11 June 2025

querer é poder

O dia que antecede o 12. 

Eu ando muito reflexiva esses dias e isso não é o meu normal. Digo normal com cautela. Reflito sempre, mas tem muito tempo que venho seguindo no automático, fazendo tudo parecer razoavelmente dentro do que se espera para minha nova vida. Nova mesmo, porque afinal me mudei pra Salvador, em definitivo, mudei de universidade e fiz essas importantes mudanças com outras tantas bem pessoais. Tudo é novo em mim, inclusive o meu desejo pela novidade.

Quando eu penso em mudança, me lembro de muitas que já fiz: de apartamento, de cidade, de bairro, de prédio, até de um andar para o outro, dentro de um mesmo prédio. Em Portugal eu consegui a proeza de mudar de "morada", num mesmo quarteirão. Eu apenas atravessei a rua e arrastei malas de um lado pro outro. Essas mudanças são cansativas, cheiram caixas de papelão e bagunça. Cheiram também novos ares. Eu reclamo mas no fundo eu gosto, desse sentimento de renovação, que toda mudança de casa nos provoca. Estou até cogitando perder a preguiça e criar coragem para mudar de canto outra vez. Mas vou refletir mais sobre o assunto.

O dia de hoje me deixou reflexiva sobre outro tipo de mudança em mim. A mudança de perspectiva. Consegui o tão sonhado retorno para minha Bahia e para a minha cidade predileta no Brasil. Sonho alcançado. O que faço agora com o que alcancei? Qual é o novo sonho: me acomodo ou já posso sonhar outra coisa? O que a esquina logo ali me reserva? O futuro é tão previsível como o sinto agora? Não terei mais surpresas? Novos desafios? 

Na nova casa de trabalho, na minha nova "firma", não me sinto desafiada. Tudo o que vivi no semestre anterior me deu essa sensação de "mais do mesmo". Na pós-graduação também desconheço o que seja novidade. Me sinto quase perto de aposentar, sem aquele frio na barriga que era tão bom de sentir quando me lançava em algo que nunca havia feito. Tudo parece calmo, no lugar. Me sinto numa zona de conforto que não me parece confortável. Não gosto desse cenário ou apenas me acostumei a ter adrenalina o tempo todo?

As crises de poder e de vaidade me desencantam desde sempre. Não almejo cargos de gestão, não quero disputar nada com ninguém. Eu simplesmente acolho o que chega pra mim e tá tudo se encaixando: conspiro junto com o universo e o universo me presenteia com novas oportunidades para crescer e marcar meu nome na história. E sei que mereço pois além de comprometida eu trabalho muito. Nunca que alguém poderá dizer sobre mim: "para ela tudo é fácil, uma sortuda". Não mesmo. Nunca foi sorte.

Eu escrevo sobre mudanças que já acolhi, mas não há em mim o medo de novas mudanças. Talvez o desejo por novos desafios, por algo que eu me apaixone. No trabalho e na vida amorosa! Quero me apaixonar. 

É isso. Meu desejo é me apaixonar outra vez. 

E que a nova paixão seja recíproca, sem dor, sem pudor, sem medo, sem pé no freio, sem controle, com liberdade. Quero e posso sonhar com um novo projeto a 2. Por que não? E desejo esse novo tempo sem mágoas, sem desconfianças, sem tensões, sem ranços, sem despedidas. Quero me encantar de verdade. Desejo do fundo do meu coração ter de volta os meus olhos brilhando. 

26 May 2025

saudade de escrever

Parece algo óbvio. Você tem, ao seu dispor, sempre novas páginas em branco no editor de textos do computador, tem bloco de notas, tem agenda, tem inúmeras possibilidades de escrita. Você tem papel, tem caneta, tem até um blog. E por que não escreve mais? O que aconteceu nesse hiato de tempo? 

Bem, aconteceu muita coisa! Mas não é sobre o que aconteceu que quero escrever. Quero escrever sobre saudade, a saudade de escrever.

A escrita acadêmica é muito importante mas não é nem de longe agradável. Ver um texto publicado sim, é muito bom! Depois de tanto trabalho... ah, ver o que se escreve num livro, numa revista de qualidade ou num jornal... é infinitamente maravilhoso! É como se a materialidade do que se escreveu estivesse ali, guardada para sempre. 

