11 August 2014

"tudo em você é fullgás..."

Meu grande problema continua sendo a transitoriedade. Meu carro transformou-se num apartamento. Pena que não tenho um frigobar e as marchas não são automáticas. De resto, o que procuro eu encontro nele. Do alimento ao agasalho, da música ao silêncio gelado do ar. Não me reconheço mais fora do carro. É como se eu não me desvinculasse da condição de motorista. Há exceções, como toda regra. Não conseguiria ser taxista. Não suportaria que me mandassem virar à esquerda ou me ensinar o caminho, apontando o dedo com um mapa no colo. Não gosto de comandos de voz do gps ou de co-pilotos. Se eu estiver em tpm, melhor não abrir a porta do passageiro. Me deixe só com meus botões. Eu me entendo. Eu me suporto. A estrada é para mim como o teclado. Gosto de escrever tanto quanto gosto de dirigir. Mas sempre com liberdade. O doutorado, tadinho, não me aceita tão rebelde. Me cobra atenção e disciplina. Já eu, sigo sozinha, confiante, com as mãos no volante e a cabeça sabe-se-lá-onde. Meus pensamentos são tantos e tão tortos. Ando ansiosa com as minhas novidades que eu mesma provoco e invento em meus dias. Penso tanto que dói. Sinto tanto que choro. Gosto de pensar que isso é um momento que vai passar. De tudo o que é sólido em meu universo, eu pressinto que não consigo tocar em nada.

A escrita correta é FUGAZ, mas o título do post é trecho da música Fullgás, do Álbum Fullgas, de Antônio Cícero e Marina Lima (1988).

4 comments:

  1. Amo tudo que escreve amiga!!!!

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  2. Nem precisava da explicação do Fullgás porque veio a Marina Lima direto na minha cabeça. Adorei o texto. bj

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    1. Verdade! Mas tem gente que não conhece a música e de verdade não fui eu quem escrevi, por isso a referência!! Beijo e obrigada, querido!

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