31 March 2022

reencontros fictícios

Eu disse por aí que estava chorando bem menos pela sua perda. Disse também que já estava aceitando a sua partida. Tudo o que digo é pra mim mesma. Defesa, vontade de ficar melhor sem você nesse mundo que me parece tão mais frio.

Assisti uma nova temporada de uma série australiana chamada 5 bedrooms (cinco quartos). Narra o cotidiano de 5 pessoas que decidem morar juntas como solução para seus conflitos pessoais e problemas financeiros.

A série é ótima! Você iria adorar assisti-la! Aborda muitas questões sobre o desafio da convivência entre pessoas que não têm o mesmo sangue e aprendem juntas sobre empatia, a se relacionarem, se perdoarem, a fazerem concessões, quererem sempre o bem do outro. Um coletivo de gente esquisita, cheia de altos e baixos, que acabam construindo uma forte história de amizade com amor, respeito e lealdade. Lembrei de nós o tempo todo.

Eu nem preciso dizer que chorei muito e ri muito, em momentos diversos, até ao mesmo tempo. Eu me vi entre eles. Eu te vi, Ana. Vi nós duas ali, conversando, rindo, discordando, filosofando, fazendo as pazes.

Senti mais saudade quando a série terminou. E, imagine... se passou num aeroporto a cena final. Me lembrei de tantas e tantas viagens e vezes que nos despedimos ou nos reencontramos nos aeroportos da vida. De como foi bom contar com sua presença para planejar e viver toda a minha experiência em Portugal, em 2014. Da alegria que era poder dividir as novidades, conquistas, angústias, sempre às segundas-feiras.

E creio que sentiu parecido, quando foi para o pós-doc em 2017. Combinávamos nosso momento semanal e dava sempre certo. Ninguém nos atrapalhava na madrugada, em nossos diálogos intermináveis e cheios de conclusões lúcidas, precipitadas ou equivocadas. Eu dizia sempre que você precisava aceitar a diferença de fuso e dormir mais. Mas você, na sua amada França, continuou no Brasil por um ano inteirinho. 

Queria te dizer de novo que ter você na minha vida foi uma benção divina. E que bom que conto com a ficção e tantas séries que tematizam a importância da amizade... e é uma escolha que faço, talvez pra tentar te reencontrar. 

Especialmente hoje gostaria muito de te ouvir. Queria muito que me dissesse o que fazer, amanhã. Queria muito te dizer o que estou sentindo. E falar em voz alta, te procurar nos filmes e séries... nossa... é muita busca por você, minha amiga-irmã.

Não é o caso de minhas irmãs e demais amigas sentirem ciúmes. Nossa relação foi mesmo especial e todas concordam com isso e me perdoam por esse amor que derramo entre letras e lágrimas. 

Muitas vezes fico me perguntando se, ao invés de ficar nessa lamúria, que reafirmo, é espontânea, eu não deveria valorizar muito mais as amigas que estão vivas. Eu juro que faço esse exercício de fortalecer os meus vínculos, cotidianamente. E sempre peço a Deus pra proteger cada uma, para que suas vidas esbanjem saúde e alegria. 

É importante também que você saiba, ciumentinha como era, que ninguém questiona a minha dor e de certo porque entendem o quanto amava conviver contigo, presente, falante e insuportavelmente reclamona. 

Eu sei que você deve estar achando um absurdo eu continuar te escrevendo cartas, já que não tem como me responder. De todo modo eu vou insistir. Realmente creio que está viva na planta que me deu, cada dia mais linda e viçosa. Está viva nas memórias que faço questão de validar na escrita. Está viva entre nossos amigos comuns. Entre as sororitas. Está viva em cada relação de amizade que admiro ou me lembram da nossa. Saudade demais. Apareça quando puder, nos meus sonhos. 


No comments:

Post a Comment