8 November 2014

"você não sabe o que é farinha boa..."

Era uma vez uma pessoa muito apaixonada por beiju, assim, escrito com U ao final e sem acento tônico. O beiju tem outros nomes. Pode ser chamado de tapioca também. É feito de aimpim. O aimpim tem outros nomes também. Pode ser chamado de mandioca, ou de macaxeira, que não por acaso, é o apelido dessa pessoa, entre os amigos dela em Maceió. 

Essa pessoa muito apaixonada por beiju, que nada mais é do que a farinha da tapioca temperada com sal, e assada em fogo baixo num tacho de ferro ou de alumínio, foi morar em outro país. Lá chegando, sentiu falta de comer beiju. Procurou a farinha nos mercados locais. Não encontrou.
Essa pessoa ficou triste, saudosa, imaginou ser simples e possível receber poções mágicas dessa gostosura nordestina, quando um amigo fosse até ela.
Eis que a oportunidade chegou. O amigo querido, prontamente resolveu comprar a farinha de tapioca já no aeroporto. Pagou mais caro mas "há coisas que não tem preço", pensou ele, feliz de poder ver o brilho nos olhos e a boca da sua amiga salivando, só de imaginar que muito em breve degustaria do seu manjar salgado.
Ela foi encontrá-lo no aeroporto, toda feliz pelo reencontro, de braços abertos. As mãos estavam abertas, do mesmo modo, mas à espera de um precioso presente, que não veio junto.
Ele narrou todo o esforço dele. A farinha da macaxeira é muito branquinha e fina, pronta para uso imediato dos mais apressados. Ela lembra outras farinhas branquinhas e prontas para uso imediato dos mais viciados. Imaginem só. Pronto. O meu beiju não veio porque se parece demasiadamente com uma droga ilícita. Questionaram para ele: "você não vai levar pó para sua amiga misturado com essa farinha, vai"?
A polícia federal não tem ideia do que é separar o joio do trigo, a farinha que alimenta, da farinha que destrói. Claro que deu pra rir do absurdo desse episódio, sim. Ela pensou: vou escrever sobre isso. Fato é que aquela pessoa apaixonada terá que viver na abstinência por longos nove meses. 

O título do post é trecho da música "Farinha", composição do alagoano Djavan, do álbum Milagreiro (2001).

4 comments:

  1. Certamente, o episódio é autobiográfico. Sinto muito, amiga viajante... Culpa desse mundo cão, onde tudo é suspeito até que se prove o contrário. Um beijo aqui, do outro lado do Atlântico.

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    1. Está vendo como me denuncio? Relatos autobiográficos são realmente a minha marca... até tento, mas não engano.... risos... beijo, querido!

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  2. Acabou que isso deu um ótimo post. E eu desconhecia esse nome "beiju". Só conheço como tapioca mesmo. Legal. bjsss

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    1. Eu invento uma forma de driblar os dramas... a escrita é uma válvula saúdável!!! Beijo

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