O que se escreve, permanece. As palavras ditas voam, não retornam pra nós. Quando muito, recebemos outras palavras, e até contra o que dissemos em algum momento. Renato Russo musicou sobre isso, sobre o medo da dureza e da hostilidade da recepção sobre o que dizemos, para quem dizemos.

Mas aqui estou, escrevendo sobre escrever. Como é bom ver as palavras nascendo do meu pensamento e preenchendo vazios. Sim, quando escrevo me preencho. Me sinto munida de novos argumentos, me sinto motivada para ser melhor, ser diferente de antes do ato (de escrever). Mas não é simples, mesmo. Nem escrever ciência nem ficção. 

Escrever na primeira pessoa, então... é preciso ter coragem pra se expressar, pra se expor, e também não se importar como o que vão dizer do que você quer dizer. O problema da narrativa autobiográfica é sem dúvida essa mania perigosa que o outro tem de querer decifrar quem escreve. Não, nunca será possível descrever ninguém mesmo que o texto comece com um "eu sinto muito". Mas a gente sente tantas coisas! E sente diferente em tantos momentos, e até num mesmo momento. 

Não é legal ser vigiado, muito menos saudável ser monitorado. Eu bem sei o que é isso. Vivi isso na pele. Ainda me sinto sob vigilância. Eis o problema que me trava muitas vezes a espontaneidade de escrever. Mas vamos lá, mesmo com essa sensação incômoda que me trava, não é possível bloquear o meu desejo de ser livre. E escrever me liberta, de verdade. Deveria escrever muito mais. Deveria dedicar esse tempinho para os meus botões mais vezes. Deveria, deveria... tudo é ordem, não é? A pressão acaba por me tirar o prazer. Sentir-se pressionada por mim, principalmente.

Não, não vou escrever por pressão. Vou escrever quando tiver vontade, como o faço agora. Ouvindo música boa, com os dedos dedilhando o teclado, como se o tempo parasse ali, eu e as letras, eu e as palavras, eu e as frases, eu e os (meus) contextos, eu e minhas pequenas crônicas que nascem do nada, ou nascem quando estão com tudo pronto.

Eis um ode ao meu amor pela escrita espontânea, livre, visceral. Eu sou isso, mas sou muito mais. Sou milhões de pensamentos tordos, doídos, doidos, retos, límpidos, vorazes. Eu sou um mundo de sentimentos e de sentidos. E agora me sinto plena. Só porque expulsei de mim, 1% do que queria escrever hoje.

22 March 2025

21 que é contrário de 12

O dia 21 passou a ter um significado muito especial pra mim. Fui empossada na Unilab, minha nova universidade, em 21 de janeiro de 2025. Lá se vão 2 meses de muitas novidades, muitas adaptações e muitos desafios que acolho e cuido de dar conta, como sempre o fiz na minha vida profissional. 

Ano passado, no dia 21 de março, foi um dia duplamente marcante. Coordenei um evento grandioso, no salão nobre da reitoria da UFBA, sendo eu professora externa, que estava em pós-doc no Posafro. Posso afirmar que este evento foi um divisor de águas na minha vida. Primeiro pela ousadia de enfrentar todos os setores institucionais para dar conta de uma atividade de extensão que assumi enquanto organizadora e foi muito, muito exaustivo e também gratificante, por entender, com esta experiência, que posso tudo mesmo, em Cristo que me fortalece, desde que eu tenha autonomia para fazer as coisas que a mim me chegam. 

Também nesse mesmo dia de 2024 eu consegui dar um ponto final numa relação que me doía da hora que eu acordava até a hora de me recolher. Eu tive pausas boas, memoráveis, de situações lindas que vivenciamos juntos e que, óbvio, guardarei na lembrança porque nada é só coisa boa e muito menos só coisa ruim. 

Os dois lados sempre existem pois qualquer relação é capaz de gerar tensões, angústias e dissabores. Somos seres vivos e principalmente somos muito imaturos, mais do que deveríamos, quando se trata de relacionamentos interpessoais. É assim no trabalho, na família, com pais, com irmãos, com amigos, com colegas, com vizinhos, com serviços que contratamos... se estamos nos relacionando, os conflitos surgem naturalmente. Não é possível evitá-los, mas é possível fazermos novas escolhas quando nos deparamos com relações cujos conflitos desembocam em abusos, que criam um ambiente tóxico, que estimula a negatividade, que derrete o que há de melhor em nós, que nos conduz ao adoecimento.

