18 June 2024

"o correr da vida embrulha tudo"

Tive a sorte de assistir Grande Sertão, no telão do cinema. Trata-se de um filme brasileiro, maravilhoso, lançado agora em junho, baseado na obra de Guimarães Rosa, Grande Sertão Veredas. O filme aparentemente é estranho, hostil aos nossos olhos e ouvidos, mas fala de coragem, das muitas linguagens e facetas do amor, e trata também das relações humanas, das desigualdades sociais, de gênero e da luta pela sobrevivência. Com atuações maravilhosas, Grande Sertão só prova o quanto o Brasil tem um bom time da sétima arte, de atores, atrizes, e demais profissionais de roteiro, de maquiagem, de cenografia e direção.

Eu não sou só uma fã do cinema. Sou muito apaixonada. Isso faz de mim uma espécie de "guardiã" das boas produções. E as minhas críticas, claro, são amadoras, de uma cinéfila que quer ver sempre muita qualidade no que assiste. Se choro, se me arrepio, se consigo rir... certeza de que a obra vale muito a pena ser assistida de novo. É o que espero de todo bom filme. Rever e descobrir mais detalhes, me apaixonar de novo pelas cenas fictícias que me pareceram tão reais e perfeitas.

Começo fazendo alusão à poesia de Guimarães Rosa, porque é disso que se trata. Ando morna. Um sobe e desce de emoções que me deixam meio apática, meio desacreditada e em outros momentos, com muita coragem pra enfrentar o que vem a seguir. Eu tenho metas de trabalho que me garantem manter o foco, mas o que acontece nos bastidores da minha vida me deixam estagnada, sem saber muito como me mover em direção aos meus objetivos. Claro que essa sensação de letargia perdura pouco, pois não tenho escolha a não ser seguir, encarar o que tem de ser encarado, mesmo sem muita emoção. 

O filme Grande Sertão me "embrulhou" o estômago. Deu um nó em minhas certezas. Me expulsou da minha zona de conforto. Me desestabilizou. Por isso não tenho dúvidas de que é um bom filme. Deve ter mexido com mais gentes. E concluo que a vida não pode mesmo ser morna. Tem que esquentar mesmo, tem que nos dar o calor devido, nos aquecer e de algum modo, nos fazer encontrar o nosso equilíbrio. 

Eu queria acelerar o tempo e sair dessa minha "fase-limbo". Queria ver o que vai acontecer dali em diante. Seria importante agora ter um portal, pra me fazer sair de onde estou e conferir onde vou estar no futuro. Permanecer no presente incomoda como as cenas mais grotescas do filme. Voltar ao passado me dá náuseas. Quero acreditar que logo vou chegar em águas mansas e curtir o som do mar sem o burburinho do asfalto. Quero ver o sol deitar no mar, como lindamente musicou Vander Lee. E quero ver esse por do sol com um sorriso nos lábios e feliz por contemplar o horizonte sem sombras e sem as nuvens de ontem.



3 comments:

  1. Um presente morno incomoda e a ânsia pelo futuro pode ser perigosa, pq a vida vai escorrendo pelos dedos e a gente nem percebe.
    Quero ver esse filme.

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  2. Patrícia Muniz18 June 2024 at 10:39

    Esqueci de assinar o comentário acima

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  3. Excelente texto Juba, como sempre! Também vi o filme e adorei! E como bem registrou Guimarães Rosa, "O correr da vida embrulha tudo,
    a vida é assim: esquenta e esfria,
    aperta e daí afrouxa
    sossega e depois desinquieta
    O que ela quer da gente é coragem". Vai dar tudo certo!🤗

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