12 January 2014

das aparições

Eu devo ser uma falsa viajante. Viajante que se preza, não deveria narrar tudo o que vivencia em suas viagens? Não, eu não estou nesse grupo. Meus diários de bordo praticamente cessaram, mesmo eu tendo tanto pra contar, mesmo eu tendo feito tantas viagenzinhas fantásticas e ricas de emoção. Preciso me explicar. Que essa justificativa sirva [inclusive] para mim.

A escrita nasce torta para muitos. Para mim, sempre redonda, reta, transparente, imediata, urgente, necessária. Exatamente como nesse momento em que dedico alguns minutos desse finalzinho de domingo para blogar.
Estava com saudade da tela branca. Do teclado. Das conexões entre meus pensamentos e as palavras que saem soltas e fluidas de mim, sem sequer passarem por revisões burocráticas.
Confesso, no entanto, que sentir saudade nem sempre é ruim. De tantos os tipos de saudade e vazios que sinto, esse [de escrever] é um dos mais amenos e gostosos. Lembra aquela sensação boa quando aparece na caixa das melhores memórias: o sorriso nos olhos de alguém que muito queremos bem.
Lembra, em seguida, aquele desejo de abraçar forte essa mesma pessoa. Lembra ainda o prazer de todo reencontro esperado. O ar fica até parado, como se a qualquer momento uma chuva torrencial e, mesmo anunciada, fosse aparecer de surpresa.
Quisera eu retesse os momentos vividos, apenas com o simples ato de produzir um novo texto. Quisera a emoção ficasse retida, mantida, acesa. Não consigo. Tudo é tão provisório, tão rápido, tão fulgás, que me sinto até mal em querer investir nessas narrações.
Do dia 20 de dezembro pra cá, quando escrevi pela última vez em 2013, foi assim: um mar de sorrisos e um rio de lágrimas que hoje dou vazão sem nenhuma culpa. Este tipo de saudade incomoda. Incomoda estar longe. Incomoda sentir falta. Incomoda imaginar-me perto para sempre.
Vivo sempre com esse pé lá atrás, tentando voltar no tempo através de quase-crônicas como essa e o outro no futuro, no mundo dos planos, dos sonhos, dos devaneios. É como se não coubesse espaço para as pausas. A rotina não consegue ser estabelecida. Fujo dela como o diabo da cruz. Talvez porque a danada é imperiosa, prepotente, mina as minhas maiores intenções. Mesmo com a casa arrumada e as malas esvaziadas, não me sinto pronta para fechar o passado e ficar no presente. Meu presente é sempre o que está por vir.
Novas viagens agendadas. As mesmas indecisões costumeiras: viajar de carro ou de avião? Quando volto? Quanto partirei de vez? Aonde quero aportar de verdade? Com quem ao meu lado? O que não posso deixar de levar? De que me adiantam essas horas livres? Ah, já tenho essa resposta na ponta dos dedos: para aparecer e estar por aqui, com essa liberdade toda que conquistei e teimo em manter viva.

14 comments:

  1. É como falar dos nossos silêncios e ter quem ouvir. Das nossas distrações, ficam-se apenas aquelas sensações do que imaginou-se ter feito. Aos que leem, cabem parar e pensar na renovação e no carinho que a autora tem desse lugar que a pertence.
    Das aparições, dos sorrisos, das saudades. Que bagunça, rs. Dormir já não é mais a cura.
    Nesse espaço me sinto navegante, daqui é só um passo. Um passo para encontros, contos e histórias. Para um olhar, que apesar de não ser meu, observa o quotidiano para além de suas frustrações. Me permito sempre quando pouso aqui, acredite. Dessa vez repeti a dose, e reli. Não por curiosidade, ação feia, mas por querer sentir algo como fechar os olhos e deixar as palavras irem saindo, encontrando seus devidos lugares, seus devidos contextos, no texto.
    Ainda não pude ler os demais textos anteriores, do lado de cá as coisas estão cada vez mais constantes, rs. Daí, do teu lado, eu vejo urgência. Realizações vindouras. Sensação mágica essa de conquista. Insista no novo, no amor, na saúde, nas viagens, nos caminhos e destinos... Já é vencedora.

    Cheiro.

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    1. Jairo você é um fofo. Bom despertar você para suas próprias reflexões. Um abraço e obrigada [sempre] pelo carinho com o que escrevo. Beijo.

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  2. Assim contorno e controlo os passos e as viagens. Minhas vertigens. Minhas saudades.
    Eu que sou grato. Imensamente.

    Beijos.

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  3. Viaja, Juba, com mala ou sem ela vc é viajante

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    1. Sim........ viajo muitooooooo... risos... beijo!

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  4. Seus passeios interiores não são menos interessantes que suas viagens reais. Ótimo texto de retorno, amiga viajante!

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    1. Com um elogio desse, como não viajar de emoção?? Risos... obrigada! Beijão!

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  5. Amiga, fiquei na dúvida se vc coleciona mais viagens ou incertezas...
    O lado bom é que, independente dos momentos reflexivos, seu astral está sempre pra cima. E as viagens são sempre mto gostosas pra quem está ao seu lado.
    beijão.

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    1. Mais incertezas, com certeza... ops... risos... deve ser a instabilidade do ar do meu signo e ascendente!!! Beijo, amiga!

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  6. Bem vinda de volta, Ju. E sentir saudade nem sempre é ruim mesmo. Ainda mais no caso da escrita. E vc retornou tão inspirada quanto antes, apesar dessas dúvidas que nos perseguem. Bjs e boa semana.

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    1. Adoro seus retornos, Sérgio. Bom ter você pra me ler. Beijos.

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  7. Ei ju!
    Tua escrita me inspira a viajar... me espira a escrever.

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    1. Saudades, moço! Escreve tão bem e profundamente que é uma pena não escrever mais! Beijos

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