O dia que antecede o 12.
Eu ando muito reflexiva esses dias e isso não é o meu normal. Digo normal com cautela. Reflito sempre, mas tem muito tempo que venho seguindo no automático, fazendo tudo parecer razoavelmente dentro do que se espera para minha nova vida. Nova mesmo, porque afinal me mudei pra Salvador, em definitivo, mudei de universidade e fiz essas importantes mudanças com outras tantas bem pessoais. Tudo é novo em mim, inclusive o meu desejo pela novidade.
Quando eu penso em mudança, me lembro de muitas que já fiz: de apartamento, de cidade, de bairro, de prédio, até de um andar para o outro, dentro de um mesmo prédio. Em Portugal eu consegui a proeza de mudar de "morada", num mesmo quarteirão. Eu apenas atravessei a rua e arrastei malas de um lado pro outro. Essas mudanças são cansativas, cheiram caixas de papelão e bagunça. Cheiram também novos ares. Eu reclamo mas no fundo eu gosto, desse sentimento de renovação, que toda mudança de casa nos provoca. Estou até cogitando perder a preguiça e criar coragem para mudar de canto outra vez. Mas vou refletir mais sobre o assunto.
O dia de hoje me deixou reflexiva sobre outro tipo de mudança em mim. A mudança de perspectiva. Consegui o tão sonhado retorno para minha Bahia e para a minha cidade predileta no Brasil. Sonho alcançado. O que faço agora com o que alcancei? Qual é o novo sonho: me acomodo ou já posso sonhar outra coisa? O que a esquina logo ali me reserva? O futuro é tão previsível como o sinto agora? Não terei mais surpresas? Novos desafios?
Na nova casa de trabalho, na minha nova "firma", não me sinto desafiada. Tudo o que vivi no semestre anterior me deu essa sensação de "mais do mesmo". Na pós-graduação também desconheço o que seja novidade. Me sinto quase perto de aposentar, sem aquele frio na barriga que era tão bom de sentir quando me lançava em algo que nunca havia feito. Tudo parece calmo, no lugar. Me sinto numa zona de conforto que não me parece confortável. Não gosto desse cenário ou apenas me acostumei a ter adrenalina o tempo todo?
As crises de poder e de vaidade me desencantam desde sempre. Não almejo cargos de gestão, não quero disputar nada com ninguém. Eu simplesmente acolho o que chega pra mim e tá tudo se encaixando: conspiro junto com o universo e o universo me presenteia com novas oportunidades para crescer e marcar meu nome na história. E sei que mereço pois além de comprometida eu trabalho muito. Nunca que alguém poderá dizer sobre mim: "para ela tudo é fácil, uma sortuda". Não mesmo. Nunca foi sorte.
Eu escrevo sobre mudanças que já acolhi, mas não há em mim o medo de novas mudanças. Talvez o desejo por novos desafios, por algo que eu me apaixone. No trabalho e na vida amorosa! Quero me apaixonar.
É isso. Meu desejo é me apaixonar outra vez.
E que a nova paixão seja recíproca, sem dor, sem pudor, sem medo, sem pé no freio, sem controle, com liberdade. Quero e posso sonhar com um novo projeto a 2. Por que não? E desejo esse novo tempo sem mágoas, sem desconfianças, sem tensões, sem ranços, sem despedidas. Quero me encantar de verdade. Desejo do fundo do meu coração ter de volta os meus olhos brilhando.