21 January 2022

toda morte precisa de luto

Elza Soares partiu aos 91 anos, de morte natural, como deveriam ser todas as mortes. A realidade aponta para outros cenários. Temos vidas ceifadas diariamente por assassinatos, suicídios, acidentes aéreos, terrestres, fluviais. Temos mortes nas favelas, por balas “perdidas” que curiosamente só encontram corpos negros,  ou por doenças que poderiam ser evitadas se a saúde pública fosse prioridade.

O legado de Elza Soares não está só na música. Está na política. Cada letra cantada por ela é um ato de resistência contra o racismo, contra o femicídio, contra todas as formas de opressão e de abusos e contra os abutres. 

Elza Soares partiu no mesmo dia que seu amor da juventude, Garrincha. Tomara que se reencontrem e possam trocar novas juras de amor. 

Eu perdi meu pai na casa dos cinquenta e não tivemos tempo de construir nossa relação. Tantas outras pessoas morrerem antes dos cinquenta na pandemia, em Minas, na Bahia, em alagamentos ou incêndios criminosos. 

É impressionante como essas abreviações de vida nos chocam e contraditoriamente conseguimos  naturalizar as mortes, que agora com o covid são apenas números, estatísticas.

1 comment:

  1. Conseguiu dizer o essencial sobre essa mulher que tanto sofreu, que nunca desistiu de lutar, e que através do canto amenizou dores e alegrou corações.

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