6 March 2022

"o avesso da pele" me arrancou lágrimas

 No final de dezembro de 2021...

- vou ao shopping e lá vou na livraria

- ah... você pode ver se tem um livro lá?

- sim... mande o nome!

Enviei a capa!

E foi assim que ganhei, em 15 de janeiro de 2022, o primeiro livro do ano: O avesso da pele, de Jefferson Tenório

Na dedicatória, quem me presenteou escreveu que "a identidade é para o sujeito o seu bem mais precioso". E diante de tantas outras coisas lindas e de uma declaração ao final, me agradeceu por eu ter feito ele desejar me dar esse livro.

É importante começar com esse preâmbulo porque toda nova leitura nasce de um contexto e do que desejamos conhecer a partir dela. Eu sou eternamente grata pelo presente e por ter conseguido ler o livro no meu tempo, sem pressa, mas com urgência. Essa é uma máxima que carrego para tudo o que vivo. Sem pressa, mas com urgência, para viver com intensidade e com emoção tudo o que me proponho a viver. 

Eu não fiquei empolgada com os primeiros capítulos. Deixei o livro de lado mas voltava nele, quase que o desafiando a me fisgar. Eu, leitora, sou exigente. As palavras precisam me fisgar. O enredo, a narrativa, o diálogo que se estabelece entre quem lê e quem escreve precisa ser visceral, como deveria ser visceral tudo o que nos afeta.

Como disse, demorei a finalizar as 188 páginas. Uma ou outra parte me fisgava e depois eu me distanciava de novo. Pelos compromissos, pela cabeça cheia de outras questões para dar atenção, pela liberdade de poder voltar quando quisesse. 

O avesso da pele não trata apenas da história de vida inventada pelo autor. É sobre a vida na sociedade racista que é o nosso país. É sobre sentir-se de fora, deslocado, inseguro em um lugar majoritariamente ocupado por brancos e brancos que se julgam donos desse lugar.

Ao trazer memórias da infância, da adolescência e da vida adulta, mesclando falas do pai, da mãe e de si mesmo, a história nos convida a olhar para as nossas relações familiares e também para as relações construídas fora da família.

Minha cumplicidade com o livro nasceu com dois temas: da educação e da morte. Eu, professora, que perdi meu pai aos 12 e depois dele vivenciei perdas de minha avó, tios, tias e amigas... precisei limpar as vistas para continuar lendo e sofrendo junto.

Eu chorei tanto que resolvi escrever. Não consigo guardar isso aqui dentro. A saudade dos meus e a indignação com as mortes de tantos homens negros, mulheres negras e crianças negras me fazem querer continuar pesquisando, intervindo para criar as condições políticas, sociais e pedagógicas para uma educação antirracista nas escolas e nas universidades.

Finalizo com uma mesma conclusão do autor, ao final da sua obra: "ninguém me pediu pra vir aqui, mas eu precisava". 



No comments:

Post a Comment