11 April 2022

devaneios numa segunda

Minha vida de vez em quando fica com ares de ficção. Me sinto numa novela, daquelas bem intrigantes, que ficamos aguardando os próximos capítulos. Não estou falando de relações amorosas. Esse campo eu já me queimei demais e pretendo não mais despejar aqui meus sentimentos, muitas vezes mal interpretados. Também não gosto de sentir que estou sendo vigiada, dando o direito a alguém que aqui chega acessar minhas informações e depois usá-las ao seu modo, e até contra mim.

O poder das palavras escritas... o texto falado voa, vira poeira, some depois de um tempo... mas o que está escrito torna-se perene, imortal. Mas deixo aqui uma pergunta: será que mesmo quando escrevemos com tantas certezas, não podemos mudar o rumo do que sentimos? E se mudamos as perguntas, permaneceremos com as mesmas respostas? Creio que não! Se vivo estamos, somos autores das nossas trajetórias, portanto somos livres para interferir nos nossos destinos.

Esses últimos dias têm sido longos. Tenho demorado nas reflexões sobre as mudanças que tanto almejo ver concretizadas em mim, à minha volta. Me sentir numa corda bamba sempre me pareceu assustador, mas é assim que me vejo faz tempo, desde que passei no concurso da UFAL e mudei de cidade e de estado. 

Nesses 11 anos completos na UFAL não posso me queixar de maresia nem da mesmice! Eu mudei de endereço muitas vezes, incluindo um ano afastada morando em Portugal e, mais recentemente, quase dois anos e meio residindo em Salvador, por força da pandemia.

De 2011 pra cá só em Maceió tive sete mudanças físicas, indo e voltando para um mesmo apartamento duas vezes, e num mesmo prédio, em dois apartamentos distintos. Imagina só.. a mudança foi interna, escada abaixo... 

Muita coisa me aconteceu. Muitas águas rolaram. Muitas luas, muitas marés baixas, muitas tempestades. Da conquista do doutorado à perda de duas amigas-imãs... não é possível desconsiderar como Maceió, para além da UFAL, me marcou profundamente. Não posso ser ingrata e não consigo banalizar tudo o que vivi, dos momentos lindos aos mais tristes e devastadores. 

2018 e 2019 foram os anos mais duros, em que mais trabalhei e mais chorei, estando longe de casa. Perder Ana, num ano surreal de outras perdas (um primo, dois tios, uma tia e a filha de uma amiga), além da descoberta do câncer em Telminha e da sua partida em seguida... são marcas de um tempo impossível de esquecer e tudo reflete na minha relação com Maceió e da necessidade de resgatar minha história com a minha Bahia, sonho que foi sendo materializado a partir de mim e pelo universo, alheio aos meus quereres.

Inusitadamente a pandemia do novo coronavírus, além de marcar a humanidade, quanto à sua impotência e incapacidade de cuidar da saúde pública, permitiu que esse reencontro com a minha Bahia acontecesse e durasse tanto tempo... pude me reconectar a essa cidade com cheiro de dendê, igrejas, ladeiras e esquinas tão perfeitas.

Em Salvador pude me deliciar na companhia da minha mãe e família, me reaproximar da minhas minhas amizades mais antigas e também pude conhecer de verdade o que é o amor para além das aparências.

Retorno para Maceió com o coração aquecido, já com saudade de morar na cidade que me entende como ser humano. Mas retorno, sobretudo, com o respeito necessário a todas as experiências vividas. Ainda não evolui a ponto de esquecer as dores e também não sei como o futuro vai tornar o meu viver mais realístico que uma novela das nove. 

Eu não estou em busca do fim ou do final feliz. No meio do caminhar tem de tudo e tudo o que vivenciei até aqui me fez feliz e também me fez mais humana, com os altos e os baixos, com minhas fragilidades e imperfeições que vão se revelando na medida em que tento acertar. 

Quero continuar acreditando que tem muita coisa boa pra me acontecer, muito o que resistir, muitos sonhos a realizar e muitas chuvas pra florir em boa companhia, com saúde física e mental, com areia nos pés, sorriso nos lábios e olhos marejados por tudo de bom que vivi e pelo que ainda vou viver.

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