9 February 2019

culpados não existem?

Na nossa vida privada, assim como na vida pública, a morte está sempre a espreita. É bem verdade que é a única certeza: todos iremos morrer, mais cedo ou mais tarde. 
Na nossa vida privada, quando um dos nossos morre, ou fatalmente, muitos se vão numa levada só, num acidente de carro, por exemplo, a gente sofre, se desespera, fica no limbo, ora se apegando na fé, ora praguejando pela ausência de misericórdia divina, por não ter nos poupado de tamanha dor. 
Lidar com a ausência dos nossos afetos que partem, muitas vezes de forma abrupta, é um exercício diário de desapego, de conformação, de vontade de se reinventar e viver mais e melhor, afinal, a vida é um piscar, passa depressa. 
Soma-se a isso, o fato de que estamos envelhecendo. Doenças começam a bater na porta, ou às vezes entram sorrateiramente, sem nos perguntar se estamos preparados para lidar com dores, medicações, diagnósticos e ansiedades nas longas e intermináveis consultas médicas. 
Viver bem, com saúde e alegria, no envelhecimento, também nos força a rever nossa relação com o trabalho, o quanto nos dedicamos, com os amigos, com as nossas famílias. O que priorizar? Quem priorizar? O que decidir fazer até perdermos nossa sanidade mental ou nosso encantamento com a vida?
Na vida pública, essas questões ficam todas em segundo plano. Eu não consigo ser egoísta, pensar no meu quintal, se tenho empatia, se compreendo minimamente que viver no coletivo exige muito mais cuidado e prevenção. 
As tragédias do momento no Brasil, todas elas, dizem respeito a essa ausência de planejamento e atenção com as vidas alheias. O nível de egoísmo, de competição e de desumanidade são reflexos dessa cultura instaurada do empresariado e dos políticos desonestos: pensar o coletivo com mentalidade privatista: “eu moro distante da barragem, eu não dependo de aposentadoria pra sobreviver, o meu filho não frequenta escola pública, eu tenho condições de pagar a escola dele, o financiamento da casa e o plano de saúde pra minha família, os meus passam muito bem, estão protegidos, não dormem em condições insalubres, então, a minha vida segue boa, a dos outros, tanto faz, isso não é problema meu, é acidente, é a vida”. 

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