26 May 2025

saudade de escrever

Parece algo óbvio. Você tem, ao seu dispor, sempre novas páginas em branco no editor de textos do computador, tem bloco de notas, tem agenda, tem inúmeras possibilidades de escrita. Você tem papel, tem caneta, tem até um blog. E por que não escreve mais? O que aconteceu nesse hiato de tempo? 

Bem, aconteceu muita coisa! Mas não é sobre o que aconteceu que quero escrever. Quero escrever sobre saudade, a saudade de escrever.

A escrita acadêmica é muito importante mas não é nem de longe agradável. Ver um texto publicado sim, é muito bom! Depois de tanto trabalho... ah, ver o que se escreve num livro, numa revista de qualidade ou num jornal... é infinitamente maravilhoso! É como se a materialidade do que se escreveu estivesse ali, guardada para sempre. 

O que se escreve, permanece. As palavras ditas voam, não retornam pra nós. Quando muito, recebemos outras palavras, e até contra o que dissemos em algum momento. Renato Russo musicou sobre isso, sobre o medo da dureza e da hostilidade da recepção sobre o que dizemos, para quem dizemos.

Mas aqui estou, escrevendo sobre escrever. Como é bom ver as palavras nascendo do meu pensamento e preenchendo vazios. Sim, quando escrevo me preencho. Me sinto munida de novos argumentos, me sinto motivada para ser melhor, ser diferente de antes do ato (de escrever). Mas não é simples, mesmo. Nem escrever ciência nem ficção. 

Escrever na primeira pessoa, então... é preciso ter coragem pra se expressar, pra se expor, e também não se importar como o que vão dizer do que você quer dizer. O problema da narrativa autobiográfica é sem dúvida essa mania perigosa que o outro tem de querer decifrar quem escreve. Não, nunca será possível descrever ninguém mesmo que o texto comece com um "eu sinto muito". Mas a gente sente tantas coisas! E sente diferente em tantos momentos, e até num mesmo momento. 

Não é legal ser vigiado, muito menos saudável ser monitorado. Eu bem sei o que é isso. Vivi isso na pele. Ainda me sinto sob vigilância. Eis o problema que me trava muitas vezes a espontaneidade de escrever. Mas vamos lá, mesmo com essa sensação incômoda que me trava, não é possível bloquear o meu desejo de ser livre. E escrever me liberta, de verdade. Deveria escrever muito mais. Deveria dedicar esse tempinho para os meus botões mais vezes. Deveria, deveria... tudo é ordem, não é? A pressão acaba por me tirar o prazer. Sentir-se pressionada por mim, principalmente.

Não, não vou escrever por pressão. Vou escrever quando tiver vontade, como o faço agora. Ouvindo música boa, com os dedos dedilhando o teclado, como se o tempo parasse ali, eu e as letras, eu e as palavras, eu e as frases, eu e os (meus) contextos, eu e minhas pequenas crônicas que nascem do nada, ou nascem quando estão com tudo pronto.

Eis um ode ao meu amor pela escrita espontânea, livre, visceral. Eu sou isso, mas sou muito mais. Sou milhões de pensamentos tordos, doídos, doidos, retos, límpidos, vorazes. Eu sou um mundo de sentimentos e de sentidos. E agora me sinto plena. Só porque expulsei de mim, 1% do que queria escrever hoje.

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