Amor e dor nunca deveriam ser conjugados juntos, mas a literatura, músicas, filmes, novelas, alimentam-se dessa relação e nos faz crer que ao normalizarmos sofrer por amor, está tudo certo, no fluxo que deve ser.

Mas não é possível normalizarmos o que nos dói, o que nos incomoda, o que nos paralisa.

No mesmo dia que realizei o maior evento que organizei na UFBA, em Salvador, na minha Bahia, terminei o meu relacionamento. Voei alto e caí de cara no chão. Alcancei dois extremos em 24h: satisfação e frustação, de prazer e de dor. Sinceramente não faço ideia como consegui sorrir por ter conseguido realizar a atividade tão difícil de ser concretizada e em paralelo, findar uma relação tão difícil de abrir mão. Naquele dia, ao acordar, eu vi que precisaria reunir minhas (últimas) forças e dar conta das duas situações. 

Um ano se passou e ontem comemorei os dois feitos. Comemorei por ter me superado. Comemorei por ter resistido à saudade que me acompanhou todo o tempo e por ter me livrado de toda a tensão que vivi estando ao lado de alguém que me amava e me odiava ao mesmo tempo. E era muito surreal ser amada e odiada com a mesma intensidade. Sofri por perder o amor que conquistei. Sofri por entender o ódio que alimentei. E nesse 1 ano eu me libertei dessa "sofrência", que é digna de um bom samba, pagode, arrocha.

Não, eu nunca vou concordar que amor e dor devem ser um combo. Que se combinam. Eu sou romântica. Amo tudo o que o amor nos provoca e o amor não provoca e não deriva dor ou angústia. Quando isso acontece não é amor e é por isso que precisamos nos cercar de autocuidado, de buscar rede de apoio, fazer terapia cuidar de nossos gatilhos, de nossa carência, de nossa autoestima. Relacionamentos abusivos devem ser identificados e combatidos. Ninguém precisa sofrer tanto para entender que deve se separar para voltar a sorrir.

O dia 21 de março de 2024 me fez feliz e muito triste. Lamentei demais a separação forçada, mas hoje reconheço que dei o melhor de mim para mim e para ele. Tenho certeza que ao fim e ao cabo, ele me agradece por ter feito essa escolha, ainda que não compreenda (ou não aceite) o nível de adoecimento que mutuamente desenvolvemos entre nós dois e a nossa "mania" de um pelo outro. 

O dia 21 de março de 2025 me fez feliz e muito aliviada. Por ter sobrevivido ao caos. Por estar com 2 meses de Unilab e muito adaptada ao novo ambiente, com turmas amorosas de estudantes africanos que nunca imaginei que poderia conviver, estando na Bahia. Também por estar sorrindo com meus percalços, com minha serenidade, com a paz que me cerca durante o dia e também quando adormeço. 

Amor e dor não combinam. Liberdade e paz, sim, são o verdadeiro sentido de existência para qualquer ser humano. Agradeço por todos os aprendizados e o trocadilho dos números me faz crer que 12 e 21 simbolicamente me remetem a coisas boas, a uma sorte que vem da minha espiritualidade, da minha ancestralidade, da minha relação com meu pai. Meus 12 anos convivendo com ele me ajudam a continuar enxergando o bem, o bem viver.


27 January 2025

aprendi a dizer não

Parece fácil dizer não? Sim, parece! Mas só que não! No desejo de agradar sempre, muitas vezes dizemos sim, e vamos perdendo a capacidade de fazer as nossas próprias escolhas!

Dizer não é preciso, muitas vezes! É preciso que saibamos o que queremos viver, com quem viver, com quem estar, fazendo o que e aonde! 

Durante muito tempo eu cedi. Nada mudou com todas as minhas tentativas de ceder. Eu dizia sim para evitar uma nova briga, imagine… que loucura ajudei a construir em volta de mim! 

O primeiro não foi muito difícil, mas estou aqui, pra lembrar que deu certo e foi muito necessário, naquele momento em que eu estava sofrendo muito e certamente fazia o outro sofrer. Não existe mão única numa história! Precisamos assumir nossas responsabilidades e culpas para o que não funciona. 

Dizer não é libertador! Ser honesto é sempre muito melhor num mundo cheio de aparências e mentiras… muito importante nutrir a verdade entre nós! 

