ela ama contar causos

Ela odeia chegar atrasada para qualquer compromisso que assuma. Geralmente sai de casa mais cedo e sempre comemora quando consegue encontrar o endereço, seguindo dicas virtuais ou dos amigos. Mas
sempre confunde os horários. O sangue da matriarca, sua avó materna, continua circulando, muito quente. Madruga, literalmente, como sua saudosa Vó Maria fazia. Se levanta, faz um [novo] xixi, e resolve que vai dormir mais um tantinho, após o susto, por perceber que o dia sequer anunciou que está chegando. Ela se diverte por ser atrapalhada. Lá adiantada, ela entra em ruelas, observa as pessoas, seus hábitos e vozes que, misturados, formam quase um novo dialeto. Ela prova novos sabores e receitas dos chefs locais. O "povo a lagareiro" já foi degustado e apreciado muitas vezes. Ela acredita que ainda vai saborear um ainda melhor. Quem sabe no próximo almoço. Ela já perdeu a hora de um voo, porque decidiu que não iria chegar tão adiantada. Ela já passou mais de oito horas dentro de um aeroporto. Quase enlouquece com os sons, calma e mesmice do lugar. Hoje ela conseguiu o feito de chegar duas horas antes, e no endereço errado. Sorriu, fez algumas fotos do lugar e decidiu almoçar um novo "povo a lagareiro". Concluiu que talvez esse seja o melhor. Mas ainda é cedo. ‪

Publicado originalmente no Mundinho Azul, na mesma data.