4 October 2013

livre pra voar

Era uma manhã de sol. A orla, como sempre, linda, colorida, com seus coqueiros altos e baixos, com suas amendoeiras, e o mar, tomando conta de tudo, completamente sedutor, com seus tons verdes e azuis. Para quem nunca esteve em terras alagoanas, bom que imagine que o mar daqui lembra uma piscina infinita, recheada de ondas fininhas. Uma belezura sem fim.
Do lado oposto, na avenida principal, um ir e vir de bicicletas, carros, motos, transportes urbanos; todos, num mesmo ritmo frenético, governados pelos sinais de trânsito. E eu?
Ah, só pra variar, divagava sobre o passado e o presente, ao lado de uma amiga divertida e animada com nossa caminhada matinal. Pactuamos o projeto verão e decidimos seguir à risca com horas de caminhada e de sol. A vitamina D anda escassa em nossos corpos. E isso seria coisa da idade? Agora "tomar" sol é permitido? Nada de passar filtro solar? Enquanto nos questionávamos sobre os rumos da medicina, da saúde e das nossas vidas, uma cena nos chamou a atenção. Na verdade, penso que roubou a atenção de todos os presentes naquele cenário mágico, até mesmo dos cachorros que latiam, irritados e limitados em suas coleiras infelizes.
A bola da vez não era uma bola. Era um moreno magro e alto, e ainda mais alto por estar calçado com um par de patins. Na composição do seu "look", vimos que ele vestia uma sunga vermelho-sangue e uma camisa de seda preta, bem leve, transparente, e, inusitadamente, desconcertante para aquela hora do dia.
Fiquei imaginando o quê ele haveria de vestir se fosse noite. Talvez lantejoulas. Talvez. Não pude alimentar outros devaneios, para pensar outras opções de vestuário, porque à minha frente, estava ele.
Esse desconhecido espontâneo, e sua  elevada estima, conseguiu me hipnotizar com sua performance: após minutos de concentração, antes de iniciar seu show sobre roldanas, levantou-se rapidamente, e começou a flutuar na pista reservada aos patineiros de plantão.
Se eu acredito em mágica? Ainda não tenho resposta para essa pergunta. Na infância acreditava. Com o passar dos anos, me senti enganada com as descobertas do mundo adulto. O papai noel do shopping [e não das lareiras], o duende que nunca vi em nenhum jardim, o ET carismático do filme americano. A ausência do meu pai-herói a partir dos 12. Tudo me levou a crer menos em milagres, em coisas fantasiosas.
Mas quando avistei aquele sujeito, concentrado em sua deliciosa atividade, tão lúdica e tão livre, me dei conta que magia pode existir. Ele me lembrou uma mariposa saltitante e feliz. E se "voar é do homem", como nos ensina Djavan*, então, que a liberdade para viver do jeito que se quer, seja possível, incrível, surpreendente. Continuarei encantada.



8 comments:

  1. Aproveite o estado, a sensação e o prazer da liberdade. De si, de voar. Cheiro.

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  2. Novidade mesmo é vc se encantar com um patinador. Já com os morenos...
    rsrs

    bjo.

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  3. Você se encantou com a "figura". Eu, com o seu texto. Um beijo, amiga viajante.

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    1. Você é suspeito, meu amigo querido.... costuma me encantar com seus elogios! Obrigada pelo carinho! Beijos.

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  4. Adorei o texto, Ju. E ele com certeza via magia no que fazia. Você conseguiu enxergar isso e ainda se encantou. E andar de patins exige muito treino, ainda mais em pistas próprias. Bjssss

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    1. Foi tão rápido... como um passe de mágica! :) Beijo, querido!

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