Se a gente sofre quando diz não? Claro que sim! Mas é bom não esquecer que as dores passam com o tempo! E o tempo cura tudo! 

14 December 2024

14/12: o dia do meu velho

Eu circulo essa carteira de identidade do meu pai faz um tempinho. Tenho pouquíssimos registros dele, porque até a década de 80, quando ele partiu, em 1982, a nossa vida em família não contava com celulares, máquinas fotográficas instantâneas. Nossas fotos eram sempre 3/4 para o ano letivo seguinte e poucos momentos de festas. Eu não desculpo nunca o tempo por ter me privado de não ter mais memórias com ele, memórias físicas, incluindo fotos. 
Seria muito gostoso ver ele mais novo, com minha mãe, no nascimento do meu mano Mô, nas chegadas e partidas da Laranjeira, dele dirigindo, ou tocando violão ou fazendo pose para selfies. Queria muito ter vídeos deles com os netos e com os bisnetos. Queria ter muitas conversas com ele, ao vivo e no whatsapp, ver ele usar figurinhas, aprender a interagir nos grupos e, sim, discutir política. Ah, hoje seria um dia potente... risos...
Queria ter visto ele dançando com minha mãe, com minhas irmãs, ou assistindo o Vasco (perder) ao lado dos meus manos. São imagens imaginárias, de cenas que não existiram mas que seriam lindas, que seriam memoráveis. 
 Estou escrevendo muito ultimamente e deve estar todo mundo cansado dos meus textões. Talvez não importe pra ninguém o que sinto ou o que desejo materializar em palavras. A escrita me salva de mim. Deveria fazer terapia além da escrita e da faxina? Sim, deveria. Mas quem convive comigo sabe o quanto consigo respirar melhor depois que escrevo ou ando descalça com o chão limpo e as plantas 🌱 alimentadas. 
Meu canto no mundo é na escrita mas é no meu lar que encontro meu pai. Sim, o violão continua paradinho, esperando meus dedos. Um dia vou te (re)encontrar na minha sala, numa canção de Roberto Carlos, o “outro cabeludo” que o senhor tinha muito ciúme pois minha mãe adorava! Ela ainda adora mas também gosta de sertanejos… acredita nisso?? Eu vou sempre te homenagear meu pai! Hoje completaria um século e, de novo, não perdoo a vida, as circunstâncias da sua partida tão repentina.
Viveríamos contigo, cercados de seu cuidado e amor. Estamos conseguindo fazer essa tarefa a partir da nossa mãe e dos filhos e filhas que o núcleo Santana nos presenteia! Gratidão por ser sua filha, por ser a sua filha professora, como queria que eu fosse.

22 August 2024

enfim, debutante

Eu fui lá buscar o que significa DEBUTANTE: "a palavra vem do francês débutante, que significa iniciante ou estreante". Fala sério, meu pequeno, você estreia desde que nasceu! Tu é baiano, além de ser leonino do último dia!

15 anos merece muitas comemorações e eu decidi comemorar sua nova idade com pequenos presentes em agosto! Consegui publicar novos posts! Viu só como a mamãe se esforçou pra te agradar? Preciso me corrigir e te dizer que não chegou a ser um esforço, afinal a escrita nasce de repente, então escrevo muito rápido quando isso me acontece. 

Queria também fazer uma festa de 15 anos completa, com direito à convite, uma mesa bem linda, cheia de gostosuras, taças e brindes, com muitos leitores e leitoras que convidaria, num espaço todo verde, com muitas plantas que amo. 

Sim, filho, não teria flores pois não sou fã de flores, apesar de amar plantas que dão flores, mas essas são as mais trabalhosas, que exigem muita atenção e investimentos. Prefiro as plantas que não requerem tanto a minha intervenção, que sobrevivem com pouca luminosidade, por exemplo. 

Eu aqui falando de plantas e me lembrando de você, blog aniversariante. Como sou uma mãe muito desatenta, me sinto culpada muitas vezes, por não te tratar com mais cuidado, por não te presentear com novo design, por exemplo. Eu não tenho tido tempo e mamãe aqui é das antigas. Amo essa fotinha com a minha tattoo… não é mesmo linda?

Mas olha só, esse espaço que é nosso, é gratuito. Não faço ideia como, mas ainda circulo livremente por essa estrutura há exatos 15 anos! Bem verdade que fui assediada algumas vezes, para inserir marcas e propagandas, mas me mantenho intacta. 

