16 March 2015

um dos meus pais

Eu não me canso de repetir isso. É que ele nos deixou cedo demais. Eu tinha 12. Ele tinha 18. Em meio à nossa vida toda bagunçada, com a ausência do nosso velho, foi ele quem tomou a frente da difícil tarefa de continuar provendo tudo em casa: do pão ao leite, da verba para pagar as despesas às nossas fardas. Estávamos todos muito bem acostumados a confiar no talento do nosso querido homem da casa, para gerar renda e alegrias em volta da mesa. O mundo despencou sobre nossas vidas. Minha mãe perdeu o marido, nós perdemos o nosso pai, o mundo perdeu um ser humano especial. E assim seguimos nós. A mulherada toda de Seu Waldemar, incluindo a nossa vó Maria [que morava conosco], sob uma "nova direção". O meu mano Val, que amanhã completa 50 anos, teve que distanciar-se da escola e se entregou de corpo e alma ao mundo rural. A sorte é que ele amava cavalos. A nossa sorte é que ele realmente amava tudo o que nos foi herdado. Junto com meu Tio Di, deram continuidade ao trabalho que meu pai iniciou. De pai pra filho. Meu mano aniversariante sustentou bem a nova missão. Cuidou da gente e dos manos mais novos com todo o amor e responsabilidade que tinha, tão jovem.
E ele cresceu e se apaixonou pela Vaquejada, depois por sua amada e única namorada. Com ela se casou, teve três filhos lindos. Das coisas que me lembro, do passado, não me vem à mente nada que não seja uma linda convivência familiar. O meu pai, bom em matemática, foi muito esperto: preparou os três filhos para serem unidos e apaixonados por terra, gado, cerveja e futebol. Mais que isso, preparou os três para se tornarem nossos pais. Cada um ao seu modo, eles realmente continuam cumprindo essa função da paternidade. Nossa mãe é a filha mais querida. Babam por ela.
Eu amaria ter uma varinha mágica, meu mano cinquentão, para chegar até você, não através de palavras. Queria só te abraçar e te agradecer por ter conseguido o feito de cuidar da gente, como o nosso pai teria feito. Queria te dizer, também, que eu te amo muito e que você precisa viver para sempre. Com esse seu jeito despachado, briguento e divertido. Com esse olhar durão e com esse coração mole. Parabéns, Leu. Continua a tocar sua boiada e sua terra e sua madeira. O dia melhor é sempre o que está por vir. Estaremos te esperando sempre, em volta da mesa, com um bobó ou uma lasanha ou um bacalhau com o vatapá, ou aquela bela feijoada que você adora. Queria cantar parabéns, te dar um abraço e dizer que sou sua filha, sim, e com muito orgulho.

1 comment:

  1. Me emocionei, Ju. E perdi meu pai em 2004, mas ainda dói. E vai doer sempre, não tem jeito. bjs

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