. Pode ser tudo junto. Deve ser amor demais pela escrita, a ponto de compará-la com partos e com a maternidade que, em mim, se manifesta no cuidado [quase de uma mãe por um filho] com a escrita. Temo chegar o dia de não ter direito de me expressar livremente. Temo chegar o momento em que as palavras sairão de mim ensaiadas, sem a minha espontaneidade que me é tão peculiar. Temo perder o gozo de escrever, só porque me criticam ou me monitoram demais. Aos que gostam do meu estilo de viver [e de escrever] obrigada pelo apoio e carinho. Aos que suspeitam de algum grau de loucura em mim, informo que: eu não consumo drogas ilícitas. Sim, consumo e amo doses de açúcar e punhados de sal. Mas deixei de consumir bebidas até em eventos sociais. Nunca soube beber. Dou vexame. Tenho até esquecimentos temporários. A tal da amnésia [tenho provas e testemunhas], não é conversa para boi dormir. Se bebo uma roska de morango [que tanto gosto do seu líquido vermelho], fico torcendo e mexendo o canudo, muitas e várias vezes, por uma noite inteira, para daí fazer o gelo derreter e atenuar o efeito do álcool em meu organismo, tamanho é o meu desejo de ser e estar lúcida. Para valorizar o que me acontece, para festejar a vida, sem vícios. Minto. Sou viciada e compulsiva por uma tela em branco. Nos períodos de abstinência, sofro muito. Tenho dores de cabeça. Fico sem graça, como se o mundo estivesse mais mediano e insuportável que na véspera. Não consigo me distanciar do universo das palavras. Quando escrevo expulso de mim sentimentos, frustrações, desejos, intenções. Deixo recados. Falo de mim, em primeira pessoa. "Não falo pelos outros, só falo por mim, ninguém vai me dizer o que sentir..."como diz a canção de Renato, o Russo.
É assim que me despeço, numa manhã de quarta-feira, de sol duvidoso, do céu dos leoninos viscerais. Torço para que meus medos se destruam. Assim como torço para que quem me lê não me julgue como uma leviana. Sou mãe por analogia. Pari, sim, o môblog, e provavelmente vou parir muitos outros. Tenho "filhos" virtualizados que me ensinam a viver com mais leveza. Aprendo com "eles" mais do que ensino em sala de aula. Aprendo a chorar com os dedos no teclado, e a sorrir para um monitor, quando me deparo com minha produção autoral, tão minha, tão própria, tão especial. Se todas as mães são felizes, não sei. Filho mesmo, todo o mundo sabe [e eu também] que eu ainda não o tive. Talvez não engravide. Talvez não adote um. Talvez adote [quem sabe] um cachorro. Mas já adotei plantas e estou amando cuidar delas.  E meu sentimento maternal, pelas coisas que conquisto, pelos meus afetos, sei que é amor verdadeiro, incondicional. Igual ao da minha mãe por seus filhos e filhas, e netos e netas. Somos parecidas. E sou uma escritora-blogueira bem feliz.

Citação da linda música Hoje, composta por Renato Russo em parceria com Leila Pinheiro. Do Álbum Renato Russo- Presente (2003). A mesma frase, dele, está também  presente na música Sou Parsifal, anteriormente à primeira, e que consta no Álbum  A tempestade ou o livro dos dias (1996), ano em que ele , infelizmente, foi embora. 

12 comments:

  1. Ju, o escritor Lobo Antunes diz que é a escrita é o que mais se aproxima da gravidez. Segundo ele, os homens escrevem também porque não podem engravidar. Sua analogia é legítima e linda. Bjo

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    1. Olha só, que bacana... não sabia disso! Ufa... :)
      Valeu pelo elogio e incentivo, amiga! Beijo.

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  2. Ai, tô aqui me sentindo tão culpada...
    Recebi o recado e fiquei assim, pensativa, e depois de ler o comentário de Giselly, piorei. Mas deixa eu fazer minha mea culpa:
    sua escrita sempre me encanta, sobretudo por conhecer vc, por termos convivido tantos anos e pq qdo te leio, te vejo falando em minha frente. gosto disso, por isso leio sempre.
    Eu achei que essa história de "conversar com seu filho", fosse passar depois do niver dele. Já vivemos outros momentos de surto, né? Era um tal de falar italoportunhol, de se achar grávida todo mês, de cantar repetidamente o mesmo refrão de musiquinha chata (ai, ai, ai, ai, ai, ai, ai, ai, ai, ai...) e etc.
    Então, que venham as suas novidades, Ju! Recebo-as, todas, de braços abertos e com mto bom humor, pq fazem parte de vc. E é assim que te amo (surtada ou não, kkk).
    bj

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    1. Patiinha... que linda declaração... agradeço os elogios. Se sou mãe de um blog, ele tem que ter madrinha.... risos.. é você! Bj

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    1. :)
      - "eba, eu tenho uma dinda!"
      (disse ele, timidamente, com medo de ser patrulhado pelos seguidores de plantão)....

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  4. Texto delicioso! Parabéns pelos quatro anos e que venham muitos mais!

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    1. Oi querida, obrigada!!! Está chegando o grande dia... risos... beijão!

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  5. "Aprendo a chorar com os dedos no teclado, e a sorrir para um monitor, quando me deparo com minha produção autoral, tão minha, tão própria, tão especial." Bonito isso, Ju. Aliás, o 'desabafo' todo é ótimo! E que vc e seu 'filho' continuem firmes e fortes. Bjsssss

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  6. Bacana, amiga viajante, sua declaração incondicional de amor ao seu atual e aos futuros blogs. Gostei da espontaneidade. Um beijo!

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    1. Marcelo, obrigada pelo apoio... risos... o amor incondicional é pela escrita... risos... beijão!

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