Continuo não suportando fazer propagandas. E creio que é assim que, como mãe solo, assumo minhas responsabilidades, minhas ausências, mas sobretudo, o meu amor pela escrita livre, por você que me deixa escrever com essa liberdade que tanto amo!

Sua festa não tem bolo de três andares, não tem terno e nem banda contratada, não tem valsa, mas pensa comigo, eu sempre estarei aqui, derretida, achando você mais lindo que nunca, com essas espinhas que estão sumindo do seu rosto, ops, do meu caminho.

Espero que seu dia seja incrível e que você me inspire sempre mais, para preencher com muitos caracteres e emoções essas páginas em branco, que tantas vezes me ajudaram a superar dores abissais.

Parabéns para nós dois! Desejo muita felicidade, muitos escritos lindos e experiências incríveis para nós. Sim, entendi que você quer mais narrativas de diários de bordo, com viagens para essa mamãe que ama escrever enquanto conhece novos lugares e gentes, mundo a dentro. 

Gratidão por me suportar em meus altos e baixos! Como costumo dizer, a escrita me acalma. Você me acalma, meu bloguito!



21 August 2024

"ninguém vai me dizer o que sentir"

Na véspera do seu aniversário, meu blog, queria conversar um pouco sobre as mudanças que já percebo em mim. Mudanças de atitudes, de hábitos, de pensamentos e até de sonhos. Mudanças que sinto na minha pele, no meu corpo, no jeito que lido com os assuntos rotineiros e com os mais complexos. 

Já me sinto em mudança de verdade. Não mais de casa, de bairro, de cidade. Mudança interna, cujas caixas de papelão não existem, mas que é óbvio que sei que ainda existem muitos nós e que vou ter que desatá-los de qualquer jeito. 

Eu poderia só falar do que está sendo bom? Posso parar de reclamar? Você me permite que eu só enxergue o (meu) copo meio cheio? Porque você sabe muito bem, eu fiquei muito tempo vendo sombras, pensando em sombras, no que me afligia.

Dediquei muito tempo lamentando perdas e em constante luto com tantas despedidas. Mas eu creio que posso sim, voltar a sorrir, voltar a perceber a beleza de um sol no alto do céu, as ondas que quebram nas pedras ou suas espumas leves, desparecendo na areia.

Hoje eu completei 5 meses de solitude. Eu festejo os 5 meses que estou sozinha, levantando dia após dia, consciente de tudo, animada com a minha disposição para enfrentar as adversidades, que continuam muitas, numerosas, assombrosas. 

Mas eu sigo sem medo, sigo olhando pra frente, sem duvidar que fiz as escolhas certas e tenho feito as intervenções certas para o meu momento, para o meu ritmo de agora. 

Sei que ainda vou titubear e sentir saudades, o que entendo ser muito natural, quando, ao mesmo tempo que gostamos de alguém, compreendemos que precisamos seguir sem esse alguém, para que consigamos reencontrar a nossa própria essência, nosso amor próprio, tão importante, logo ali na esquina.

Eu não tenho muitas pretensões e tampouco expectativas sobre relacionamentos amorosos. Tenho tanto o que fazer. Tenho tantas obrigações como profissional, como professora, como irmã, como filha!

Não me permito priorizar (de novo) a vida a 2. Fiz isso nos últimos anos e não funcionou. E acredito que pode funcionar, veja bem... só não posso desejar que isso aconteça comigo agora, quando estou de novo me olhando no espelho e me reconhecendo outra vez.

Estar só, ficar só, pensar só, reconquistar minha liberdade de expressão, sem que  ninguém queira invadir a minha privacidade, a minha individualidade... é só o que eu espero daqui em diante. 

Se vou mudar? Ora, ora... não vou mudar o que já mudei... e comecei dizendo que estou com o caminhão apinhado e não há mais espaço para dúvidas, para brigas, para nada que me tire a paz. 

O meu mundo de agora tem paz, tem leveza, liberdade, tem caminhada curta até o Farol da Barra ou para mais longe, até a Igreja do Senhor do Bomfim, e quantas vezes eu sentir vontade. O meu momento é só meu e ninguém, eu disse ninguém, vai me dizer o que sentir. 

Em tempo: Soul Parfisal é a minha canção predileta, desde os anos 90. Gratidão a Renato Russo em parceria com Marisa Monte.