13 October 2014

uma demanda urgente

A chuva deu uma trégua. O frio também. Me levanto, vou até a cozinha, bebo um copo de água e volto inspirada para uma nova tela em branco. Degusto uma deliciosa queijadinha de Sintra/PT. E antes de começar a escrever o que pretendo, cuidei do meu dever de casa: fiz a varredura nas principais manchetes de jornais, de ontem e de hoje. Também li as diversas postagens com prós e contras dos candidatos à presidência da república do meu país. Na rede social mais queridinha, por exemplo, eu simplesmente fiquei a observar o que pensam meus pares, os indecisos, os pessimistas, os anti-petistas, os neutros [será que ainda cabe neutralidade? Oh, senhor].
Eu tenho que me posicionar. Não posso retroceder. Não cabe, nesse contexto, me calar.
Eu também não gosto de muros, Senhor deputado reeleito. Nunca consegui ficar em cima de nenhum. Dói o pé. Tenho vertigens lá de cima. O olhar vagueia aqui e ali. Por isso é sempre inevitável a queda para um lado. Mas caio e sigo para o lugar que me parece mais seguro, mais justo e o que me parece melhor para mais pessoas, do que apenas para uma minoria.
Eu tenho que dar o meu testemunho. Antes do PT, nos anos 90, eu trabalhava na rede privada de ensino. Instituições educacionais com fins lucrativos, que não dispunham de plano de carreira para seus professores. Instituições de ensino que não cumpriam com seus deveres junto aos seus funcionários. Meu INSS não foi creditado. O meu FGTS até hoje não foi depositado, e isso sabemos: fruto de alianças público-privadas, que precisamos combater. Fui estudante da graduação, pós-graduação e mestrado, todos na rede privada. Não havia investimentos em novas vagas e cursos e muito menos em concursos públicos para professores. Nem na Bahia nem nos demais estados. Nesse momento, eu preciso narrar a minha trajetória. Isso pode ajudar os indecisos a repensarem as suas ideias acerca dos projetos de governo nos dois partidos. Para ter um salário decente, eu precisei ao longo de mais de cinco anos, trabalhar em mais de uma IES e ainda ministrar aulas em finais de semana. Um período de sufoco. 
Sou uma das brasileiras privilegiadas: ingressei por concurso público, em 2010, para o magistério superior, como professora assistente, no primeiro mandato de Dilma Roussef. Talvez  eu tenha feito parte de uma das últimas oportunidades na minha carreira profissional, naquela ocasião, já que atualmente os candidatos precisam ter necessiariamente o título de doutor para concorrer às vagas para efetivos. Me tornei, com muito prazer, servidora pública efetivada, após três anos de estágio probatório; estou cursando doutorado-sanduíche em Lisboa, por nove meses de trabalho remunerado, estando afastada das minhas funções na Universidade. Outros ganhos: em função do doutorado em Educação, que só foi possível após a estabilidade garantida em meu emprego, há seis meses também pude ampliar os meus conhecimentos em outra língua. Faço um curso de inglês online, 100% gratuito, pelo Programa Ciências sem Fronteiras. Todas essas garantias de qualificação profissional foram alcançadas por programas governamentais. Além de mim, muitos outros milhares de estudantes foram beneficiados. O país cresce com novas pesquisas e novos pesquisadores. Não há nenhuma mágica nisso. Há sim, compromisso com a população que não dispõe de recursos financeiros para arcar com tais custos, na educação privada. Eu poderia citar outros benefícios. As cotas, por exemplo. Uma conquista gigantesca. E por estudá-la, já compreendo que precisa ser redimensionada. Mas isso não diminui o seu efeito positivo frente aos estudantes [e famílias] beneficiados.
Obviamente, por limitação minha, não posso narrar o que acontece efetivamente em áreas como saúde, por exemplo. Mas posso imaginar os horrores que acontecem nos corredores e pátios de hospitais. Não somente com médicos, enfermeiros, equipes inteiras que estão em péssimas condições de trabalho, assim como nós, nas instituições de ensino da rede pública. Imagino, sobretudo, o grande problema que é para qualquer brasileiro que não possui plano de saúde [caríssimos, por sinal], terem acesso aos serviços de qualidade na rede pública. Eu duvido que a onda de privatização dos hospitais, bem como a grande roda de fortuna que gira em torno das parcerias entre médicos e empresas de medicamentos no país, terá fim no governo do PSDB. Temo que muito mais coisas ruins estão por vir. E eu não quero que isso [nos] aconteça. Por mim, pelos meus, pela população inteira.


2 comments:

  1. Olá, amiga viajante. Fico feliz que a gestão da Rousseff tenha sido positiva para você. Não é o meu caso, mas respeito sua posição. Aproveite bem sua temporada lusitana! Um beijo.

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    1. Vote13!!! risos... valeu e um beijo querido!

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