4 September 2015

sobre a construção social negativa do Outro

"É racista quem defende a superioridade sócio-genética de um grupo; é etnicista quem defende a superioridade da sua comunidade imaginada de origem; é xenofobista quem defende a preeminência e a supremacia de uma nação. Nos três casos está em jogo a luta pelo monopólio dos recursos de poder, em função dos marcadores: pigmentação no primeiro caso, pequena comunidade imaginada no segundo, grande comunidade no terceiro". Carlos Serra, moçambicano, doutor em Sociologia, me ensinando a ler direito todo esse caos social que vivenciamos.

Em minhas andanças por aí, já conheci muita gente preconceituosa e limitada. Quando conheci Roma, a cidade mais linda do mundo, tive uma decepção com alguém que considerava muito legal e de quem gostava muito. Descobri, no entanto, que ele é um preconceituoso, desses bem perversos. Mas  me disse que o preconceito era meu, por achar que ele tinha preconceito! (risos)
Era o primeiro dia de aventura para conhecer a cidade. Estava animada demais e ansiosa, igualmente. Nós entramos num ônibus bastante cheio. Eu logo encontrei uma poltrona e me sentei, e perguntei se ele não iria se sentar ao meu lado. Acenou bravo (de carranca). Eu perguntei o porquê. Me justificou assim: "é que estão sujas. São usadas por esses imigrantes imundos, drogados e ladrões que fazem uso (indevido, claro) dos serviços públicos. Daqui uns anos não teremos mais romanos em Roma. Eles (com toda a repulsa) vão invadir tudo".
Eu tive vontade de cuspir na cara dele, mas sou educada e cordial. Apenas lhe respondi: penso que essa é uma situação especial. Entendo que seja responsabilidade e obrigação do Estado acolher e propor políticas sociais para esses grupos marginalizados. Eles precisam de moradia, educação, transporte e trabalho, como você, como eu, como qualquer ser humano.



Citação extraída do livro O que é racismo, organizado por Carlos Serra, em 2014.

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