18 April 2016

das faltas insuportáveis

Quando nos conhecemos, nos anos 80, nós estávamos saindo da adolescência, estudando para o vestibular, cheias de espinhas na cara e sonhos na cabeça. Passamos por fases. Passamos por farras. Frequentamos lavagens de medicina, de odonto, de direito. Viajamos com as outras amigas em réveillons, festas juninas. Curtimos em trupe todos os tipos de carnavais possíveis para uma única encarnação. Conhecemos a Argentina juntas. Temos fotos desses momentos todos. Temos memória para todo o sempre. Temos sorrisos acumulados. Atravessamos de um século ao outro. Nos mantivemos próximas, mesmo afastadas pela geografia.
Nunca duvidei nem questionei o valor que tenho por você, amiga. Ou que você tenha por mim. Então estar assim, distante de verdade, é estranho, doloroso, uma infelicidade. Todos os dias me levanto e peço a Deus para remover essa mágoa. Todos os dias peço proteção no seu caminho, como peço para todos os que amo. E, acredite, peço também para os que não amo. É a minha missão assumida semear amor, semear alegria, desejar a paz na humanidade.
Você me recebia na sua casa como se eu fosse parte de sua família. Nunca me senti hóspede. Nunca me senti rejeitada. Nunca me senti uma intrusa. As nossas novelas pessoais, dos amores e paixões, um capítulo que guardarei em segredo. Não imaginei que perderia a nossa cumplicidade. Espero que ainda dê tempo para dizer que lutar por justiça social, por democracia, pelo fim do preconceito racial, isso não faz de mim uma inimiga. Isso deveria fazer de mim mais amiga ainda. Porque se eu estivesse conspirando por coisas ruins, eu não estaria aqui apelando para a escrita, para uma rede social e declarando abertamente que te amo, amiga. E se me excluir da sua vida, como me deletou desse mundinho esquizofrênico pelos erros dos nossos políticos, a minha dor será pra sempre.
Dói muito não te dar o costumeiro bom dia ou mandar um áudio contando a resenha mais besta do dia ou da noite ou da madrugada. Seus olhos, seus ouvidos, seu coração, tudo isso me faz falta. Me deixa menor.

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