3 August 2015

não era para estar aqui

Todo mundo deveria saber: a vida de um docente não é moleza. Os amigos, de outras profissões, se assustam quando falo da carga horária semanal de aulas, momento obrigatório para comparecer ao meu local de trabalho. Ironizam, dizem  que a vida de professor com dedicação exclusiva (DE) é muito tranquila. Escuto perguntas assim: "quer  dizer que só trabalha 12 horas durante a semana? Você não vai todo dia para o trabalho? Como assim, não odeia segunda-feira? Ah, vida boa, 45 dias de férias e mais os recessos? Nossa, você é que é feliz!!"
Óbvio que eu não ignoro essas falas.
Há muita falha de comunicação por aí. Minha teoria é que existem dois tipos de professores: os sérios e comprometidos e aqueles que não realizam suas obrigações: não pesquisam, não publicam, não realizam atividades de extensão, não comparecem em reuniões (outros sequer em suas aulas!!!), não lutam com seus pares, não exercem a função de servidor público. Portanto, não contribuem para promover uma educação pública de qualidade referenciada.
Esses não-trabalhadores, que literalmente recebem sem trabalhar, deveriam ser auditados. Mas aí já é outro campo, não mais o da educação, mas o da justiça. Não posso fazer muito. Oriento aos alunos para denunciarem "maus tratos". Não deixo de chamar a atenção desses seres ocultos, que vivem sabe-se-lá-onde e fazendo sabe-se-lá-oquê e ganhando sabe-se-lá-quanto.
Há investigações em curso. De profissionais concursados com DE que não poderiam exercer outras funções e terem seu CPF vinculado a outra fonte pagadora, mas.... não cabe a mim essa tarefa de apontar quem não trabalha. Mas lamento muito. Isso fragiliza a nossa categoria, fragiliza a nossa luta por direitos e valorização da carreira. Enfim, estimula para desqualificar a universidade pública.
Ontem foi um dia difícil. Os domingos são quase sempre ingratos. Meu ano inteirinho de licença "para fins de qualificação" acabou. Apesar de ter finalizado, entrei oficialmente em meu período de férias, relativo a 2015. Em greve e de férias. É uma coisa contraditória, sim, mas o sistema aceitou. Estou de férias, em greve, participando da luta e escrevendo minha tese. Não me sinto de férias. O sol desponta, se põe. Estou aqui, em meio aos livros e textos e interrogações. Me pergunto muito se isso faz sentido. Se minha vida poderia ser outra. Não dá para devaneios. A vida é essa e preciso acabar com isso. Então fechei algumas contas. Desativei os grupos de conversa no celular. Saí do mundinho azul. Uma saída temporária. Ou não. Vai saber? Felizmente não tenho bola de cristal. Mas minha intuição me diz que esse pode ser um caminho. O problema é a abstinência. Por isso esse desabafo, em pleno inferno astral da tese e também do aniversariante. O blog anda carente. Também eu, como diriam os portugueses.
Hoje resolvi começar escrevendo com liberdade, para tentar voltar para tese com mais vontade de acertar o passo e finalizá-la dentro do cronograma. Eu estou naquela fase "limbo": escorrego, levanto, caio de novo. É muito difícil manter-se em pé e sorridente. O que tenho que fazer só depende de mim e de concentração.
Eu não gosto das regras ABNT. Não gosto do formato fechado dos textos acadêmicos. São necessários, óbvio. O padrão ajuda, inclusive, numa avaliação. Imagina se cada um resolvesse fazer um texto com uma lógica própria de formatação? Só para entender cada tipo, o avaliador já perderia o desejo de voltar-se para o conteúdo. Assim sigo, odiando e aceitando. Tenho que voltar para tese. Já não sei mais o que estou dizendo... (volte ao título)


4 comments:

  1. Respire fundo e continue. Não desanime, você está quase chegando lá! Beijo

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  2. Marcelo Sguassábia4 August 2015 at 21:03

    O bem e o mal estão em tudo, até mesmo onde por missão só o bem deveria existir. Afinal, professor é formador. Boa sorte em seu caminho, amiga viajante. Torço por você.

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    1. Obrigada, querido! Estou tensa, mas é fase.. até a uva-passa... risos.. beijo!

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